ver o gato da casa deitado na pia, como se fosse uma cestinha de porcelana, olhando com aquele olhar de gato
, misterioso de séculos
, atento
Levantei a tampa da privada e gargalhava enquanto mijava.
(Pontos interessantes de um artigo da Scientific American americana [The truth and the hype of hypnosis, Nash M.R., 2001] que eu acabei de fazer para a eterna e recorrente disciplina de Psicofisiologia. Desta vez eu vou!)
Quando o público fala de hipnose, a imagem que vem a mente, além dos clássicos relógios de bolso, é de uma pessoa que entra em um estado sonolento e cumpre todas as ordens do hipnotizador, fazendo ridículo como imitar um pato ou mesmo, dizem, demonstrando força e resistência e outros afins que não demonstraria em seu estado "normal". E, depois do estalar de dedos do hipnotizador, acorda e não se lembra de nada. "Perdeu o controle de si mesma" por alguns instantes.
A hipnose real é algo mais simples e mais fantástico que isto. Simples, no sentido que a pessoa não perde o controle de si mesma; e fantástico, pois a hipnose pode servir para propósitos mais interessantes que imitar um pato, como aliviar a sensação de dor, por exemplo.
É verdade que existem pessoas que são mais suscetíveis que outras de serem hipnotizadas, e existe uma escala para medir esta suscetibilidade. Esta suscetibilidade permanece constante durante toda a vida, e pode ter componentes hereditários. Ela também independe da pessoa do hipnotizador e da motivação do sujeito para entrar em hipnose ou não: pessoas suscetíveis entrarão em hipnose de várias formas possíveis, enquanto que os menos suscetíveis, por mais motivados que estejam, podem não ser hipnotizados.
Também não existe correlação entre certos traços de personalidade e suscetibilidade à hipnose, a não ser com a habilidade do sujeito de se absorver em atividades como ler, escutar música ou sonhar acordado.
Pessoas em hipnose não fazem tudo que lhes é dito: elas costumam aderir aos mesmos padrões morais de quando estão acordadas. Apesar disso, porém, elas não tomam parte ativa nas coisas que acontecem durante o episódio de hipnose, mas relatam que as coisas acontecem "por acontecer" (o braço simplesmente ficou mais pesado, meus olhos se fecharam sem eu decidir, etc.) Os sujeitos também podem dizer não e terminar a hipnose quando quiserem.
A hipnose também não se trata de imaginação vívida: pesquisas de PET scan demonstram que as áreas cerebrais envolvidas nas vivências alucinatórias hipnóticas são as mesmas ativadas quando se trata de uma vivência real, e diferentes daquelas ativadas durante imaginação ativa.
Quanto à questão da dor: a sugestão hipnótica pode aliviar sensações dolorosas, mas este alívio não se trata nem de placebo nem de relaxamento, como é pensado por alguns. Em um experimento verificou-se que em pessoas pouco suscetíveis a hipnose era tão eficiente quanto o placebo em diminuir a dor, mas pessoas muito suscetíveis beneficiaram-se três vezes mais da hipnose que do placebo. Pessoas hipnotizadas em atividades sem relaxamento (como pedalar uma bicicleta imaginária) são tão responsivas às sugestões que em um ambiente tranquilo. Hipnose não está diretamente relacionada com relaxamento ou sono.
Hipnose também não é fingimento; respostas fisiológicas demonstram que os sujeitos não estão mentindo.
Outro mito é de que durante hipnose as pessoas podem se lembrar com mais detalhes, ou podem se lembrar de coisas de um passado distante. O que se sabe que acontece é que pessoas em estado hipnótico podem se confundir entre memórias reais e imaginárias. Quando sugestionados a se remeteram à infância remota, os sujeitos em hipnose costumam se comportar de uma maneira aproximadamente infantil, mas pesquisas apontam que este comportamento não é autenticamente infantil, em termos de fala, comportamento, emoção, percepção ou padrões de pensamento. Não são mais infantis que adultos imitando (acting-out) crianças.
A Teoria das Personas Enológicas foi proposta inicialmente por um grupo latino-americano de pesquisas psicanalíticas, com ampla base de dados neurológicos e psicofarmacológicos. Ela propõe que o conjunto de fatores organolépticos, inclusos também os fatores ambientais (terroir, aclimatação, safra, acondicionamento, manuseio, prováveis fungos), em interação com um substrato neurológico específico (como o seu, leitor), resulta em um fenômeno psicológico denominado de "embriagez persona-motivada", cuja descrição é feita então em bases psicanalíticas, com especial ênfase na "clínica do real" lacaniana.
Os vinhos bons têm personalidade. Alguém já percebeu?
Para tornar mais clara a explanação, remeto a uma outra coisa engraçada, que me acontece com frequência. É a difusão de sentimentos, nada mais do que, ao estar com pessoas alegres, a probabilidade de seu humor melhorar é muito grande, mesmo sem nenhuma razão aparente.
(Tem gente que chama isso de vibe, imagina...)
Algumas vezes esta difusão assume um caráter tão proeminente, que chega a estranhar. Falando em termos mais... poéticos, sou "tomado" pelo que "os outros" estão sentindo, um tanto quanto não-intencionalmente, em várias gradações.
Muitas vezes, quando tomo vinhos bons, sinto que sou "tomado" por ele também. E o que eles me trazem costuma ser consistente, com base na minha pouca-a-média experiência de degustação, de acordo com o tipo de uva, lugar, blábláblá.
Most amusing thought, most amazing thing.
Ontem foi o Santa Helena, borgoña de 2003. Speedy & rushy; vontade de mover montanhas para ir atrás do que eu quero. Meia garrafa.