segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

com a permissão do autor

Meu querido Luciano postou este aqui ("fantástico, horroroso..."). Boa.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

epokhê

Os gregos sempre têm nome pra tudo. Sempre. Eles são um saco. E se não tiveram 2500 anos atrás, tem sempre alguém que faz o favorzinho de traduzir termos atuais pro grego clássico (perdi o linque; é uma coisa assim preciosa).

Mas esta palavrinha aqui foi um achado. Descobri-a lendo sobre a fenomenologia, coisa básica de dicionário online de filosofia; uma atitude dos antigos céticos que Husserl retomou e os outros fenomenologistas não gostam muito dela. Eu a encontrei e bang! bang! voilà autour de moi.

epokhê, com o significado de "cessação, retenção, o ponto em que uma estrela pára depois de atingir o zênite, (filos.) suspensão do julgamento".
Mas talvez esta outra definição, a do texto de fenomeblábláblá, seja mais atraente;

Praticamos fenomenologia, propôs Husserl, "colocando em parênteses" (bracketing) a questão da existência do mundo natural ao nosso redor. Desta maneira, nós colocamos nossa atenção, em reflexão, na estrutura de nossa própria experiência consciente. O primeiro resultado é a observação de que cada ato de consciência é consciência de algo, isto é, intencional, ou dirigida à algo. Consideremos a minha experiência visual quando eu vejo uma árvore no meio da praça. Na reflexão fenomenológica não precisamos nos preocupar se a árvore existe; minha experiência é de uma árvore, exista esta árvore ou não. Precisamos, contudo, nos preocupar com o como o objeto é significado [...].

Oquei, oquei, o que isto tem de mais, Lucas?

Não sei se vocês conhecem... tem um livro famoso, Desenhando com o lado direito do cérebro, sabem? Pois bem, não é este. A mesma autora, contudo, escreveu Desenhando com o artista interior, e eu me refiro a este, embora eu creia que as idéias de que vou falar estejam no outro.

Ela propõe exercícios de copiar desenhos de cabeça pra baixo, para "desligar" o lado esquerdo e deixar o lado direito assumir a tarefa. Blábláblá. De qualquer maneira, o raciocínio é o seguinte: se te mostro um rosto, e te peço para desenhá-lo, o que você fará, com muita probabilidade, é desenhar um desenho "funcional" de um rosto; isto é, orelhas boca olhos nariz simplificados para dizer que é um rosto, e alguns detalhes simplificados que tornam aquele desenho oficialmente um desenho de um rosto parecido. Quer dizer, você desenhará a idéia do rosto que está vendo, e não a imagem do rosto que tem diante dos olhos, com todo o seu jogo de luz e sombras e espaços negativos.
O que ela propõe é apresentar um objeto qualquer de cabeça para baixo; no caso do livro, desenhos de artistas famosos, e pede para copiá-los, "sem pressa". E não é que funciona? Eu fiquei muito impressionado quando eu descobri isto. É um modus operanti diferente, porém não desconhecido; a pressa de "caracterizar", nomear, rotular e iconizar com a rapidez do "lado esquerdo" fica de lado, e aparece então um "desconhecimento" do que está ali. O que se tem pra desenhar não se trata então de idéias, mas sim de relações de tamanho, quantidade de luz, curvas; a experiência em si.

Depois de um dia inteiro desenhando de cabeça pra baixo, fui passear na BeiraMangue e comecei a tentar ver as coisas "de cabeça pra baixo".
E pronto. Extraordinário; parecia que estava a ver tudo "pela primeira vez". Não eram "árvores" que eu via, embora soubesse, obviamente, que eram árvores; mas o que eu via eram cores profusas e abundantes, espaços vazios, tudo com um frescor e uma intensidade muito maior do que a do dia-a-dia.
Foi neste dia que eu descobri que olho com os olhos da pressa e da razão, na maior parte do tempo, e não com olhos de criança. Os primeiros não são nada dispensáveis, já falo; sem eles simplesmente não rola todo o lado intelectual. O problema, para mim, é quando já não é mais "preciso" construir e utilizar idéias, e mesmo assim toda a minha experiência se baseia nelas.

