sábado, 20 de junho de 2009


(Möbius Strip II, 1963, MC Escher)

P: Por que a galinha atravessou a faixa de Möbius?
R: Para chegar ao mesmo lado.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Lições de um sesshin


Há um boi:
ele é branco,
pasta acima,
dorme embaixo.

Ou é o contrário?

[Para aqueles que se perguntam WTF é um sesshin, aqui vai uma breve descrição. As belas fotos de Michel Seikan aqui.]

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Burnout? Esqueça: o maior problema do ambiente corporativo é o boreout

[título da postagem inspirado – ou plagiado, as you like it – em/de um artigo do Times, assim como o testezinho abaixo também é de lá]

Burnout, aquela crise de estresse prolongado - que muitas vezes não parece estresse - é um luxo de gente que realmente se estalfa no trabalho e na vida. O resto se vira com o boreout, e você tem a típica vida de escritório.

O boreout é revolucionário, pois ele desafia a concepção atual de "horas de trabalho" pagas. Fulano tem um contrato de 8 horas de trabalho por dia - ou melhor, de comparecimento ao ambiente de trabalho. Se ele vai trabalhar ou não acabou virando tarefa do gerente - que nesse momento pode estar conversando com as colaboradoras sobre a relação homens e mulheres e príncipes encantados. Afinal, é tarde de sexta-feira.

Gente que enrola para fazer qualquer atividade, gente que finge fazer hora extra, ou almoçar no escritório, para parecer estar mais tempo no trabalho, e gente que fica falando no telefone com voz séria para fazer parecer que é um assunto profissional - em vez de ficar olhando para a parede, olha para o digg.com, ou fica horas planejando aquela festa do departamento.

Principalmente no trabalho de escritório é muito, mas muito mais fácil boreoutizar: as novas tecnologias facilitam horrendamente. Existem até páginas de relacionamento com uma versão discreta, pronta para ser usada na fuça de seus coworkers, e softwares que proporcionam uma saída rápida de qualquer programa em andamento, ou que proporcionam fachadas na tela do computador.

Eu, pessoalmente, detesto a história de "tantas horas". Acho uma perda de tempo. Gostaria de poder trabalhar por trabalho concluído: você tem tantas tarefas, faça a sua agenda e entregue o necessário no tempo previsto.

Como sei, contudo, que não arranjamos forma melhor de organizar o trabalho atual - principalmente o trabalho em equipe -, posso até aturar. Se não tenho o que fazer, contudo, fico nervoso, pensando no que poderia estar fazendo por aí - lendo Allende, comendo, jogando Armada 2, fazendo zazen, correndo - e a falta do que fazer é mais angustiante do que muito do que fazer.

Boreout, contudo, não é somente um funcionário matar trabalho: boreout é uma analogia de uma "síndrome" que pode ocorrer, nesta situação. A pessoa sente-se cansada e deprimida, dependendo do caso.

Eis um pequeno questionário para verificar a sua boreoutidade.
1 você faz tarefas pessoas no trabalho?
2 Você se sente desmotivado ou entediado?
3 Você finge, algumas vezes, estar ocupado?
4 Você se sente cansado e apático depois de um dia de trabalho, mesmo não tendo se estressado no escritório?
5 Você está infeliz com o seu trabalho?
6 Você acha o seu trabalho sem sentido?
7 Você poderia terminar as suas tarefas mais rápido do que você faz atualmente?
8 Você está com medo de trocar de emprego por que você pode ter um corte de salário?
9 Você manda e-mails pessoais para seus colegas durante o horário de trabalho?
10 Você tem pouco, ou nenhum, interesse em seu trabalho?
(imagine quanto da bloguice do mundo é escrita em um período de boreout...)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um Ano Vivendo Biblicamente

A. J. Jacobs, depois de ler toda a Enciclopédia Britânica, outsourcear o seu trabalho para a Índia e outros experimentos, decidiu levar os preceitos bíblicos ao pé da letra durante um ano.

O resultado é um livro, uma barba, uma serie de dicas interessantes e uma TED talk. Dêem uma olhada tanto no site quanto na fala deste jornalista de sorriso muito simpático.

