João me presenteou com um inusitado: Ser e Tempo, do Heidegger. Juro, juro, juro que tremi nas bases: é uma leitura chatíssima e dificílima. Mas maravilhosa: um verdadeiro desafio intelectual. Dou-me uns 3 ou 4 anos para lê-lo.
O Gato, evidentemente, até fuçou, mas não deu muita bola. Da próxima vez vou esconder atum no meio do livro, pra ele ver o que é bom. Já falei, gente, eu tento fazer de tudo por este gato, mas ele não colabora.
Minha ambição é ler este e A Fenomenologia do Espírito, do Hegel. Mais uns 2 ou 3 anos. Por quê? Porque eu quero. Tou pagando!!
Heidegger é um mistério para mim. Teoria e prática (um filósofo ensina pelo modo como vive, diz Arendt) são nebulosos. Mistério é a palavra exata, muitas vezes.
Por exemplo: no último mês envolvi-me com três livros diferentes, e como já disse, tempos atrás, uma estranha sinergia apossa as minhas leituras, de tempos em tempos: são livros que magicamente caem na minha mão e falam sobre perguntas que estavam, naquele momento, flutuando como escolhos no cais mental, e destas algumas poucas vezes outros escritos ajuntam-se, como coleguinhas de recreio, e apontam para uma mesma coisa ou questão, mesmo que eu não tenha sabido de antemão.
Os livros são: A vida do espírito, o livro póstumo da Hannah Arendt; Sócrates, o feiticeiro, Nicolas Grimaldi, uma brochurinha que encontrei num sebo e levei como curiosidade - graças a D'us - anos atrás, e O que é filosofia? do Deleuze e do Guattari. Este último ficou numa leitura morna, pelo próprio estilo "desterritorializante" dos autores. A Hannah, com seu estilo claro e preciso, foi lida de cabo a rabo, a primeira parte, sobre o pensar. O do Sócrates foi relido em goles fáceis, pois é poético e atina comigo.
Neste livro soberbo, criticado e aclamado, um tanto quanto esquecido - ele não foi terminado, somente a primeira parte está "completa" - Arendt, que investigou as três atividades da vita activa do homem (labor, trabalho e ação) na sua obra-prima, A condição humana, volta-se para a vita contemplativa, arrematando o ponto deixado em aberto. Pensar, querer e julgar são as atividades da vita contemplativa, e a parte completa é aquela que fala sobre o pensar.
Esta é uma questão que me tem pego, ultimamente: o que é o pensar? Nunca consegui, e não consigo, pensar o pensar e a filosofia como simples intellectual enterprise, como produção de conhecimento, como puro uso do intelecto e produção de conceitos. Evidentemente isto acontece, e todos sabemos que produzir "especulações metafísicas" é tarefa facílima, dados um pouco de leitura, cultura e tempo livre. Mas, para a mesma autora que defendeu a tese, em outro livro (Origens do totalitarismo), que levar uma ideologia até as seus extremos lógicos foi característica importante de todos os regimes totalitários, o que seria então o pensar?
Arendt diz que ficou estupefata com incapacidade de Eichmann de pensar. Eichmann, porém, era um homem relativamente culto - pelo menos educado - chegando a citar Kant em seu julgamento. A "banalidade do mal", conceito criado por Arendt, reside no fato que Eichmann era um cara comum, preocupado com sua carreira na SS, sem nenhum traço específico de antisemitismo ou "doença mental". Para ela, Eichmann simplesmente não conseguia "pensar".
Que é o pensar, portanto, é o que Arendt tenta responder, numa espécie de antologia e argumentação. E é uma pergunta - e uma possível resposta - interessantíssima. Se possível, tentarei digitar a introdução e colocar aqui, para quem quiser.
O que, particularmente, me chamou a atenção, foi uma citação de Heidegger (referenciado no corpo do livro) colocada como epígrafe à introdução:
Fofoca: Heidegger e Arendt foram amantes, uma época. Dá-lhe Diotima!
(continua...)