Não sei se vocês perceberam, mas idéias são potencialmente ansiogênicas. Esta idéia de que as idéias são potencialmente ansiogênicas também é potencialmente ansiogênica. Pensem bem a respeito disto.

Quando encontrei a epokhê, portanto, encontrei algo familiar, nutritivo e interessante, e sei que gente há muito tempo se debruça sobre o mesmo "problema".

*****

Bem, lá vamos nós.

Hoje foi o meu último dia de trabalho aqui com o meu pai, no restaurante. Isto quer dizer, mais precisamente, que de net todo dia, só quem sabe quando começar as aulas.

Mas o labgrad da UFSC é o lugar menos inspirador para se escrever... oras...

Uma semaninha de férias, portanto, para este blogue aqui.
Ah, como eu me orgulho das minhas poesias!

Algumas me dão uma certa vergonha, ora carregadas na tinta, ora primárias, me apontando como, certamente, me sentirei no futuro com relação às que eu escrevo hoje.
Estava lendo a última, e caralho, ali está uma poesia bem sucedida; é bem isto. Dito e bem dito.

Pusquê escrevo pra mim, e não pros outros.

*****
Pode ser o clima, também, esta mistura de café e um bótemo goa/psy/whatsoevertrance que baixei, agora. Etnica, "Seven".
Aliás, me divirto um monte lendo a história da museletro. Algo mítico, algo político, e fico pensando nos netos dos outros (não os meus, que estarão muito mais longe do que o vovô aqui jamais chegou) olhando pro passado da mesma forma que olho pras minhas poesias; "umas tontas".
Ui, então eles dançavam isto?

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Odeio ficar com pessoas que bebem demais;
elas nunca se lembram.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Formigas

Quando eu era criança, eu dizia que aquela estática de televisão era uma guerra entre as formigas brancas e as formigas pretas; a Guerra das Formigas.
Nesta época eu também tinha medo do Jô Soares (chorava aos berros quando ele aparecia) e era um fã mirim da Tina Turner.
****
Ontem de tarde fiz o meu café bonitinho e fui sentar na rede. O jardineiro ainda continua aqui. Fiquei olhando pro chão, pros brotinhos que estão nascendo, pra terra vermelha, pra grama queimada, pro buraco de formigueiro. Nisto tudo, o café tinha amornado. Joguei um pouco de café em cima do formigueiro, para ver se tinha alguma reação.
Nada.

Até que vejo, lá no meio da grama, uma formigona preta retinta de mais ou menos um centímetro de comprimento. A danada. Provavelmente não era a mesma indivídua, mas instantaneamente me lembrei da formigona preta retinta de mais ou menos um centímetro de comprimento que me picou ante-ante-ontem, e senti uma vontade de me vingar dela.
Comecei a jogar o café morno em cima dela. Caía na frente dela, ela mexia as antenas e procurava um outro lado.

Que cheiro deve ser isto pra ela? Algo a evitar, perigo, partículas líquidas caindo do céu... o que ela deve "sentir"? Sentido de tato tosco, olfato, percepção de luz...

Rodeei ela com café. Prendi-a num labirinto de estímulos aversivos.
Até o momento em que derrubei café em cima dela. Ela começou a tremer toda, e a ir, com sofreguidão, de um lado para o outro, até se mover uns 10 centímetros e sair da ameaça.

Com sofreguidão, é bem esta a palavra. Tremendo, chacoalhando toda, parecendo colocar toda a sua força em suas frágeis fibras musculares; toda a sua força de formiga, perdendo em coordenação, e ganhando em fuga; um pedacinho preto que poderia muito bem ser confundido com uma pedra preciosa, de formato ainda mais precioso, se não se movesse, se não fizesse, aqui e ali, suas coisas misteriosas de formiga.

Senti que era patético a formiga agarrar-se à vida, com tanta força, mesmo não tendo consciência dela. Ridículo. Grotesco.

