sábado, 8 de março de 2008

Moisés no Daime

Não consigo entender a indignação das pessoas perante proposições como a seguinte: Moisés, considerado o principal profeta da religião judaica, pode ter ingerido uma substância semelhante à ayhuasca, conhecida no Brasil como chá do Daime.

Qual o problema? "Uma ofensa contra a religião"? Ah, por favor. Moisés não comia, não cagava, não respirava? O psicólogo acima propõe uma teoria que pode ter um fundo de verdade, ou não - esta linha de pesquisa que poderíamos chamar de estudos sobre religião e etnomicologia. Já foi proposto que o vedismo antigo nasceu do culto do soma, que pode ser um cogumelo; outro propõe que os antigos Mistérios gregos tinham como base uma bebida que continha alcalóides do esporão do centeio; essas propostas todas, o que há de tão desrespeitoso nelas?

Afinal, como um professor me disse: o fígado é o mesmo para todos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Arte e vida, vida e arte?

Em poucas palavras: no ano passado um artista costa-riquenho, Guillermo Vargas "Habacuc", pegou um cachorro vira-lata das ruas e amarrou-o em um canto de uma exposição artística, perto de uma parede onde se encontrava escrito, com ração de cachorro, a frase "és o que lês". O cachorro, sem água e sem comida, morreu de inanição.

Alguns outros detalhes podem ser lidos aqui. E um pequeno videozinho para incitar emoções.

Certo ou errado? Sádico perverso ou artista militante? Cegos ou tolos? O que você acha?

Moralmente acho condenável, e artisticamente acho tolo e irresponsável. Se o objetivo do Guillermo era suscitar discussões, fazer pensar e refletir sobre determinada ocasião - seja a morte da Natividad ou a morte da bezerra - ele poderia suscitar isto, como milhares de outras pessoas fizeram antes, sem ter que matar um cachorro de fome.

E a Bienal de Honduras de 2008 pede que ele faça a mesma performance. Daí já é demais. Quantos cachorros vamos ter de matar?

Devo agradecê-lo, contudo, Guillermo, por proporcionar-me uma das cenas mais difíceis de tirar da cabeça: as pessoas discutindo - arte? - lá no salão, enquanto o cachorro esfomeava. O carinha fumando o cigarro deu o toque especial. Alguém manda a foto pra ele colocar na parede da sala, por favor?

E, contudo, eu também faço parte de tudo isto. Consigo colocar-me no lugar do moço do cigarro com mais facilidade que a minha consciência me permitiria.