O Gato, evidentemente, até fuçou, mas não deu muita bola. Da próxima vez vou esconder atum no meio do livro, pra ele ver o que é bom. Já falei, gente, eu tento fazer de tudo por este gato, mas ele não colabora.
Minha ambição é ler este e A Fenomenologia do Espírito, do Hegel. Mais uns 2 ou 3 anos. Por quê? Porque eu quero. Tou pagando!!
Heidegger é um mistério para mim. Teoria e prática (um filósofo ensina pelo modo como vive, diz Arendt) são nebulosos. Mistério é a palavra exata, muitas vezes.
Por exemplo: no último mês envolvi-me com três livros diferentes, e como já disse, tempos atrás, uma estranha sinergia apossa as minhas leituras, de tempos em tempos: são livros que magicamente caem na minha mão e falam sobre perguntas que estavam, naquele momento, flutuando como escolhos no cais mental, e destas algumas poucas vezes outros escritos ajuntam-se, como coleguinhas de recreio, e apontam para uma mesma coisa ou questão, mesmo que eu não tenha sabido de antemão.
Os livros são: A vida do espírito, o livro póstumo da Hannah Arendt; Sócrates, o feiticeiro, Nicolas Grimaldi, uma brochurinha que encontrei num sebo e levei como curiosidade - graças a D'us - anos atrás, e O que é filosofia? do Deleuze e do Guattari. Este último ficou numa leitura morna, pelo próprio estilo "desterritorializante" dos autores. A Hannah, com seu estilo claro e preciso, foi lida de cabo a rabo, a primeira parte, sobre o pensar. O do Sócrates foi relido em goles fáceis, pois é poético e atina comigo.
Neste livro soberbo, criticado e aclamado, um tanto quanto esquecido - ele não foi terminado, somente a primeira parte está "completa" - Arendt, que investigou as três atividades da vita activa do homem (labor, trabalho e ação) na sua obra-prima, A condição humana, volta-se para a vita contemplativa, arrematando o ponto deixado em aberto. Pensar, querer e julgar são as atividades da vita contemplativa, e a parte completa é aquela que fala sobre o pensar.
Esta é uma questão que me tem pego, ultimamente: o que é o pensar? Nunca consegui, e não consigo, pensar o pensar e a filosofia como simples intellectual enterprise, como produção de conhecimento, como puro uso do intelecto e produção de conceitos. Evidentemente isto acontece, e todos sabemos que produzir "especulações metafísicas" é tarefa facílima, dados um pouco de leitura, cultura e tempo livre. Mas, para a mesma autora que defendeu a tese, em outro livro (Origens do totalitarismo), que levar uma ideologia até as seus extremos lógicos foi característica importante de todos os regimes totalitários, o que seria então o pensar?
Arendt diz que ficou estupefata com incapacidade de Eichmann de pensar. Eichmann, porém, era um homem relativamente culto - pelo menos educado - chegando a citar Kant em seu julgamento. A "banalidade do mal", conceito criado por Arendt, reside no fato que Eichmann era um cara comum, preocupado com sua carreira na SS, sem nenhum traço específico de antisemitismo ou "doença mental". Para ela, Eichmann simplesmente não conseguia "pensar".
Que é o pensar, portanto, é o que Arendt tenta responder, numa espécie de antologia e argumentação. E é uma pergunta - e uma possível resposta - interessantíssima. Se possível, tentarei digitar a introdução e colocar aqui, para quem quiser.
O que, particularmente, me chamou a atenção, foi uma citação de Heidegger (referenciado no corpo do livro) colocada como epígrafe à introdução:
O pensamento não traz conhecimento como as ciências.Isto eu chamo de "quebrar os braços", "puxar o tapete", ou "fazer a egípcia".
O pensamento não produz sabedoria prática utilizável.
O pensamento não resolve os enigmas do universo.
O pensamento não nos dota diretamente com o poder de agir.
Fofoca: Heidegger e Arendt foram amantes, uma época. Dá-lhe Diotima!
(continua...)