segunda-feira, 27 de julho de 2009

Catatau morreu




Não me lembro a primeira vez que o vi; talvez tenha sido mesmo na fila da matrícula, lá no comecinho do novo milênio. De qualquer forma, estudante do CFH que eu era, até poucos dias atrás, o Catatau estava sempre presente, com a sua pose altiva.

Foi enterrado na frente da reitoria.

Leve se suportável, breve se não o é

"O que ocorre com as crianças, nós mesmos experimentamos, crianças crescidas que somos. As pessoas que elas amam, com quem estão habituadas, com as quais brincam, fazem-nas tremer de medo quando se apresentam mascaradas. Não é somente dos homens, é das coisas que cumpre tirar a máscara, obrigando-as a reassumir seu verdadeiro rosto. De que serve mostrar-me estas espadas, estas chamas, esta multidão de carrascos que rugem em torno de ti? Descarta este aparato que te esconde e que só aterroriza os tolos. Tu és a morte, que outrora meu escravo ou uma serva podia desafiar. Mas quê? Ainda teus chicotes, tuas estacas que me apresentas com grande ostentação, estes aparelhos que se adaptam peça por peça a todas as articulações a fim de desmembrá-las, estes milhares de instrumentos empregados para dilacerar, para despedaçar um homem? Despoja-te destes espectros; silencia os gemidos, os lamentos entrecortados, os gritos agudos do supliciado feito em pedaços. Tu és a dor, que o gotoso despreza, que o dispéptico padece em meio a delícias, que a jovem tolera no parto; dor leve se suportável, breve se não o é."

[13] Quod vides accidere pueris, hoc nobis quoque maiusculis pueris evenit: illi quos amant, quibus assueverunt, cum quibus ludunt, si personatos vident, expavescunt: non hominibus tantum sed rebus persona demenda est et reddenda facies sua. [14] Quid mihi gladios et ignes ostendis et turbam carnificum circa te frementem? Tolle istam pompam sub qua lates et stultos territas: mors es, quam nuper servus meus, quam ancilla contempsit. Quid tu rursus mihi flagella et eculeos magno apparatu explicas? quid singulis articulis singula machinamenta quibus extorqueantur aptata et mille alia instrumenta excarnificandi particulatim hominis? Pone ista quae nos obstupefaciunt; iube conticiscere gemitus et exclamationes et vocum inter lacerationem elisarum acerbitatem: nempe dolor es, quem podagricus ille contemnit, quem stomachicus ille in ipsis delicis perfert, quem in puerperio puella perpetitur. Levis es si ferre possum; brevis es si ferre non possum.

Carta de Sêneca para Lucílio, 24; texto em português tirado de A hermenêutica do sujeito, M. Foucault (Martins Fontes, 2004), texto em latim aqui.

leuis aut breuis: o aforismo estóico de que uma dor ou é forte e breve e insuportável - ou passa ou morremos - ou é leve e dura mais, então suportável. Epicuro, antes disso, já apontava em uma de suas máximas (140.IV), abaixo, o que viria a ser a quarta parte do seu tetraphármakos: o que é mal é breve ou no tempo ou leve na intensidade (na carta para Meneceu em outro lugar, 133).

"A dor não dura de uma forma ininterrupta na carne, mas aquela que é extrema não dura mais que um tempo muito curto, e mesmo aquele nível de dor que excede ligeiramente o prazer da carne não dura muitos dias; quanto às doenças de longa duração, elas são acompanhadas de mais prazer (na carne) do que de dor."

ou khronízei to algoûn sunekhôs en tê sarkí, alla to men ákron ton elákhiston khrónon páresti, to de mónon huperteînon to hēdómenon kata sárka ou pollas hēméras sumbaínei; hai de polukhrónioi tôn arrōstiôn pleonázon ékhousi hēdómenon en têi sarkhi ḗper to algoûn.

sábado, 4 de julho de 2009

Carta de Epicuro para Meneceu

[Epicurus' letter to Menoeceus; lettre de Épicure à Ménécée; Epikurs Brief an Menoikeus; epistolḗ pros Menoikéa - greek text, texte grec, "griechische texte" (!), hellenik... whatever]

Abaixo vai a carta de Epicuro para Meneceu, em grego. Não encontrava o original transliterado na internetz - o original em grego, por exemplo, está aqui -, então resolvi fazer um favor para a humanidade, gastando algumas horas transliterando do xerox do Armário Branco - algumas notas sobre a transliteração aqui. As palavras em vermelho são as que não consigo encontrar tradução; as em verde são aquelas que eu faço idéia mas não encontro o verbete correto, e não quero desvirtuar ninguém.

