quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

Hoje vai ser um dia feliz, pois vou pra gestalt-terapia no meio da tarde,
depois de, é claro, ter caminhado na beira-mangue com o sol e o vento frio gostoso de hoje,
e depois vou num bar com a Mariana, conhecer umas pessoas .
Muito sinistro, não é mesmo, minha gente?


Só achei que vocês gostariam de saber.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Motos e carros

Estou no terceiro dia de moto e já me sinto à vontade em cima da máquina quase-voadora.

É mais ou menos assim: todas as vezes em que fico uma carinha sem tocar na dita cuja, quando volto volto cheio de medos e temores e: "ai que eu já caí, ai que eu já freei quase em cima do palio branco no verão passado, ai que os argentinos não sabem dirigir, ai que eu estou sem óculos, (com óculos) ai que estou com óculos e vou perder metade do campo visual se a minha lente de policarbonato quebrar em mil pedacinhos microscópicos se eu cair quase freando no palio branco de um argentino veranista..."

E então fico todo tenso e chego em casa cheio de dores musculares.

Até o belo dia em que percebo que ajoelhei, tenho que rezar, e com fé. Meto a mão e torço gostoso o acelerador.

Sair de moto sempre é acompanhada de um sentimento de "hoje é um bom dia para morrer". Parece trágico? Mas não é. Não tem nada de triste também não; é uma realidade, uma realidade que clama pela sua atenção e presença de espírito.

Pois pilotar uma moto é uma coisa aparentada e distanciada, ao mesmo tempo, da experiência de dirigir um carro.

Os dois são veículos, levam de um lugar para o outro, dividem o mesmo espaço arterial, obedecem às mesmas regras. E pronto; as semelhanças terminam mais ou menos por aí.
A moto é pequena, não se sustenta em pé. Gasta menos, não é tão rápida, e a aerodinâmica deixa a desejar (mais pela contribuição do piloto que da máquina). A moto convida para que se mexa nela; suas partes simples e expostas suportam a ignorância de mãos novatas.

O carro é resistente e continente em si mesmo; pode levar muita gente e muita coisa, além de servir de santuário e motel, para muitos. Muitos passam por um carro sem saber do que se passa no seu interior; o carro é, assim, mais fácil de ser abstraído (de um motor de combustível fóssil em um chassi com quatro rodas para, simplesmente, "carro", ora pois).

Dirigir um carro é orientar-se em um espaço bidimensional desenvolvendo-se numa tela à sua frente, usando os braços e as pernas. Há uma separação entre o dentro e o fora; o carro comporta vida privada.

A moto envolve o corpo inteiro, brincando com a gravidade, envolvendo mais de três sentidos.

Enquanto os carros, bólidos compactos, afileiram-se um atrás do outro dentro de uma faixa de asfalto, as motos costuram e cortam entre os motoristas, faceiras. O que ganham nisto, porém, perdem logo em que se encontram em uma faixa livre; motos normais nunca conseguem andar muito rápido, e ficam sendo ultrapassadas pelos carros lá de trás...

As motos são constantes e flutuantes, como borboletas; os carros páram e aceleram a toda hora.

Sair de moto é quase sempre um ritual.

Quando se tem um carro, entra-se no carro de qualquer maneira, joga as coisas pro banco de trás, deixa pra acordar no meio do trânsito. As meninas e os meninos de cabelos compridos só se incomodam com o vento. Carro se põe e se tira de todo lugar a toda hora, e entra gente, sai gente, e fica coisa, e vai coisa... e batidinhas sempre acontecem, coisa da pressa do meio da tarde.

A moto não. Em primeiro lugar, ninguém sobe na moto sem capacete; quer dizer, pra alguém pegar uma carona contigo ou precisa ser já da casa, ou estar andando com um capacete debaixo do braço. Daí vem toda aquela dança linda de motoqueiros se aprumando para subir na moto: arruma a mochila, depois enrola a corrente no peito, para então colocar o capacete e, daí sim, óculos para quem usa.

