domingo, 17 de julho de 2005

Visita ao jardim felino

Mais gatos.

Visita ao Jardin Botánico: uma piada, mas uma piada até gostosinha, quando se pensa na contraparte carioca.

Mas enfim, eram árvores, era mato, era solo, era grama, embora eu nao conseguisse cheirar coisa alguma pois está um frio do caralho, aqui.

E eu que, no meio da viagem tenho tido antipatia pela idéia urbana, tudo que ela representa e suas respectivas baladas;

eu, que comprei Whitman em Buenos Aires e gemi de alegria e reconhecimento quando soube das preferências literárias de Borges,

nao podia reclamar muito, de qualquer mato que fosse.

Eram muitos gatos no jardim botânico. Dezenas de gatos quase selvagens, em grupos solitários no sol, lambendo-se na grama, caçando pequenas coisas no mato. Eles realmente dominam o parque, e entrar ali de noite deve ser uma experiência felina.

quinta-feira, 14 de julho de 2005

Gatos portenhos

Mais uma dos portenhos: gatos. Ontem de tarde fui passear pela Corrientes, em sebos, estas coisas, e praticamente em todos havia algum gato, daqueles peludos, velhos, quase cegos.

Na lojinha natural do restaurante vegetariano também tinha um, o "mesmo", e nao fiquei surpreso quando, na volta para o albergue, vi o "mesmo" lambendo-se todo em cima de uma máquina de xerox, em plena avenida 9 de Julho.

A gripe foi realmente fortíssima, e somente agora estou a melhorar um pouco, depois de dois dias de febre.

terça-feira, 12 de julho de 2005

Lembranças

E nada como relembrar o atentado em Londres, que só fui saber ontem de tarde, para reduzir inda mais o meu interesse por urbanices.

Nao sei se sao os meus recém 22 anos, mas me sinto tao velho E tao menino ao mesmo tempo. Deveria ter ido a um outro lugar, e nao a Buenos Aires, agora.

Me sinto muito ridículo por haver criado raízes tao profundas em Florianópolis, para entao esquecer que eu as criei. Um outro eu, na verdade, mas eu. De qualquer maneira, os dias vao e vem, e meus medos de menino (e sao sempre de menino, os medos) misturam-se, jogam e tramam em si mesmos, uns com os outros.

É o mesmo com as ânsias; dois pesos, duas medidas.

Por falta de uma palavra disponível (uma boa disponível, que é zen, tem conotaçoes dantescas, como ando percebendo em conversas com os meus amigos), este estado de atençao sobrepairante (empréstimo psicanalítico) é interessante e... quixotesco.

Encontrei uma ediçao completa do Don Quijote por 19 pesos.

Buenos Aires

Incrível o número de cafés, de parrilladas e de medialunas aqui em Buenos Aires.

É basicamente isto que eles comem; um monte de carne, muita manteiga. As panaderías fazem um ótimo trabalho, devo confessar.

Assisti hoje, por 5 argentinos, Antígona, num teatrinho de uns 30 lugares. Fiquei feliz porque, sendo a primeira vez que via Antígona (nem havia lido Sófocles), nao me restou muito estranhamento com o castellano falado. O texto nao era original, podia-se ver claramente; havia umas modificaçoes. Agora estou vendo o texto original.

Buenos Aires me parece muito, mas muito com Sao Paulo, descontando o fato que em Sao Paulo me sinto em casa, e aqui nao. É o meu terceiro dia aqui e, sinceramente, nao estou realmente adorando.

O albergue em que estamos hospedados, Lime House, é sujo, barulhento, cheio de gente de muitos lugares. De cara nao gostei dele; todos aqui o consideram meio funky, mas agora fiz as pazes. Barato: 16 pesos por dia.

Descobri que o câmbio constante de línguas me faz perder a fluência do inglês, mas a do castellano continua melhorando.

Antes de Buenos Aires estivemos no Uruguai. Desculpem-me os uruguaios, mas detestei aquele país e nao quero voltar novamente, muito menos para Montevideo. Se tem cidade que eu nao gostei, foi de Montevideo. Estava frio de rachar, o que nao é ruim em si mesmo; mas o pessoal todo era terrivelmente antipático. Fomos assaltados lá também, mas fizemos por merecer. Depois de Montevideo fomos a Colonia del Sacramento, uma cidadezinha pequena, de onde saí com o cheiro de parrilladas até o osso. Adorável, de qualquer maneira, ficamos num albergue delicioso, y me quedé muy borracho en sus calles. A parte histórica era linda. E creio que isto era tudo para se ver no Uruguai.

Pegamos o Buquebus, a balsa, até aqui. A balsa era muito kitsch.

Umas das coisas que me deixa de muito mal-humor aqui em Buenos Aires é que, nas baladas, ou tem-se de saber exatamente onde vais, exatamente, e nunca se sabe quando vai poder entrar ou nao. Tentamos a entrada, neste sábado, numa disco (indicaçao do carinha do albergue) que parecia muito boa; falamos com o segurança-armário da porta, e ele simplesmente falou que nao podíamos entrar. Wrecked Machines ia tocar no Niceto Club; fomos lá eu e William, e voilà: nao tocou. Fomos a Palermo, atrás de uns bares com drum'n'bass, outra orientaçao de outro cara do albergue, e voilà: todo cerrado.

Estou perdendo minha paciência com esta cidade. Ao menos, os passeios turísticos normais sao muito belos.

A feira de San Telmo, por exemplo. Com uma feira desta nao tem, sinceramente, como uma pessoa nao fazer um estilo proprio. Eram milhares de quinquilharias e preciosidades, desde pregos enferrujados até Baccarat, de vitrolas tocando Gardel a coleçoes de caixinhas de fósforos antigas. Jóias, roupas, chapéus, acessórios gaúchos, regionais.

E o pouco que vi de tango, na rua mesmo, foi suficiente, por ora. Lindo. Era impressao minha ou a mulher ficava olhando-me fixamente?

Tenho ainda mais uma semana, dentro do meu cronograma. Descontando a fortíssima gripe que peguei, o que me deixa temporariamente desabilitado para beber ou sair de noite (amanha é sempre outro dia), muitas coisas mais virao.

Só sei que, se morasse aqui, ia viver tomando vinho. Nao é nenhuma França, mas há muitos vinhos aqui, na faixa dos 4-6 pesos, que sao incomparavelmente melhores que os vinhos do mesmo preço no Brasil. Os mais caros, contudo, custam o mesmo.

sábado, 2 de julho de 2005

Não ter net em casa, ficar dependendo de amigos para ver orcutes e coisas mais, é uma situação que dispõe a um monte de coisas, menos escrever tópicos & tópicas interessantes num blogue.

Fiquei contente por ver, ontem, dezenas de poesias incompletas numa gaveta da minha mesa. Tenho o que escrever. Aliás. A palavra "contágio" está reboando em mim faz tempinho; sim, Madalena, foi "Mil Platôs" que eu li.

Vou para Buenos Aires em breve e estou excitado e ansioso.