sexta-feira, 29 de abril de 2005

Catulo

Não é à toa que, falando de impotências e coisas que não sobem, me lembro do meu tesudo Catulo, em mais um dos poemas, este à Ipsitila...

XXXII. ad Ipsicillam

AMABO, mea dulcis Ipsitilla,
meae deliciae, mei lepores,
iube ad te ueniam meridiatum.
et si iusseris, illud adiuuato,
ne quis liminis obseret tabellam,
neu tibi lubeat foras abire,
sed domi maneas paresque nobis
nouem continuas fututiones.
uerum si quid ages, statim iubeto:
nam pransus iaceo et satur supinus
pertundo tunicamque palliumque.

"(....) agora, deitado, depois de um bom almoço,
começo a perfurar minha túnica e meu manto."

Les herbes chinoises

Rolam histórias apócrifas, ditas em baixo-tom e discretamente, sobre ervas chinesas anônimas que nos fazem levitar e porejar prazer por todos os poros. Oh, céus...

*****

Estou me sentindo como um homem com impotência: não consigo escrever nada que preste. Tentei ontem uma poesia que envolvia vitrais góticos e a luz coralina pela/para a lua, mas saiu uma merda tão grande, que antes mesmo que eu pensasse "ay, estoy fodido", apaguei num átimo, não sem um suspiro.

E não há viagra nem levitra que resolva. Nem bomba de vácuo, nem anel peniano, nada, nada disso.

(E se tivesse seria demais pro meu orgulho, não é mesmo, minha gente?)

Acho que, depois deste poste em que humildemente exponho os meus problemas de escrita com mais escrita ruim, mereço entrar para o rol antigo de escritores amadores temporariamente falidos. Ao menos ainda me considero um escritor.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Electroclash

Dói, novamente, andar de moto neste frio cortante.

Para uma alma ascética não-confessa, contudo, isto chega a ser um gozo único.

*****

Tenho pensado bastante nos meus amigos, ultimamente. Também tenho conhecido uma pá de pessoas diferentes, por iniciativa própria. Os dois fatos estão relacionados. Estou conhecendo pessoas em ocasiões com controle da situação; quase como um contexto fechado, experimental. E são sempre encontros únicos, em TODOS os sentidos que a palavra pode assumir. Únicos de vivências, de possibilidades, e de ocorrência.

Daí então me quedo sem vontade de ter de me "explicar"/mostrar novamente para pessoas que mal acabaram de me conhecer, e cuja continuidade é tão fugaz. Conhecer & gostar é confuso e demorado, nada experimental. No final das contas sempre me vejo feliz a visitar os meus amigos, que me conhecem até melhor do que eu mesmo, algumas vezes.

Pra quê eu tenho de me mostrar? Não sei, acho que tenho pressa.

*****

Electroclash é uma delícia. Na onda do Party Monster, que assisti e gostei, desci no Kazaa e baixei umas trocentas coisas, entre Ladytron, Felix Da Housecat, Vitalic e Miss Kittin.

Ay meu Yamaha!

Uma delas até tem arranhãozinho de vinil.

Em outra onda, escuto La Llorona, que escutei no Frida. E ontem vi o Vol. 2 do Kill Bill e gostei. Tarantino é demais, não tenho comentários.

sábado, 23 de abril de 2005

Covardia

Conheci, esta quarta-feira passada, a concubina de uma amiga minha. Concubina entre aspas, certo; está morando com ela. É alta, morena, tem a pele do rosto e do pescoço suave como pêssego, e parece um menino para quem olha de primeira. Bermudão, corrente no pescoço, cabelo curto; um tesão.

Ora, as duas saem da Concorde, atravessam a rua pra pegar um táxi, e se postam na esquina. Neste momento vem um carro rápido, e tudo muito rápido, esta guria recebe uma pancada de um bastão, algo assim, do pessoal de dentro do carro. Braço esquerdo, parte das costas; ela cai na hora, e minha amiga só pensa em socorrê-la. Ninguém anotou a placa, ninguém sabe, e ninguém vai saber, a não ser estes covardes.