O texto abaixo é do livro de M. Conche, em francês; Epicure, lettres et maxims, disponível na biblioteca da UFSC. As notas absolutamente ininteligíveis para alguém com menos de um doutorado são do mesmo texto, que boto apenas como curiosidade. Acompanha junto uma bela e boa tradução, em francês, que está disponível neste livro do google books, além de notas que tenho preguiça de copiar. Como o texto de Epicuro é livre para todos, não tenho medo do copirraite; as notinhas do autor(a), porém, poderiam me comprometer com a PUF.

Talvez uma tradução pessoal esteja em andamento. Talvez.

Por favor, aproveitem. É um belíssimo texto.

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Epíkouros Menoikeî khaírein.

[122] Mḗte néos tis ōn mellétō philosopheîn, mḗte gérōn hupárkhōn kopiátō philosophôn. Oúte gar áōros oudeís estin oúte párōros pros to kata psukhēn hugiaînon. Ho de légōn ē mḗpō toû philosopheîn hupárkhein hṓran ē parelēluthénai tēn hṓran hómoiós estin tôi légonti pros eudaimonían ē mē pareînai tēn hṓran ē mēkéti eînai. hṓste philosophētéon kai néōi kai géronti, tôi men hópōs gēráskōn neázēi toîs agathoîs dia tēn khárin tôn gegonótōn, tôi de hópōs néos háma kai palaios hêi dia tēn aphobían tôn mellóntōn. meletân oûn khrē ta poioûnta tēn eudaimonían, eíper paroúsēs men autês pánta ékhomen, apoúsēs de pánta práttomen eis to taútēn ékhein.

[123] Ha de soi sunekhôs parēngellon, taûta kai prâtte kai meléta, stoikheîa toû kalôs zên taût’ eînai dialambánōn. Prôton men ton theon zôion áphtharton kai makárion nomízōn, hōs hē koinē toû theoû nóēsis hupegráphē, mēthen mḗte tês aphtharsías allótrion mḗte tês makariótētos anoíkeion autôi prósapte; pân de to phuláttein autoû dunámenon tēn meta aphtharsías makariótēta peri auton dóxaze. theoi men gar eisín; enargēs gar autôn estin hē gnôsis; ohíous d’ autous polloi nomízousin, ouk eisín; ou gar phuláttousin autous hoíous nomízousin. asebēs de oukh ho tous tôn pollôn [124] theous anairôn, all’ ho tas tôn pollôn dóxas theoîs prosáptōn. ou gar prolḗpseis eisin all’ hupolḗpseis pseudeîs hai tôn pollôn huper theôn apopháseis. énthen hai mégistai blábai ek theôn epágontai kai ōphéleiai. taîs gar idíais oikeioúmenoi dia pantos aretaîs tous homoíous apodékhontai, pân to mē toioûton hōs allótrion nomízontes.