- estímulos nervosos com velocidade instantânea - arcos reflexos de limiar ínfimo - fibras fibras nervosas musculares - transpassando pequena pérola negra - circunvoluções em espaço-tempo - cortante e rápido e feroz pré-pensamento - instintos genes células instintos - filogenia ontogenia filogenia -
Ela ali, a coisinha preta, quase se rasgando toda para salvar "sua" "vida", corpo/matéria em formiga, uma pequena grande parcela do mundo que se move e anda e come, simplesmente sendo.

Para quê, para quê, para quê...

Lucas, sentado na rede, observando um buraco em forma de formiga no mundo.

E, como tudo, continua no próximo poste...

Luz do sol

Estou, agora, esperando o sol abaixar um pouco antes de me meter debaixo dele; dia lindo, lindo, lindo, e espero que não nuble de tarde como tem acontecido nos últimos três ou quatro dias.

(re)descobri que luz do sol é fundamental pra manter o meu humor na linha.

Me lembrei, agora, de quando, em meio ao meu "colapso depressivo", só fazia quatro coisas, todo santo dia:
  • caminhava,
  • comia,
  • dormia e
  • pegava sol.

Somente o necessário, e nada mais. Um baita aprendizado, se querem saber.

O meu humor é um bicho meio esquisito. Um tanto desesperador, confesso; desespera acordar um dia e simplesmente não conseguir levantar da cama por... nada. Não se sabe. Não se sabe se é ansiedade, ou o sintoma de uma falta de uma ina qualquer no cérebro, ou pura e simplesmente não ter razões pra acordar.

E os dias que fico alternando entre hipomaníaco e depressivo?

No passado, levado a pensar como vítima de algo que não poderia mudar com a minha vontade, seduzi a minha psiquiatra na época, e tentei convencê-la de que poderia ter alguns sintomas sérios de DDA, distúrbio de déficit de atenção. Ela pensou, conversou comigo, e fomos pro lado do Bipolar II.

Eu realmente fiquei empolgado com a possibilidade de estabilizar o meu humor.

Depois de três dias tomando Depakote, comecei a passar mal, ficar enjoado com tudo, e cheguei à conclusão solitária de que ficar enjoado era pior do que ter um humor bipolar.

Nunca mais voltei à psiquiatra; até mesmo o Wellbutrin, que estava já agendado para a parada, eu parei sozinho.

Daí a Gabi me indicou um outro psiquiatra que, aleluia, me tratou como ser humano e me fez ver a responsabilidade que eu teria de assumir, caso realmente quisesse começar um tratamento medicamentoso.

Na hora fiquei fulo, claro; eu lá, querendo simplesmente me livrar de algo que estava aos pouquinhos arruinando a minha vida, e ele me fala de responsabilidade? Mas como ser responsável, se tinham dias em que eu não acordava, e tampouco sabia o que faria no novo dia... e então me via em um humor "fantástico", cheio de vontade de fazer coisas, e mirabolar com o inexistente que herdava do dia anterior...

E ele fez questão. Eu teria de me decidir.

(Obrigado, Géder; no final das contas...)

No final das contas, aqui estou, sem remédio nem médico.

Descontados todo o leque de outras pessoas e situações, entre o comportamento auto-destrutivo de porres de vodka (bem gelada!) e família, foi este incidente que me fez ver, em termos "puramente" pessoais (e, por isto, muito mais prementes como teoria), a força do relacionamento entre pessoas numa terapia.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

soufisme

Livrai-nos, Alá, do mar de nomes!
Ibn ul'Arabi

sábado, 12 de fevereiro de 2005

A sabedoria dos 21

Acho que vou ser um daqueles velhinhos contadores de história, cheios de provérbios e coisas afins.

Pensando ontem em um amigo meu, me veio à cabeça a seguinte frase:

Só não pergunta quem tá com a boca cheia de comida, ou de formiga.

*****

Depois do outro texto, todos merecíamos uma coisa mais clarinha, não é mesmo, minha gente?