Sobe na moto e vai. De preferência de calça e jaqueta, pois qualquer batidinha é um vôo e é bom pensar em evitar, pelo menos, perder três bifes no asfalto.

Enfim, quando se está em cima de uma moto, se está em cima de uma moto. E ponto.

Femproporex

Ganhei sete comprimidos de femproporex, cloridrato de, duma menina aqui do restaurante.

Guardar pra balada, obviamente. Mas não me furtei de fazer o teste básico: tomei duas cápsulas de Desobesi-m e fui caminhar.

Nada de mais, a não ser o fato de não ter conseguido dormir antes das 5:30 da manhã, e de ter relido, com um sentimento de quase-reverência, todos os textos místicos e espirituais que encontram-se comigo, desde o Shodoka até o Huxley, passando por uma psicodelia do Leary. Um copo cheio de gelo e coca-cola, olha só, um incenso de sândalo, e cigarros light com carvão no meio.

Daí que me lembrei do meu velho cachimbo, esquecido desde o começo da bupropiona, cloridrato de; forrei-o com um fumo bom e lá fomos nós noite adentro, lendo e escrevendo e fazendo tudo, tudo, em câmera lenta.

Respirando devagar, constante, profundo e sempre. E quente; e eu vi que aquilo era bom e que eu poderia estar preso numa casca de noz e me achar o rei dos espaços infinitos, e que viveria de pão, das minhas mãos, para sempre, sem nada mais que cigarros e coca/café/chá.

Nada mais, nada mais.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Uma coisa impressionante. O tráfego de veículos subindo e descendo a avenida Diomício Freitas, Carianos, Florianópolis, foi alto e constante, hoje.

Esta avenida pode dar ou sair do aeroporto, dependendo do lado da rua em que você anda, com um veículo motorizado, claro, pois pedestres estão livres desta restrição.

Daí que tinha um monte de vans, e de carros com placas argentinas, e eu me perguntei, "será que eles vão buscar a família argentina no aeroporto? ou vão deixar o carro aqui mesmo, no estacionamento, até o verão do ano que vem? ou será que estão simplesmente a dar uma voltinha?"

Então eu tive que aproveitar a oportunidade e atravessar. Eu atravessei a avenida quatro vezes, hoje.

Ontem de noite confrontei o meu lado que pensa, que começou a entrar num círculo vicioso dialético em que nada era a resposta de coisa alguma. No lugar de umas coisas encaixarem com as outras de uma forma causal, não necessariamente linear, como o pensamento costuma ser, ontem todos eles se seguiam uns aos outros, se autocompletando para logo depois autonegarem-se, esfumando em algo do qual surgia uma outra coisa que fazia a mesma coisa, over and over again.

Construí 27 teorias psicológicas e metafísicas do caralho, mas vi depois que eram todas a mesma coisa, não necessariamente inúteis, e decidi ficar mesmo com estas que já "existem" e que tem gente trabalhando e suando ferrenhamente com base nelas.

Foi bem legal.

domingo, 9 de janeiro de 2005

Porque é tão fácil escrever poesia que parece boa em inglês?

Isto é pelo fato de
  • eu não ser um falante de inglês desde pirralho e achar que o português é mais ingrato do que realmente é,
  • ou pelo fato de que, esteticamente, take me down to the cities of the future já começa a ter uma nuance poética mínima nos meus ouvidos, enquanto que leve-me para as cidades do futuro ainda precisa de dias de saco cheio em cima do papel, à procura de etimologias e alternativas?
Mesmo assim, eu não preciso me preocupar muito com isto, pois os itálicos acima não são meus, e sim do Infected Mushroom, e o que eles fazem de bom é música mesmo.

mas eu queria ter uma poesiazinha aqui, só pra começar bem e impressionar um pouco

partly coudly and ring copulated
smoke of air and fog nosing up
full moon after bloomingdale
wind hissing thru all dials