Sunéthize de en tôi nomízein mēden pros hēmâs eînai ton thánaton; epei pân agathon kai kakon em aisthḗsei; stérēsis dé estin aisthḗseōs ho thánatos. hóthen gnôsis orthē toû mēthen eînai pros hēmâs ton thánaton apolauston poieî to tês zōês thnētón, ouk ápeiron prostitheîsa khrónon, allá ton tês [125] athanasías apheloménē póthon. outhen gar estin en tôi zên deinon tôi kateilēphóti gnēsíōs to mēden hupárkhein en tôi mē zên deinón. hṓste mátaios ho légōn dediénai ton thánaton oukh hóti lupḗsei parṓn, all’ hóti lupeî méllōn. ho gar paron ouk enokhleî, prosdokṓmenon kenôs lupeî. to phrikōdéstaton oûn tôn kakôn ho thánatos outhen pros hēmâs, epeidḗper hótan men hēmeîs ômen, ho thánatos ou párestin, hótan de ho thánatos parêi, tóth’ hēmeîs ouk esmén. oúte oûn pros tous zôntás estin oúte pros tous teteleutēkótas, epeidḗper peri hous men ouk éstin, hoi d’ oukéti eisín. All’ hoi polloi ton thánaton hote men hōs mégiston tôn kakôn pheúgousin, hote de hōs anápausin [126] tôn en tô zên. [ho de sophos] oúte phobeîtai to mē zên; oúte gar autôi prosístatai to zên oúte doxázetai kakon eînaí ti to mē zên. hṓsper de to sitíon ou to pleîon pántōs alla to hḗdiston haireîtai, hoútō kai khrónon ou ton mḗkiston alla ton hḗdiston karpízetai. ho de parangéllōn ton men néon kalôs zên, ton de géronta kalôs katastréphein euḗthēs estin ou mónon dia to tês zōês aspastón, alla kai dia to tēn autēn eînai melétēn toû kalôs zên kai toû kalôs apothnḗiskein. polu de kheírōn kai ho légōn kalon men mē phûnai,
phúnta d’ hópōs ṓkista púlas Aídao perêsai.
[127] ei men gar pepoithōs toûtó phēsin, pôs ouk apérkhetai ek toû zên? en hetoímōi gar autôi toût’ estín, eíper ên bebouleménon autôi bebaíōs; ei de mōkṓmenos, mátaios en toîs ouk epidekhoménois.

Mnēmoneutéon de hōs to méllon oúte pántōs oukh hēméteron, hína mḗte pántōs prosménōmen hōs esómenon mḗte apelpízōmen hōs pántōs ouk esómenon.

Analogistéon de hōs tôn epithumiôn hai mén eisi phusikaí, hai de kenaí, kai tôn phusikôn hai men anankaîai, hai de phusikai mónon; tôn de anankaíōn hai men pros eudaimonían eisin anankaîai, hai de pros tēn toû sṓmatos [128] aokhlēsían, hai de pros auto to zên. toútōn gar aplanēs theōría pâsan haíresin kai phugēn epanágein oîden epi tēn toû sṓmatos hugíeian kai tēn psukhēs ataraxían, epei toûto toû makaríōs zên esti télos. toútou gar khárin pánta práttomen, hópōs mḗte algômen mḗte tarbômen. hótan de hápax toûto peri hēmâs génētai, lúetai pâs ho tês psukhês kheimṓn, ouk ékhontos toû zṓiou badízein hōs pros endéon ti kai zēteîn héteron hôi to tês psukhês kai toû sṓmatos agathon sumplērṓsetai. tote gar hēdonês khreían ékhomen, hótan ek toû mē pareînai tēn hēdonēn algômen; [hṓtan de mē algômen] oukéti tês hēdonês deómetha.

Kai dia toûto tēn hēdonēn arkhēn kai télos légomen eînai toû makaríōs [129] zên. taútēn gar agathon prôton kai sungenikon égnōmen, kai apo taútēs katarkhómetha pásēs hairéseōs kai phugês, kai epi taútēn katantômen hōs kanóni tôi páthei pân agathon krínontes. Kai epei prôton agathon toûto kai súmphuton, dia toûto kai ou pâsan hēdonēn hairoúmetha, all’ éstin hóte pollas hēdonas huperbaínomen, hótan pleîon hēmîn to duskheres ek toútōn hépētai; kai pollas algēdónas hēdonôn kreíttous nomízomen, epeidan meízōn hēmîn hēdonē parakolouthêi polun khrónon hupomeínasi tas algēdónas. pâsa oûn hēdonē dia to phúsin ékhein oikeían agathón, ou pâsa méntoi hairetḗ; katháper kai algēdōn [130] pâsa kakón, ou pâsa de aei pheuktē pephukuîa. têi méntoi summetrḗsei kai sumpheróntōn kai asumphórōn blépsei taûta pánta krínein kathḗkei. khrṓmetha gar tôi men agathôi katá tinas khrónous hōs kakôi, tôi de kakôi toúmpalin hōs agathôi.