Com uma só palavra

Não somente o vento dos acontecimentos me agita conforme o rumo de onde vem, como eu mesmo me agito e perturbo em conseqüência da instabilidade da posição em que esteja. Quem se examina de perto raramente se vê duas vezes no mesmo estado. Dou à minha alma ora um aspecto, ora outro, segundo o lado para o qual me volto. Se falo de mim de diversas maneiras é porque me olho de diferentes modos. Todas as contradições em mim se deparam, no fundo como na forma. Envergonhado, insolente, casto, libidinoso, tagarela, taciturno, trabalhador, requintado, engenhoso, tolo, aborrecido, complacente, mentiroso, sincero, sábio, ignorante, liberal, avarento, pródigo, assim me vejo de acordo com cada mudança que se opera em mim. E quem quer que se estude atentamente reconhecerá igualmente em si, e até em seu julgamento, essa mesma volubilidade, essa mesma discordância. Não posso aplicar a mim mesmo um juízo completo, simples, sólido, sem confusão nem mistura, nem o exprimir com uma só palavra.

Non seulement le vent des accidens me remue selon son inclination, mais en outre je me remue et trouble moy mesme par l'instabilité de ma posture; et qui y regarde primement, ne se trouve guere deux fois en mesme estat. Je donne à mon ame tantost un visage, tantost un autre, selon le costé où je la couche. Si je parle diversement de moy, c'est que je me regarde diversement. Toutes les contrarietez s'y trouvent selon quelque tour et en quelque façon. Honteux, insolent; chaste, luxurieux; bavard, taciturne; laborieux, delicat; ingenieux, hebeté; chagrin, debonaire; menteur, veritable; sçavant, ignorant, et liberal, et avare, et prodigue, tout cela, je le vois en moy aucunement, selon que je me vire; et quiconque s'estudie bien attentifvement trouve en soy, voire et en son jugement mesme, cette volubilité et discordance. Je n'ay rien à dire de moy, entierement, simplement, et solidement, sans confusion et sans meslange, ny en un mot.

Michel de Montaigne, "De l'Inconstance de nos Actions", Essais.
A tradução é do excelente livro de Eduardo Giannetti, Auto-engano, fonte de borbulhantes citações diversas.

domingo, 7 de junho de 2009

"Nadador"

(Michael Phelps no começo de Beijing 2008 @ Guardian.co.uk)

O que me encanta é a linha alada
das tuas espáduas, e a curva
que descreves, passáro da água!

É a tua fina, ágil cintura,
e esse adeus da tua garganta
para cemitérios de espuma!

É a despedida, que me encanta,
quando te desprendes ao vento,
fiel à queda, rápida e branda

E apenas por estar prevendo,
longe, na eternidade da água,
sobreviver teu movimento...

Cecília Meireles
Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. Objetiva: Rio de Janeiro, 2001.

sábado, 6 de junho de 2009

Tédio


Nada é mais insuportável ao homem do que estar em pleno repouso, sem paixões, sem atividades, sem distrações, sem aplicações. Ele então sente seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Sem se controlar ele deixa sair do fundo da sua alma o tédio, o negrume, a tristeza, o desapontamento, o rancor, o desespero.

Rien n'est si insupportable à l'homme que d'être dans un plein repos, sans passions, sans affaire, sans divertissement, sans application. Il sent alors son néant, son abandon, son insuffisance, sa dépendance, son impuissance, son vide. Incontinent il sortira du fond de son âme l'ennui, la noirceur, la tristesse, le chagrin, le dépit, le désespoir.


Quando fiquei, uma vez, a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e sofrimentos a que se expõem, na corte, na guerra, onde nascem tantas brigas, paixões, empresas difíceis e frequentemente ruins, etc., eu descobri que todo o mal dos homens vem de uma só coisa, que é a de não saber ficar em repouso em um quarto.

Quand je m’y suis mis quelquefois, à considérer les diverses agitations des hommes et les périls et les peines où ils s’exposent, dans la cour, dans la guerre, d’où naissent tant de querelles, de passions, d’entreprises hardies et souvent mauvaises, etc., j’ai découvert que tout le malheur des hommes vient d’une seule chose, qui est de ne savoir pas demeurer en repos dans une chambre.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mãos frias, coração quente?


Diz o ditado popular, e com um pouco de razão: mãos (e pés) frios são, muitas vezes, uma forma de concentrar o calor na parte mais importante do corpo – vísceras e cérebro.