Barriga

Todo quebrado do acidente de ontem: perna, pé, canela, braço, pescoço, tudo doendo.

O que eu mais gosto de me machucar, porém, é o cuidado das outras pessoas, hehe. O caso típico de "vou ficar dodói pra mamãe cuidar de mim".

E elas realmente cuidam. Mães são foda.

Uma das coisas que mais me agradam e me completam nesta vida é aquele (re)descobrir das coisas simples e boas. Isso acontecia de monte em cima do tatame; eu me contorcendo de dor, tentando tirar o meu pulso dobrado num ângulo de 127 graus pondo mais força nele, pra depois perceber que um movimento de lado, ou simplesmente parar de atacar, resolveria tudinho.
Quer dizer, eu teria fracassado no meu ataque.
Ou metido num rolo todo, tentando levar o meu parceiro pro chão, e suando e suando e suando, até que o Ápio chegava com um sorrisinho irônico, e mostrava como aquilo era absurdamente simples.

"Ah, então é só isso?" Sempre é só isso.

Voltei do almoço hoje, um feijão tropeiro do caralho, com banana couve torresmo & feijão, é claro. Sentei na cadeira-rede na varanda do quintal, e fiquei ouvindo os passos do jardineiro bonitinho indo pra lá e pra cá. E fui escorregando, escorregando, até decidir-me pela rede de verdade.
A rede era tudo de bom.

Desde um tempinho venho (re)descobrindo certas obviedades, principalmente obviedades na maneira em que eu, corpo, vivo num mundo que é corpo também.

Sempre tive um controle muito grande sobre o meu corpo como um todo. Teve uma época em que me disciplinei um monte, principalmente em relação à minha respiração; o básico do aikido, um poquinho de yoga, shirshasana todos os dias, diafragma aqui e lá, espaço entre as costelas, abdômem, e além. Cantava muito mais, e melhor, do que canto hoje; mais um tanto de técnica respiratória.
Some a isto tudo o fato que sou um respirador bucal até hoje; comecei a usar aparelho móvel, mas parei na metade do tratamento. Fiz a cirurgia de septo, que quase me matou de sangria. Escutei, durante anos, os prejuízos que a respiração bucal causa à postura, à saúde, à qualidade de vida...

Pois, senhoras e senhores, o que consegui em tudo isso? Ora pois, é fácil; consegui controle (quase) total sobre a minha respiração, e descobri assim que não adianta nada. Uma oxigenação melhor do cérebro ajuda... mas ajuda no quê?
O tiro de misericórdia foi quando eu percebi que a respiração, se não é espontânea, amortece os sentimentos e as vivências. Iguala tudo. E isto, realmente, eu não queria.

A respiração é primal. É básica. Tudo o que se faz ou pensa ou vive "reflete-se" na respiração, refletindo assim na postura, na fala, no comer, no viver, no amar... e vice-versa.

Eu lá, na frente da Gabriela, pensando na vida e no que eu faço dela, e ela fala:
"Lucas, volta a respirar."
"Eu não estava respirando, Gabi?"
"Não, não estava."

Até a semana passada em que comecei a sentir um ódio tremendo de uma certa pessoa... e encorajado a continuar aquilo (mesmo que eu, na realidade, teria abstraído aquilo tudo e guardado pra mais tarde), começam a vir ondas e mais ondas de uma respiração rápida e ofegante, e mais e mais e mais e mais e mais... até que tudo pára, e pronto. Acabou. Passou.

Foi neste carnaval, portanto, que resolvi assumir a minha barriga. Isto mesmo; assumir a barriga é o bicho.

(Eita poste confuso, este!)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Acidente de moto

Caí de moto hoje, perto da entrada da Via Expressa Sul.

