Foi este o culpado.
Com a compra de um aparelho de som da Philco-Hitachi, muitos e muitos anos atrás, você ganhava, totalmente grátis depois de pagar uma nota, o compact disc - uso o termo completo, como de praxe na época - das "Quatro Estações", Vivaldi, Filarmônica Nacional da França conduzida pelo Lorin Maazel.
Tinha eu uma idade indefinida, entre os seis e os nove anos. Logo tomei a ousadia - em uma casa em que, nos primórdios, as grandes tecnologias, como o primeiro 386, só poderiam ser usadas com supervisão de um adulto - de botar pra tocar, na nossa casinha de madeira que tremia com qualquer coisa, deitado naquele tapete de pêlos mil que, admiro, não tenha me matado de rinite.
Eram umas caixas lindas. O som era muito bom. Meses atrás tivemos que, infelizmente, jogar as caixas fora - a única parte do som que eu fiz questão que não fosse dispensada, o resto do equipamento precisava de um bom conserto. As caixas de madeira de 80-90 centímetros de altura, com um grave que jamais esqueço, ainda funcionavam.
Paro de falar, pois estou começando a ter apertos no coração, de arrependimento.
Bem, o que temos hoje, então? Alguém que sabe as "Quatro Estações" de cor. Pego-me imaginando: o se fosse outro o compact disc? Um do Iron Maiden, talvez? Ou uma coletânea de música brasileira, ou de fados portugueses? Ou um de axé-music? Bem, talvez não fizesse muita diferença, ainda mais porque gosto de fados e tenho uma admiração secreta - é segredo! - pela Daniela Mercury (uma das cantoras brasileiras mais versáteis, entenda como quiser).
Mas fica a cena, engraçadinha e interessante: uma criança botando Vivaldi para escutar, mais interessante ainda ao pensar que muita gente já adulta escuta música "erudita" e não gosta nem um pouco.
Pela herança musical, então, vamos todos juntos agradecer àquela corporação que incutiu, nos meus tenros axônios, a compassada, medida e suave, porém terrível, interpretação de Maazel e colegas: dōmo arigatō gozaimashita.
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