Kai tēn autárkeian de agathon mega nomízomen, oukh hína pantōs toîs olígois khrṓmetha, all’ hópōs ean mē ékhōmen ta pollá, toîs olígois arkhṓmetha, pepeisménoi gnēsíōs hóti hḗdista poluteleías apolaúousin hoi hḗkista taútēs deómenoi, kai hóti to men phusikon pân eupóristón esti, to de kenon duspóriston. hoí te litoi khuloi ísēn poluteleî diaítêi tēn hēdonēn [131] epiphérousin, hótan hápan to algoûn kat’ éndeian ekhairethêi; kai mâza kai húdōr tēn akrotátēn apodídōsin hēdonḗn, epeidan endéōn tis auta prosenénkētai. to sunethízein oûn en taîs haplaîs kai ou polutelési diaítais kai hugieías esti sumplērōtikon kai pros tas anankaías toû bíou khrḗseis áoknon poieî ton ánthrōpon kai toîs polutelésin ek dialeimmátōn proserkhoménous kreîtton hēmâs diatíthēsi kai pros tēn túkhēn aphóbous paraskeuázei.

Hótan oûn légōmen hēdonēn télos hupárkhein, ou tas tôn asṓtōn hēdonas kai tas en apolaúsei keiménas légomen, hṓs tines agnooûntes kai oukh homologoûntes ē kakōs ekdekhómenoi nomízousin, alla to mḗte algeîn kata sôma [132] mḗte taráttesthai kata psukhḗn. ou gar pótoi kai kômoi suneípontes oud’ apolaúseis paidōn kai gunaikôn oud’ ikhthúōn kai tôn állōn hósa phérei polutelēs trápeza, ton hēdun gennâi bíon, alla nḗpōn logismos kai tas aitías exereunôn pásēs hairéseōs kai phugês kai tas dóxas exelaúnōn, ex hôn pleîstos tas psukhas katalambánei thórubos.

Toútōn de pantōn arkhē kai to mégiston agathon phrónēsis. dio kai philosophías timiṓteron hupárkhei phrónēsis, ex hês ahi loipai pâsai pephúkasin aretaí, didáskousa hōs ouk éstin hēdéōs zên áneu toû phronímōs kai kalôs kai dikaíōs, áneu toû hēdéōs. sumpephúkasi gar ahi aretai tôi zên hēdéōs kai to zên hēdéōs toútōn estin akhṓriston.

[133] Epei tína nomízeis eînai xreíttona toû kai peri theôn hósia doxázontos kai peri thanátou dia pantos haphóbōs ékhontos kai to tês phúseōs epilelogisménou télos, kai to men tôn agathôn péras hōs éstin eusumplḗrōtón te kai eupóriston dialambánontos, to de tôn kakôn hōs ē khónous ē pónous ékhei brakheîs, tēn de hupó tinōn despótin eisagoménēn pántōn engelôntos , ha de apo túkhēs, ha de par’ hēmâs, dia to tēn men anánkēn anupeúthunon eînai, tēn de túkhēn ástaton horân, to de par’ hēmâs adéspoton, hôi kai to mempton [134] kai to enantíon parakoloutheîn (epei kreîtton ên tôi peri theôn múthōi katakoloutheîn ē têi tôn phusikôn ehimarménêi douleúein; ho men gar elpída paraitḗseōs hupográphei theôn dia timês, hē de aparaítēton ékhei tēn anánkēn), tēn de túkhēn oúte theón, hōs ohi polloí nomízousin, hupolambánontos (outhen gar atáktōs theôi práttetai) oúte abébaion aitían ([ouk] oíetai men gar agathon ē kakon ek taútēs pros to makaríōs zên anthrṓpois dídosthai, arkhas méntoi megálōn agathôn ē kakôn hupo taútēs khorēgeîsthai), [135] kreîtton eînai nomízontos eulogistōs atukheîn ē alogistōs eutukheîn; béltion gar en taîs práxesi to palôs krithen orthōthênai dia taútēn.

Taûta oûn kai ta toùtois sungenô meléta pros seauton hēméras kai nuktos [kai] pros ton hómoion seautôi, kai oudépote oúth’ húpar oút’ ónar diatarakhthḗsēi, zḗseis de hōs theos en anthrṓpois. outhen gar éoike thnētôi zṓiōi zôn ánthrōpos en athanátois agathoîs.

