Tudo começou quando os psicólogos leram o tal o do Freud.
Na página da Wikipédia sobre "desenvolvimento psicossexual", em inglês, desenrola-se todo aquele papo de "fase oral", "fase anal", de que a criança na fase tal é assim e assado, e que as pessoas que ou param ou regridem a tal fase do seu desenvolvimento são assim ou assado.
Isto não é psicanálise, isto é a psicologia usando vocabulário e palavreado psicanalítico.
O pior, contudo, é quando diz que, no advento da fase fálica, "pelos seis anos de idade", o menino "se apaixona pela mãe" e quer "tomar o lugar do pai". E então todo o drama do complexo de Édipo acontece, e o menino desiste de querer tomar a mãe do pai e se conforma com a castração. E então entra "em latência".
E isto é, realmente, a visão da psicologia do desenvolvimento que se encontra nos manuais.
Para o leigo - ou turista - que se aventura a ler psicanálise, ou este tipo de apresentação causa uma resistência incrível, ou a historinha bem-contada seduz, de alguma forma.
Semana passada tive a excelente oportunidade de ver isto por mim mesmo: uma mãe achou absurda a idéia de que o seu bebê tivesse uma "sexualidade", e ainda mais que esta sexualidade envolvesse ela, a mãe. Eu não tive como responder, na hora, de uma forma adequada ao momento e à ocasião.
Mas, quando ela falou isto, me veio a cabeça a imagem de um bebezinho - vamos chamá-lo de Pedro - que tem um Pedrozinho na cabeça e que tem desejos sexuais pela mãe e que por causa disto quer matar o pai. Isto é ridículo. Isto não é psicanálise. Em primeiro lugar, a criança sequer nasce com um "eu", para Lacan; até mesmo para sacar que ela é um corpo, um corpo separado da mãe, demora um pouco, e demora ainda um tanto mais para juntar os "fragmentos" do seu corpo em uma imagem aceitável - no famoso "estádio do espelho". O eu é uma construção imaginária, um jogo de espelhos. Lacan chama o recém-nascido de "pequeno pedaço de carne", o que não é tão delicado da parte dele.
Sexualidade não é o sexo. Parece óbvio, mas talvez não seja. A libido não é a força dessexualizada que Jung supunha ser, mas também não é somente a vontade de colocar o coisinho no buraquinho. Envolve as excitações corporais e o que fazemos com elas, desde pequenos. A "descoberta" do recém-nascido é que, junto com a satisfação de uma necessidade - fome, por exemplo - houve um "a-mais". O leite vem e mata a fome, mas vem este "a-mais" - o "amor da mãe", falando metaforicamente - que não se pediu.
É claro que o bebê não pediu nada, afinal ele nem sabe que desconforto é aquele que ele sente. O organismo chora, a mãe interpreta: "é fome o que ele tem", e vai lá e dá o peito. A satisfação da fome vem, e com ela o a-mais. É "de brinde". E é este o tipo de coisa que se aprende a pedir do outro - o brinde, o a-mais. Isto é sexualidade, para a psicanálise. A mãe tem prazer em amamentar, o bebê recebe mais do que o leite da mãe.
Continua...
Na página da Wikipédia sobre "desenvolvimento psicossexual", em inglês, desenrola-se todo aquele papo de "fase oral", "fase anal", de que a criança na fase tal é assim e assado, e que as pessoas que ou param ou regridem a tal fase do seu desenvolvimento são assim ou assado.
Isto não é psicanálise, isto é a psicologia usando vocabulário e palavreado psicanalítico.
O pior, contudo, é quando diz que, no advento da fase fálica, "pelos seis anos de idade", o menino "se apaixona pela mãe" e quer "tomar o lugar do pai". E então todo o drama do complexo de Édipo acontece, e o menino desiste de querer tomar a mãe do pai e se conforma com a castração. E então entra "em latência".
E isto é, realmente, a visão da psicologia do desenvolvimento que se encontra nos manuais.
Para o leigo - ou turista - que se aventura a ler psicanálise, ou este tipo de apresentação causa uma resistência incrível, ou a historinha bem-contada seduz, de alguma forma.
Semana passada tive a excelente oportunidade de ver isto por mim mesmo: uma mãe achou absurda a idéia de que o seu bebê tivesse uma "sexualidade", e ainda mais que esta sexualidade envolvesse ela, a mãe. Eu não tive como responder, na hora, de uma forma adequada ao momento e à ocasião.
Mas, quando ela falou isto, me veio a cabeça a imagem de um bebezinho - vamos chamá-lo de Pedro - que tem um Pedrozinho na cabeça e que tem desejos sexuais pela mãe e que por causa disto quer matar o pai. Isto é ridículo. Isto não é psicanálise. Em primeiro lugar, a criança sequer nasce com um "eu", para Lacan; até mesmo para sacar que ela é um corpo, um corpo separado da mãe, demora um pouco, e demora ainda um tanto mais para juntar os "fragmentos" do seu corpo em uma imagem aceitável - no famoso "estádio do espelho". O eu é uma construção imaginária, um jogo de espelhos. Lacan chama o recém-nascido de "pequeno pedaço de carne", o que não é tão delicado da parte dele.
Sexualidade não é o sexo. Parece óbvio, mas talvez não seja. A libido não é a força dessexualizada que Jung supunha ser, mas também não é somente a vontade de colocar o coisinho no buraquinho. Envolve as excitações corporais e o que fazemos com elas, desde pequenos. A "descoberta" do recém-nascido é que, junto com a satisfação de uma necessidade - fome, por exemplo - houve um "a-mais". O leite vem e mata a fome, mas vem este "a-mais" - o "amor da mãe", falando metaforicamente - que não se pediu.
É claro que o bebê não pediu nada, afinal ele nem sabe que desconforto é aquele que ele sente. O organismo chora, a mãe interpreta: "é fome o que ele tem", e vai lá e dá o peito. A satisfação da fome vem, e com ela o a-mais. É "de brinde". E é este o tipo de coisa que se aprende a pedir do outro - o brinde, o a-mais. Isto é sexualidade, para a psicanálise. A mãe tem prazer em amamentar, o bebê recebe mais do que o leite da mãe.
Continua...
1 comentários:
Estou preparando uma série de textos para explicar melhor a Análise do Comportamento. Venho aqui e me deparo com este texto. Coincidência?
Seu texto está ótimo. Já me ajudou. Aguardo ansiosamente pelo próximo.
Abraço, Luchésio.
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