sábado, 7 de maio de 2005

Sonhos

Tem sido dias, estes últimos, de devaneios oníricos profundos. Como é chamado aquele momento entre o sono e o acordar, em que muitas pessoas experimentam delírios tão reais? Estado hipnagógico? Pois, tenho redescoberto o tal estado hipnagógico, o que tem me levado a reconsiderar algumas questões sobre teorias psicanalíticas, o que não vem ao caso agora.

Três dias atrás tive um sonho... como dizer... desconcertante. Não digo medonho, nem assustador, mas foi um sonho com um toque de amargo na língua; algumas coisas boas sabem a ressaibos amargos. Sonhei que estava em minha cama, deitado supino, entrecoberto por um edredom, desnudo na parte de cima. Brincava com um bebê, um bebê nos meus braços, um menino, ao que me parece. Uma fofura de bebê. Balanço ele de um lado pro outro e, numa dessas, percebo algo de errado com a mãozinha direita dele. Viro-o e olho, assustado, que ele era maneta; não tinha a mão. Tinha uma cicatriz em forma de estrela, uma estrelinha vermelha e tão fofa quanto o bebê. E então acordo.

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O meu colchão velho, finalmente, foi embora. Entrou um novo. Depois de um ano de negociações absurdas com MãeMãe, tenho um colchão novo; um colchão de densidade 28, um colchão de gente, um colchão em que posso dormir e acordar sem a sensação de ter sido esmagado por 27 tartarugas galápagos.
Subi com ele rumo ao meu leito, desembrulhei-o com uma devoção e um refinamento espontâneo de gestos, vesti-o com o meu lençol verde-bebê e deitei.
Cada músculo de meu corpo começou a relaxar.
Paraíso na Terra.

O meu velho colchão agora pousa, inerte e na vertical, na parede do porão do prédio. Penso nele, agora. Colchões são objetos fantásticos, em termos de simbologia; pensem nos seus colchões, leitores, e na vida inteira que passam em cima deles, sem o saber.
Desconto, claro, a vida que passo em cima dele, sabendo. Devo dizer, contudo, que por vários n motivos, principalmente familiares, o meu colchão velho não presenciou muitos embates amorosos de deixar marcas, ou cenas de fofura fofuríssima. Posso contar nos dedos das mãos; sempre preferi o colchão (chão, tapete, etc) alheio. Neste colchão novo, espero, as coisas serão diferentes.

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Fiz as pazes com minha irmã; tive de. Ela chegou em casa com um embrulho de jornais fechadíssimo, e falou que era a nossa janta. Era para ser um dos presentes de Dias das Mães, mas MãeMãe nos privou de sua presença; foi ao espaguete da vizinha. Paciência. Os camarões que fritamos no ái-ói, de Laguna, tinham acabado de chegar; fresquíssimos. No primeiro naco, a diferença marcante; o mar em minha boca. Comer camarões congelados é chupar bala com papel.

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Coisas incríveis têm acontecido ao meu redor.

Eu ainda não vou explicar nada disso, mas digo que rio e choro com o diafragma, de qualquer maneira.

Aforismo recém-descoberto, de tão óbvio.

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