FINIS

123 - 7 <hoi> supplevit Gassendi
124 - 3 post blábai scholia : aítiai toîs kakoîs - 9 ápeiron Aldobrandini: áponon libri
126 - 1 <ho de sophos> ins. ex Usener
127 - 4 <oúte pántōs hēméteron> epitome Laertii Diogenis in codice Vaticano gr. 96: om. libri.
128 - 3 tēn tês psukhês ataraxían cod. B. post correctionem: tēn ataraxían B (ante corr.): tēn toû sṓmatos ataraxían libr. cett.
128 - 8 <hótan de mē algômen> supplevit Gassendi
130 - 6 arkhṓmetha Cobet: khrṓmetha libri
131 - 5 proserkhoménous cod. Vaticanus gr. 96 ut Usener: proserkhoménois pler. libri - 8 tas en apol. cod. Vaticanus r. 96: tas tôn en apol. libri
132 - 7 philosophías cod. P post correctionem: philosophía cod. P (ante corr.) B Co - 9 <oude phronímōs kai kalôs kai dikaíōs> suppl. Estienne.
133 - 5 engelôntos Bailey: angéllontos: angelōntos: angelôntos libri <ehimarménēn … légontos> exemplii causa suppl. Usener
134 - 4 hupolambánontos Usener: hupolambánōn libri - 5 <ouk> ins. Usener
135 -1 nomízontos Usener: nomízein: nomízōn libri - 3 seauton Gassendi: heauton libri - 4 <kai> ins. Diano - 5 zḗseis cod. B post correctionem ut Usener: zḗsēi cod. P post corr.

E não é que existe?

Há épocas em que uso aqueles dilatores nasais para dormir de noite. Tenho uma longa história de respirador bucal; durante o dia eu respiro pelo nariz normalmente, tendendo a voltar a respirar pela boca, dependendo da posição. De noite, porém, não tem jeito: eu respiro pela boca.

Dilatadores nasais não são, porém, baratos. Não são exatamente caros, custando aproximadamente uns R$ 1,50 cada um; a tendência de desconsiderar, contudo, um pedacinho de adesivo com plástico que parece não fazer muita coisa é maior do que os benefícios - confirmados desde a primeira noite de sono - do mesmo. Imagino uma bola, como a bola dos adesivos de entrada na Pinacoteca, formada pelos meus dilatadores nasais, e não desejo que esta seja a minha única contribuição ao planeta.

A minha mentalidade de universitário (almoço a R$ 1,50, por exemplo, do qual comi apenas duas vezes em oito anos) imagina uma forma de poder reaproveitar os dilatadores nasais. Pensa em várias coisas: em argolinhas de metal, ou plástico; em aramezinhos de garrafa de espumante, delicadamente torneados, para adaptar-se à cavidade nasal e proporcionar um sono delicioso. Penso se os povos antigos não tiveram esta idéia antes: uma armação de bambu para os japoneses? Uma breve olhada na internet dissipa todas as fantasias de criatividade e nos mostra que praticamente tudo que se possa fazer já existe.

Última chance, então: bem que eu poderia reaproveitar os dilatadores, usando um pouco de cola, virando do outro lado para não "cansar" o plastiquinho; não sei. Parece que não vai dar certo, além de ser uma coisa meio porca. Melhor pagar de uma vez e economizar naquelas aquisições baratinhas da livraria local.

Do desejo

Poste em construção permanente, a ser utilizado para milhares de coisas ainda incertas e não-sabidas; quem quiser colaborar com algo, é só entrar em contato com um grato autor.

(Olá! Eu sou um interlúdio que está, para o seu prazer e conforto, no lugar de um longo e entendiante monólogo sobre a etimologia da palavra desejo & cognatos.

O autor esboça, com muitas palavras, que desejo/deseo/désir/desire vem do latim desiderare, que embora de etimologia incerta talvez venha de "esperando vir das estrelas" (de sidero). A palavra alemã usada para desejo, wunsch, também tem a conotação de "voto" - fazemos votos/ we wish you... - e, como wish, provavelmente vem da raiz do PIE (Proto Indo-Europeu) *wen-/*wun-/*won, raiz esta com significado de "ir atrás, querer, desejar, estar satisfeito", e que é a mesma raiz de vênus, venéreo, venerar, venerável (arrá!): sânscrito vanas- "desejo," vanati "deseja, ama, ganha". O asterisco antes da raiz significa que ela não é comprovada, que não há registro dela - justamente pelo PIE ser uma tentativa de reconstrução...