Este alguém é filho? É pai? É irmão? Este alguém chegou em casa e dormiu um sono bom?

Se fosse alguém mais baixo e menos forte, uma pancada desta na nuca arrombaria, decerto. Estou chocado, e não sei o que dizer, principalmente depois da minha noite de ontem.

Maldita cidade provinciana, e malditos os seus filhinhos de papai.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Pessach

Aye, sacrobosco!

Depois de ver, em Frida, tequila saindo de torneiras, tequila sendo usada como panacéia, tequila sendo pronunciada com sotaque mexicano e americano... encontrar uma garrafa de Jose Cuervo amarela na adega paterna é prenúncio de dias melhores.

Diz-se que tequila & cerveja é "o paraíso, a felicidade pelo resto da noite". Eu digo que circunscrever esta felicidade para e pela a noite é arbitrário. No final das contas eu duvido, por não ter provado desta felicidade; duvido e dum spiro spero aquele que me desduvidará.

Eu somente na vodka, que me manteve leve e sublime e radiante para presenciar a puta canalhice de uma falta de profissionalismo de um tal "dj" Mau Mau, que iria se apresentar na Concorde esta quarta. Bem, confesso que foi divertido, de qualquer forma;

ao menos não tenho que sair para a balada com o agradável pensamento de que os "homens da bomba" podem vir a se apresentar em uma danceteria de Tel Aviv. A festa do Pessach começa, para minhas amigas israelenses, no final deste shabat; a fuga dos hebreus do Egito, uma pá de tempo atrás. Chag Pessach Sameach!

Feriaduuu... comemore!

Feriados são ocasiões interessantes para duas coisas: botar todas as coisas em ordem, ou desdenhar a ordem e trazer mais caos, a ser encarado com mal-estar na segunda feira.

Diz-se que a segunda-feira é pior dia da semana; discordo. Afirmo que o momento mais trash de toda a semana é o domingo, principalmente à noite. Nada melhor, então, do que uma boa caminhada de madrugada, com a recém-chegada concessão de um pouco de frio nestas terras meridionais.

Ganhei duas botellas de meu pai. Duas santas, Helena e Carolina. Duas santas no armário. Ah, este frio promete!

Luciano, que é que tu vais fazer com a tua beleza?

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Abril

Enquanto caminhava na madrugada, escutando vozes inexistentes e vendo vultos humanos feitos de recortes de sombras míopes, tomei uma decisão muito interessante e gostosa.

Começa a esfriar; mais dias de aclimatação, mais dias de frentes frias e vento sul, e mais dias de céus azuis anil. Abril, além de ser a época gloriosa em que eu saí, capixaba, de dentro do útero da minha mãe, é a mais linda parte do ano. A mais fértil em encontros, em conversa de pé de ouvido, de pé de mesa, ao pé da serra. Em dois meses veremos nevar em Urubici; glória e hosana.

Até lá decidi que lerei Italo Calvino, Jorge Luis Borges e Graciliano Ramos.

Em escala menor, quero o que resta do Neruda e da madame Hilst.

Também revisitarei a receita de frigideirada de castanha de caju verde em Tieta.

sábado, 16 de abril de 2005

TPE

A Teoria das Personas Enológicas foi proposta inicialmente por um grupo latino-americano de pesquisas psicanalíticas, com ampla base de dados neurológicos e psicofarmacológicos. Ela propõe que o conjunto de fatores organolépticos, inclusos também os fatores ambientais (terroir, aclimatação, safra, acondicionamento, manuseio, prováveis fungos), em interação com um substrato neurológico específico (como o seu, leitor), resulta em um fenômeno psicológico denominado de "embriagez persona-motivada", cuja descrição é feita então em bases psicanalíticas, com especial ênfase na "clínica do real" lacaniana.


Os vinhos bons têm personalidade. Alguém já percebeu?