Culpa minha, culpa do outro, culpa da areia que estava onde não devia estar, culpa da calçadinha que estava ali por obrigação.
Confesso que estava distraído, e classifico este acidente como uma "semi-cortada", a menos de 50 quilômetros por hora. Jaraguá do Sul que ia entrar não entrou, eu pensando que ele entraria tentei entrar mais rapidamente (cara lento, pelamordedeus), e quando vejo ele vindo na minha direção, só tenho tempo de acelerar e dar de cara com a areia, que não me ajudou muito.

Nestas horas eu percebo o que é fazer as coisas sem saber. Eu não soube como, mas mal caí e já estava de pé, tentando levantar a moto. Aikido redux. O cara não parou, mas um pescador (que tinha pescado 3 quilos de camarões gordos ontem, e hoje não deu nada!) me deu uma forcinha, e lá fomos nós.

Tenho escoriações em todo o comprimento do antebraço posterior direito, inchaço na canela esquerda, contusão muscular na coxa direita e uma moto num conserto de 210 reais.

Ela se machucou bem mais do que eu, tenho de confessar. Deu de cara na quina da calçadinha, a coitada.

E amanhã de tarde, mais uma vez, estou em cima dela. O tempo não pára.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Carnaval redux

Tá todo mundo falando de carnaval, então vamos nós falar de carnaval.

O distúrbio de não-aceitação do carnaval (DNAC) felizmente é sazonal e muuuuuuuuuito dependente do contexto; assim sendo, saí todos os dias, trabalhei (essa palavra é muito deprimente) todos os dias, e bebi muito, mas muito, mas muito pouco.

Eu não sei o que aconteceu.

Meu carnaval terminou na terça de noite, quando fomos, eu e a mãe, assistir ao desfile das campeãs, e eu voltei às 9 e meia (da noite) pra casa, muito antes do desfile começar, por estar desmaiando de sono no colo dela, lá na arquibancada.

Dormi muito bem, mas quanto mais eu durmo mais eu tenho sono, fui atrás de um paulista na praia Mole, de moto; sentei na areia, e, lenta, pausada e paulatinamente despi-me, deitei-me e, usando a mochila como travesseiro, durmo o sono leve e (quase) reconfortante da praia movimentada.

(cena na praia:
DESCONHECIDO 1: ... então, tirou?
DESCONHECIDO 2: Tirei sim, mas ele tá virado pra lá.
D1: Deixa quieto.
D2: Vou botar nome...
D1: Dá pra botar nome na foto, nessa máquina?
D2: Dá sim... baba... como jpg, né? Baba.jpg.)

Ouvido naquele espaço infinito entre o sonho e a realidade, mas tudo leva a crer que eles estavam tirando uma foto minha. Só não sei, realmente, o porquê de eu ter saído como baba.jpg...

Encontrei I e W na Devassa, e foi literalmente pra "perder a linha (e a calcinha)".

(cena na rua, terça de manhã:
I: Ahhh... que bom que saí de lá; em todo o lugar que eu ia tinha alguém que eu tinha pegado!
L: E quantos você pegou?
I: Deu onze, acho....
W: Contando com o beijo a três, e com o a cinco?
I: Aiiiii...)

Crianças, tsc tsc tsc.

Agora que o ano realmente começou, e eu não estou afetado, as velhas perguntas começam a reaparecer.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

next blog

Daí que me lembrei, voltando pro poste passado, que as lendas contam que o teor alcoólico das frutas da amarula foi descoberto depois que se viu os elefantes cambalear, depois de comer as tais. E as cabras etíopes que, segundo as mesmas lendas, saltitavam e baliam entre as moitas de café?

Lendas são lendas.

Sempre fico estarrecido em pensar no como nossos antepassados "indígenas" descobriram estas coisas nas plantas. Muita gente morreu?
Dentre tantas e tantas árvores, justamente de uma se extrai o quinino; eles descobriram, e, só para zombar, descobriram também para que usá-lo.

Um baita processo estocástico intuitivo.

*****

Tem um botão lá em cima, em todos estes blogues: next blog. Reparei nele hoje, dei umas bandas em vários blogues, e parei em um somente pelo fato de que era um blogue de vanguarda, com um visu moderno e nenhum botão de navegação.