Logo após, o autor copia descaradamente do dicionário etimólogico que está consultando, para escrever que uma outra família de quereres e desejares também vem de uma raiz do PIE, *wel-.*wol-, "ser agradável, desejável"; inglês will, alemão wollen, francês vouloir, grego elpis, latim volo, velle (voluntas, velleitas, voluptas), algumas coisinhas do sânscrito como vrnoti, "escolhe, prefere", e derivados.

Outra raiz do PIE, *gher-, "desejar, querer", vai viajar muito e virar o khrestai - "faltar, querer" - grego, que passa pelo kharisma, e que vira hortatório, além de peripatetices na Índia.

Outras palavrinhas gregas para desejo e correlatos: thelô e thelema, epithumia - "apetite, desejo, vontade" -, orexis - "fome, desejo, vontade, yearning (adoro esta palavra)" -, boulêsis - "desejo, vontade, deliberação", e a mais interessante, thumos, que serviu para batizar um órgão corporal útil somente para a pirralhada e que dizia-se ser a sede da alma, da vontade, e consequentemente ficou com o significado de "paixão".)

Este é outro dicionário, em uma versão papélica, que provoca muitos momentos de diversão e angústia. Vamos sinonimizar!

desejo: 1. alvitre: arbítrio, cabeça, capricho, determinação, escolha, fantasia, gosto, juízo, (bel-) prazer, predileção, preferência, querer, vontade. 2. ambição: apego, avidez, cobiça, cupidez, febre, fome, gana, sede. 3. anseio: anelo, pretensão, propósito. 4. apetência: ânsia, apetite, fome, vontade. 5. arroubo: arrebatamento, disposição, elã, entusiasmo, exaltação, fervor, ímpeto, impulso, interesse, rasgo, rompante. 6. aspiração: anseio, impulso, querer, vontade. 7. cisma: capricho, devaneio, extravagância, inspiração, obstinação, sonho, teimosia, veleidade, veneta. 8. lubricidade: apetite (sexual), atração, excitação, lascívia, tentação, volúpia.

À procura do desejo: alguns trechinhos...

...e o que mais vier a ser adicionado no futuro.

Analogistéon de hōs tôn epithumiôn hai mén eisi phusikaí, hai de kenaí, kai tôn phusikôn hai men anankaîai, hai de phusikai mónon; tôn de anankaíōn hai men pros eudaimonían eisin anankaîai, hai de pros tēn toû sṓmatos aokhlēsían, hai de pros auto to zên.

Da mesma forma é preciso considerar que, entre os desejos, uns são naturais, os outros vãos/vazios (kenos), e que entre os naturais uns são necessários, e os outros somente naturais. Entre os [desejos] necessários uns são para a felicidade (eudaimonia), outros para a ausência de sofrimento do corpo, e outros para a própria vida.

Epicuro, Carta a Meneceu, 128.

Ver Platão (Rep. 8.558d) para distinção entre desejos (epithumias) necessários (anankaious, também “de acordo com a natureza - physis, 8.558e) e não-necessários.

“die Einheit des Selbsbewusstsein mit sich selbst, zu seinem Wesen; diese muss ihm wesentlich werden; das heisst, es ist Begierde überhaupt”

"... quer dizer, consciência de si é o estado de desejo (Begierde), em geral."

Hegel, Fenomenologia do Espírito, parte IV.

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.

Minha transliteração do grego antigo

(não uma postagem em si; serve somente como referência para notas futuras)

Macron para indicar as vogais longas; sem micron.

O espírito fraco (psilé) não é indicado; somente o espírito forte (daseîa), que toma a forma de um “h” antes de uma vogal.

O acento grave (bareîa) não é indicado; somente o acento agudo (oxeîa) é indicado.

Vogais acentuadas com circunflexo indicam perispōménē (que é a subida e a queda do tom na mesma vogal, que naturalmente é sempre longa).

O iota subscrito (hypogegramménē) toma a forma de um “i” escrito depois da vogal, que naturalmente é sempre longa.

Algumas letras e conjunções: χ = kh; υ = u (ou y); ζ = z (pronúncia entre zd e dz); ξ = x (pronúncia ks), γξ = nx; γγ = ng, γκ = nk.