Para tornar mais clara a explanação, remeto a uma outra coisa engraçada, que me acontece com frequência. É a difusão de sentimentos, nada mais do que, ao estar com pessoas alegres, a probabilidade de seu humor melhorar é muito grande, mesmo sem nenhuma razão aparente.

(Tem gente que chama isso de vibe, imagina...)

Algumas vezes esta difusão assume um caráter tão proeminente, que chega a estranhar. Falando em termos mais... poéticos, sou "tomado" pelo que "os outros" estão sentindo, um tanto quanto não-intencionalmente, em várias gradações.

Muitas vezes, quando tomo vinhos bons, sinto que sou "tomado" por ele também. E o que eles me trazem costuma ser consistente, com base na minha pouca-a-média experiência de degustação, de acordo com o tipo de uva, lugar, blábláblá.

Most amusing thought, most amazing thing.

Ontem foi o Santa Helena, borgoña de 2003. Speedy & rushy; vontade de mover montanhas para ir atrás do que eu quero. Meia garrafa.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

shabat



Judeus ortodoxos impedindo a passagem do ônibus em Ierushalaim. Era shabat, o motorista não devia trabalhar...

Amenidades

Ontem eu tive o meu primeiro "reflexo" de vômito na terapia. Isso quer dizer que, vchorando e soluçando e expirando com força, uma hora me deu vontade de vomitar, mas vomitar nada, que eu não tinha coisa alguma que vomitar.

Tá, tá, eu sei que não é uma coisa assim... linda de se colocar aqui na net, mas me impressionou de tal maneira, que não posso deixar os meus ávidos leitores sem este detalhe crucial.

Aliás, um dia eu ainda gostaria de me ver do exterior em três situações: num orgasmo, tomando banho e tendo estes turbilhões emocionais terapêuticos. São muito expressivos, creio eu.

Eu tenho, pessoalmente, um péssimo hábito que não vai me ajudar muito, no futuro. Tenho o hábito de achar que as pessoas não são totalmente sinceras no que dizem sobre o que fazem, e só me convenço de que certo tipos de coisas realmente acontecem quando eu passo por uma coisa destas.

Um exemplo? Até hoje eu não me convenci que as pessoas têm alucinações vívidas (como o caso Scottiano da mulher-que-via-a-cobra, e andava armada pra se protejer dela. E a a cobra ia com ela no carro, etc.) Intelectualmente eu "sei" que é verdade; mas não tenho convicção. Justamente pelo fato de que eu nunca tive uma.

O meu grau de empatia chega a ser nulo, algumas vezes (e não é quando eu estou com fome).

sexta-feira, 8 de abril de 2005

Tilo?

Não contei da história de Tila, a magérrima gata de uma noite de domingo? Então, Tila havia desaparecido, quando cheguei em casa. Esta era a história de 47 minutos de escrita (incluídas algumas considerações sobre a vida, em geral), que se perdeu com uma péssima conexão.

Tudo bem; a vida passa, Tila passa, e desejei de coração que alguém tenha pegado ela, e esteja cuidando com muito carinho.

Porém estas coisas sempre vêm em pares. Dois dias depois, um casal de pequenos gatinhos apareceu, muito casualmente, no nosso prédio. Passaram a tarde inteira miando, brincando e correndo pra lá e pra cá. Achei engraçado estes gatos todos ao meu redor.

Quando cheguei de noite, desci pra comer uma coisinha gostosa. Voltei e lá estavam eles; um branco no peito, todo rajado de escuro nas costas, e um outro cinza, um pouco rajado de um cinza mais escuro, com grandes olhos azuis, pupilas imensas, assustado. Minha irmã apareceu na janela, eu peguei o gatinho, levantei como um rebento perdido e gritei:
"Olha, Mari, que coisinha mais linda!" (sim, exatamente com aquele tom quase tatibitati...)

Mas não, não, não podia ficar com aquele gato! Oh, D'us! Oh!

Subi e comi. Não gatos. Não.

Foi então que, mais tarde, relaxado no sofá, minha irmã desce pra comer uma coisinha gostosa. E ela demora pra subir. Quando eu olho pela janela, está ela com um guri que me pareceu interessante. Desci.