Durante um tempo cheguei a pensar que era um descendente dos reptilianos de Orion, afinal estou sempre com mãos e pés gelados; entrei, porém, em contato com eles através do meu rádio portátil de ondas longas – através um pequeno paradoxo temporal que envolve a criação do universo, que deixo para outra hora -, para matar a charada, e desconsiderei a hipótese depois de descobrir que geléia de framboesa é altamente tóxica para eles.

Quer dizer, não estou sempre com pés e mãos gelados; isso acontece somente no inverno, em climas frios, e naquele vento terrível que sopra do sul. Qualquer arzinho frio que sopra, e eu fico todo encarangado. As mãos ficam frias e lívidas, com alguns pontinhos arroxeados. Os pés parecem ser perfurados com facas. E posso até estar suando – pouco – debaixo das roupas: as extremidades continuam frias.

A minha tendência hipocondríaca é de começar a googlear a descobrir que existe uma doença, chamada doença de Raynaud, em que justamente isto acontece: a circulação de sangue para as extremidades diminui drasticamente, a partir de fatores como frio ou estresse (ou ansiedade), deixando os dedos brancos, depois azulados (por falta de oxigênio) e depois avermelhados novamente, quando o sangue volta. Coisas do sistema nervoso autônomo.

Olhando as fotos googlicas, porém, vejo que minhas mãos e pés não se parecem muito com aquilo, então me dou o benefício da duvida e fico com fenômenos de Raynaud eventuais – ou simplesmente uma mão fria com mais freqüência. O coração continua quente, e é isto que importa.

Ou não: um experimento que virou hype, recentemente, nos mostra que tendemos a ser mais generosos quando as nossas mãos estão quentes, e tendemos a ser mais generosos com outrem quando as mãos de fulano estão mais quentes. Todo mundo sente uma espécie de aversão, mesmo que leve, por um aperto de mão frio – e se for úmido e mole, temos a pior das impressões antes mesmo de conhecer a pessoa. Eu, pessoalmente, sempre fico receoso de apertar a mão de uma pessoa quando ela está muito fria – o que, como disse anteriormente, é bem freqüente nas temperaturas baixas. Foi mais de uma vez em que botei as mãos nos bolsos, ou segurei uma caneca de chá ou café, ou mesmo esfreguei rapidamente as mãos nas calças, ao saber que teria de apertar a mão de alguém. Afinal, a primeira impressão é a que fica.

Tem dias que desejaria cumprimentar as pessoas somente com um aceno, mesmo gostando de tocar um pouco nelas.

Segurar uma xícara de chá ou café é, no mínimo, uma solução irônica para resolver o problema das mãos frias. Por quê?

Abaixo vão umas diquinhas que coligi nos últimos tempos, e outras tantas que tento utilizar no cotidiano.

A primeira (e que meu Jejujinho me ajude) é evitar a cafeína – presente obviamente no café e em certos chás. A cafeína pode ser um bom broncodilatador, mas também é um bom vasoconstritor, como muitos estimulantes. Do mesmo modo, talvez tomar Viagra esquente as mãos; alguém descubra e me envie.

O mesmo vale para o cigarro: evite pelas mesmas razoes do café.

O velho chá de gengibre – e o gengibre mesmo, em suas várias formas – dá um calorão muito bom. Gingko biloba, aquele que aumenta o fluxo de sangue no cérebro e ajuda na memória, também pode ajudar. Cuidado com as interações com outros medicamentos.

Alimentação com boas quantidades de ômega 3 e fazer exercícios é bom, mas o engraçado é que exercício demais tende a fazer com que o sangue vá para os órgãos vitais, fora do tempo do exercício, do que exercício moderado.

Siga o conselho da mamãe e coma bem e com freqüência.

E o bom e velho vestuário. Como diz a Sonia, bote uma faixa de um tecido quentinho nos quadris que espanta qualquer friagem. Como o seu problema, amigo, não é no centro, mas nas pontas, apele para as luvas e meias. Se você é como eu e sente que a luva somente embala uma mão já fria, saiba que em algum lugar do mundo existem luvas hi-tech (fibras de prata e o quatrilho) que prometem reverter a entropia e trazer o calor de volta – mesmo que isso também envolva um certo paradoxo temporal e quebras das leis da física.

Mas você quer, na verdade, um consolo? Experimentos mostram que os ratinhos frios vivem mais que os ratinhos quentes. Isto, porém, fica para a próxima.