Me ver em meio a este anonimato todo trouxe um sentimento de vacuidade tão grande à isto tudo que escrevo, que (ainda bem) hoje de noite vou conversar com um monte de pessoas reais e legais, que me gostam ou me detestam, mas me conhecem e sabem do peso da minha mão.

Cafeína e taurina

Uma pergunta interessante na internet:

afinal, para que serve a cafeína nas plantas?
Cafeína é encontrada em mais de sessenta espécies vegetais e, assim como para muitos alcalóides, seu papel fisiológico ainda é desconhecido. Os poucos dados sobre o assunto foram obtidos com chá (Camellia sinensis) e café (Coffea spp.) e, em sua maioria,indicaram cafeína como um agente alelopático e anti-herbivoria. Por confrontação com outros trabalhos não relacionados especificamente com o papel fisiológico de cafeína, esses dados são discutidos e contestados. Também se discute cafeína como uma molécula armazenadora de nitrogênio e seu possível envolvimento com a resistência de doenças. Em adição, são apresentados dados indicando o não relacionamento de cafeína com a metilação do DNA em folhas de espécies de café com diferentes teores do alcalóide.
Estava fazendo uma pesquisa sobre energéticos. Descobri que a taurina "é usada [...] por seu efeito desintoxicador, facilitando a excreção de substâncias pelo fígado que não são mais importantes ao corpo. Outro atributo relacionado a este aminoácido é de poder intensificar os efeitos da insulina, tendo sido responsável por um melhor funcionamento do metabolismo de glicose e aminoácidos, podendo auxiliar o anabolismo."

Uma pessoa de 70 quilos tem cerca de 70 gramas de taurina espalhada pelos tecidos corporais.

Quer dizer que, ao contrário das crenças urbanas, a taurina não é um psicoestimulante.

(cena de supermercado:
CAIXA: [com a latinha de energético na mão...] Toma cuidado com isso...
LUCAS: [cara de sério] É mesmo? Por quê?
C: Se você for tomar com álcool, né?
L: É?
C: É. Dizem que, se misturar, fica que nem uma droga assim, sabe?
L: [surpreso] Nossa, disso eu não sabia.
Representações sociais, ao vivo e em cores, são bem mais divertidas.)


Para as pessoas especialmente resistentes à cafeína, portanto, os 80 miligramas de cafeína de uma lata de energético não é nada...

Por isso que eu sempre digo: valorizemos o produto nacional! Tomemos guaraná!

Encontrei uma seringa e uma latinha de comida de bebê no lixo da casa do pai.

Isto quer dizer que tivemos um bebê, com ou sem respectivos significativos, e um doente, ou drogado.

(Pode ser que alguém esteja injetando papinha de bebê.)

De qualquer maneira, tivemos alguém, e é por isso que eu gosto de gente.

domingo, 6 de fevereiro de 2005

... e nada como umas duas horinhas de sol, com a companhia de Billie Holliday e Miles Davis, chuveirada na cara e rolar na grama, pra esfumar maus pensamentos...

Ontem percebi que, sem a compaixão, o budismo não é nada.
... mais um dos tais insights a essa hora, Luquinhas?

E mais tarde eu falo sobre o enternecimento pra vocês, esta coisa tão boa...

Carnaval

Odeio carnaval.
Odeio carnaval.
Odeio carnaval.

Mas, invariavelmente, sempre estou lá, no meio da multidão devassa.

Devassa é uma palavra ótima, e como vou numa festa chamada Devassa na segunda, suponho que a festa será ótima.

Eu não dormi esta noite, estou cansado; cansado, mas bem. Vou lá fora agora, estender a espreguiçadeira ou, pra ficar mais "aconchegante", a chaise-longe, e pegar um pouco de sol.