Não gatos. Não podíamos ficar com eles. Que é que mamãe dirá? Oh!

O guri levou os gatos para casa, então. Nos olhos de minha irmã, porém, pude ver uma breve chama do instinto maternal, que leva dezenas de milhares de jovens de 18 anos a ter bichinhos, tamagotchis ou namorados.

Para encurtar, o cinzinha de olhos azuis (a coisinha mais linda) veio para nossa casa, dois dias depois. In memoriam ao primeiro gato, demos o nome de Domitila, vulgo Tila. Olhamos bem, não tinha bolinhas, então era uma menina.

Só anteontem, porém, minha irmã olhou melhor do que todo mundo e gritou da sala, "é um machinho!", o que a veterinária confirmou ontem.

Pessoalmente, sei que ele não sabe de quase nada do que falamos, mesmo, o que tanto faz ou fez chamar de Tila, Tilo, Bradoque, Silvety Montilla; importa pra esses humanos antropomorfizantes. O que muda, porém, é que teremos um macho preguiçoso, e não mais uma fêmea caçadora.

quinta-feira, 7 de abril de 2005

Challah Coffee

Ana Carlota, minha nova amiga orkústica, mora em Tel Aviv. Além de ser bela, escrever gostosamente e (provável) inspirar amores selvagens por onde passa, ela usa palavras como "carinho" ao se referir a Ierushalaim, um cantinho do mundo que eu também gosto tanto, embora não conheça.

Me abstive de colocar fotos da própria Ana Cê, com receio de ver a minha caixa postal entupida de marmanjos querendo conhecê-la.



Este aqui é o tal Challah Café, "um dos lugares mais gostosos para tomar café em Ierushalaim. Sempre que posso, paro aí quando saio da Universidade..."

terça-feira, 5 de abril de 2005

Achados e perdidos

Tem coisas que eu mereço não merecer, como isto aqui.

Tão pequena, tão estudiosa, tão simples! Quer somente a Bíblia, arrozfeijãoovo & batata-frita, nada mais... ao menos tem bom gosto, o que prova a sua finesse divina, ao escolher um esporte.

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Ultimamente eu tenho sonhado em cima da moto... tem sido dias um tanto frios e oníricos, aqui em Floripa. Movimentos autônomos, fluidez, fluidez, fluidez...

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O Papa morreu, sem muitos pensamentos da minha parte. Falei pra minha mãe que já estava na hora, o que ela misinterpretou como um desgosto meu com ele. Quisera eu ter desgostos com o Papa! Seria bom passar uns meses em Roma.
Devo dizer que as aparições dele dias antes da morte, principalmente aquela em que ele se contorceu todo, me moveram. Vá com Deus, Karol.

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Domingo, estudando para a prova de segunda, leio o que umas outras pessoas escreveram sobre o Rogers.

A psicologia humanista se opõe ao que considera como o triste pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalítica do ser humano, por um lado, e à concepção de robô do ser humano retratada no comportamentalismo, por outro. A psicologia humanista é mais esperançosa e otimista em relação ao ser humano. Ela acredita que a pessoa, qualquer pessoa, contém dentro de si o potencial para um desenvolvimento sadio e criativo.

Não sei se foram os três "ser humano", ou os adjetivos, ou o meu estado de espírito; o parágrafo acima é um daqueles que, sendo típicos, todo e qualquer estudante de psicologia passa os olhos, já "sabendo" do que se trata, com tédio.

Só que eu li isto e, na última frase, um sentimento enooooorme, profuuundo e crystallino "apareceu" rapidamente; ao me dar conta dele, ele já foi. Não tenho palavras quaisquer para este sentimento. Só sei que tudo isto escrito me pareceu bem claro e óbvio. Não classificaria como uma experiência mística.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

Coisas incríveis

... coisa incrível é ver o que escreveste com dedicação de 47 minutos ir pro ralo, por causa de uma confiança boba na conexão e problemas de rede.

Esperem os próximos postes.