"Se você soubesse, de antemão, o quanto a prática ['espiritual', do zen] poderia ser difícil, sequer teria começado." Se não me engano, Albert Low falou algo deste calibre, no seu A vaca de ferro do zen.
O mesmo pode ser dito da vida. Se soubéssemos o quanto ela poderia ser difícil - cotidianamente, paulatinamente, excepcionalmente -, o quanto ela não cessa de nos mandar as benesses e as mazelas cotidianas, sem interrupção, acho que um bom número de nós escolheria, em algum momento, nem sequer ter aparecido - pensamento este evidentemente absurdo.
Tente imaginar que você jamais existiu. Não, não assim, não é pensar em você, seja o que for, olhando para o mundo sem a existência ______ (coloque o seu nome aqui); é pensar que você - que está pensando agora - sequer tenha experienciado um momento de consciência de si, e o mundo continuou. É praticamente inconcebível: podemos pensar a nossa não-existência - de modo até calmo e desapegado - somente se vemos com o nosso ponto-de-vista.
Não dá pra dizer "chega, pode parar" para a vida, por mais "vivido" que você pense estar. É tirar ou pôr. A vida é uma questão de vida ou morte, e não pensa em termos de excessos ou deficiências, de mais ou menos - "chega", "ainda não", "estou cheio/estou vazio".
Que pena. Queria uma banheira de água quente infinda, que não murchasse os dedos nem ardesse os olhos, com uma taça de vinho que não acabasse nunca e sempre mudasse a uva, a idade e o vinhedo, com direito a replay dos melhores momentos, sem ressaca. Ah, como eu queria.
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