Mas então, não gosto de carnaval simplesmente pelo fato que tudo fica girando em torno de sexo, e eu me sinto ora "desvalorizado" como ser humano (quem me conhece já sabe), ora à parte de tudo isto.
... o que dá pra pensar no quanto esta coisa toda de sexo ainda me é misteriosa.
Além disto, começo a questionar o fato de que eu, assim do jeitinho que sou, vou ter de "esperar" quanto mais pra sair desta babaquice de ficar com os mesmos estróinas dia-a-dia?
Será que é isto que eu quero? Eu escolhi?

Tou sentindo que a semana vai ser péssima; além duma deprê neuroquímica que, certamente, não me pegará de surpresa, hoje cheguei em casa totalmente insatisfeito, mesmo tendo dançado durante horas um psy bom, tomei meu banho, e, no caminho, quase comecei a chorar em cima da moto. Perigo, hein?

Vou chamar a isto tudo de "distúrbio de não-aceitação do carnaval" e esquecer.

Eu me vou; estou triste...

"pero siempre estoy triste. (....) No sé hacia dónde voy..."

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

De moto e sensei, no ano passado


(quarta-feira, 12 de maio de 2004)

Iesu, como é bom pilotar uma motinha!

Tinha até me esquecido de como é realmente bom pilotar uma motinha... faz muito tempo desde que eu parei de usá-la todos os dias, e tanto que ela ficou uns dois meses longe de mim, depois de uma pequena multa que ganhei em mais uma das minhas paixões desenfreadas (e todas muito boas, célavi). Ela retornou, certo, mas retornou só pra ficar lá naquela garagem fria e solitária.

Eu realmente não sei amar.

Andar de moto traz de volta algum tipo de sensação primal de montar um cavalo, galopar, estar em cima de algo em movimento, um tanto desprotegido; uma massa compacta e sutil de maquinário e homem, esta fusão de formas, e balançar-se de um lado para outro nas curvas, sentir o vento entrando pelas frestas do capacete, os lábios secando...

Moto me lembra muito meu sensei Ápio, Ápio Ricci, que agora anda lá pelos idos de Sampa, morando no dojo de lá. Ele, que é um figurão fantástico, pessoa digna de se conhecer, e as suas motos, primeiro uma que nem lembro qual é, uma moto verde e larga; e depois a simplezinha da Honda. Um motoqueiro de primeira: nunca me esqueço de uma cena em que, eu andando por uma das rótulas da Trindade, e lá me passa o Ápio e a namorada na verdinha, fazendo uma curva suave como um vôo de pássaro, inclinada como uma pena passando rápido no papel, passando rasante frente a um ônibus apressado, e ele olha pra mim e dá uma buzinada. Se há aikido, aikido foi aquele momento. O bicho tem um equilíbrio...

Andar de moto me rejuvenesce. Lembro de uma vez, na época de outra paixão, em que peguei a moto de madrugada e me mandei pro Campeche. Ah, que coisa linda... e só pra me sentir mais pertinho, do lado daquele mar escuro e profundo.

Do vosso continuamente,

E.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Adoro insights

E para terminar a série de postes que eu fiz hoje.

Estava lendo os vários comentários do Richard Wilhelm pro daode jing, ou tao te king, as you like it, relativos às modificações no pensamento taoísta com o decorrer dos anos, dos imperadores e dinastias, dos movimentos do povo e do contato com o mar. E um deles era muito, muito parecido com o Maquiavel.

Eu considero O Príncipe um dos livros mais iluminadores já escritos.

Derepentemente, eu lá em pé, barulho forte de talheres e de conversa de gente com a boca cheia de frango, penso no Rei das Cabras e percebo, intuo, insight, se quiserem, que uma vez que se começa a controlar, é um caminho que não pára mais.

Os imperadores amarelos deram uns dos primeiros grandes passos neste sentido, e é um caminho que continua até hoje, e se chama História. Cheio de som e fúria e maneiras mais eficazes e mais sutis,
e sempre e muito e quando.

Como foi algo que surgiu de mim, de maneira espontânea, sem as palavras já gastas pelo uso, fresco como o orvalho da manhã,
vou criar uma nova seita e cobrar pela entrada.

Beijos, e até mais!

A pior poesia

Decididamente, a pior poesia que eu escrevi é a Melodia pós-E. Está no Orchata, se quiserem ver.

Pior no sentido de que ela é uma monstruosidade que peca pelo excesso de inspiração momentânea, e pede para que seja exilada e totalmente reescrita.

De toda a poesia, tenho um respeito e um amor somente pela última estrofe, e creio que ela seria exatamente aquilo que eu quis passar se não houvessem os versos anteriores, com exceção do "coração de rato".
Pais e filhos à parte...
(deu a sacadinha? não? à parte, aparte, apartem... ahUHAUhauHAUHa... eu sou um gênio poético)

Depois do meu encontro com o LucasAnfetamina, no sábado, pensei e repensei e considerei e no meio disto tudo resolvi alguns problemas e fui passear no sol e comprei o Abbey Road, finalmente, e pensei mais e descobri que a única coisa que me impede de virar um junkie é que, quando eu tinha meus treze anos, aprendi a apreciar a visão de natureza dos outros.

Mas naquela época eu era tão sozinho que, quando descobri o que eram as outras pessoas, cinco anos já tinham se passado.

O que estou de olho é sempre mais aléim... furthur...

Mas o mundo moderno clama por speed!! Se eu fosse uma pessoa mais, como posso dizer, normal, não haveria maneira de eu resistir aos ataques calorosos, eloqüentes e socializantes do LucasAnfetamina. E então surgiria o LucasSerotonina, através de outras inas mais, como a nicotina, a alcoolina, a balina...

... e então eu seria pai de família... pater familias...

e um cidadão contemporâneo, antenado e muderno. A única coisa que me agrada nesta cena que eu descrevi é que
  • eu teria uma assinatura da CartaCapital;
  • experimentaria cafés e fumos bem diferentes e exóticos, mesmo que, para isto, tenha de sacrificar a educação do meu filho;
  • e teria mais amigos pós-yuppies pseudo-cults, com quem discutir os fumos, cafés e a CartaCapital.

Dinheiro, resumidamente.

Deveria deixar de alucinar desta maneira e comprar de uma vez um terreno no Novo Campeche (você sabe as histórias do Campeche? É uma praia aqui de Floripa, voltada pro Atlântico, mar revolto e gelado; com a maré baixa da manhã, porém, formam-se piscinas naturais de águas verde-turquesa. Campeche, por ser uma área plana muito grande, no sul da ilha, foi utilizado como pista de pouso para os aviões que traziam o correio internacional. Quem chegou a pousar aqui várias vezes, fazendo amizade com os manezinhos, foi Saint-Exupery; muitos deles dizem, até hoje, que Campeche vem do francês, e eu acabo de esquecer de como...)

, baratinho, eu creio, e montar uma casinha a là Thoreau, não esquecendo do terrininho onde irei plantar melões, mamões (que já devem estar por lá, de qualquer maneira), tomates cenouras beringelas alfaces & temperos, como manjericão, tomilho, cebolim&salsim e sálvia... salvia divinorum.

Conversa com pai


Comecei a escrever coisas muito amargas sobre o meu pai, para colocar aqui neste blogue, o lugar menos apropriado para este tipo de coisa.

Diálogo de manhã, eu chegando aqui na casa dele para pegar o caixa do restaurante:

"Oi, Lucas, como é que vai hoje?"
(suspiro ao tirar a mochila das costas) "Hum... mais ou menos."
(Ontem tive um dia horrivelmente depressivo por causa da pseudoanfetamina do fim-de-semana, e ele percebeu).
"Ah, certo..."
"Coisas da terapia, pai"
"Ah, de terapia, é? Que ruim, hein?"
"Não, pai, são boas. Muito boas."
"É, ajuda..."

E o que eu poderia dizer, naquele momento... "... é, e eram coisas sobre você, pai." E no mais perfeito sotaque manezinho, exclamar "Pai, ti odio!"

Mas este é um ódio de um menino de sete anos...

Vou colocar ácido no suco de tomate dele. Amanhã, sem falta.