Confesso: fui um idiota até o presente momento.
Como passei grande parte dos meus anos de consciência sem me angustiar tanto, sem perder a esperança, sem sentir esta vontade de morte que me tomou recentemente? Uma resposta seca: pensando que muitas das coisas que aconteciam com os outros não aconteceriam comigo.
Sempre tive esta confiança arraigada, embora sutil, de que as coisas "ruins" aconteciam com as pessoas por uma espécie de erro subjetivo. Todas as moléstias que afligem-nos cotidianamente, depressões, loucuras, paixões, todas eram vistas por mim como uma coisa facilmente remediável. Não posso dizer como, exatamente. Talvez tenha vergonha de dizê-lo. As pessoas "de boa" não teriam estes problemas. Seriam desequilíbrios, ou qualquer coisa do tipo. Em termos "naturais", tais coisas eram exceções, exageros.
Talvez possa ser assim. Como saber?
Mas eu sabia que certas coisas não poderiam acontecer comigo. Era sempre coisas que aconteciam com os outros, e não aconteceriam comigo. Isso dá uma espécie de tranquilidade, não? Nada mais tranquilizador de que tomar esta posição imparcial, um tanto de fora, de onde se pode olhar e simplesmente constatar.
Como passei grande parte dos meus anos de consciência sem me angustiar tanto, sem perder a esperança, sem sentir esta vontade de morte que me tomou recentemente? Uma resposta seca: pensando que muitas das coisas que aconteciam com os outros não aconteceriam comigo.
Sempre tive esta confiança arraigada, embora sutil, de que as coisas "ruins" aconteciam com as pessoas por uma espécie de erro subjetivo. Todas as moléstias que afligem-nos cotidianamente, depressões, loucuras, paixões, todas eram vistas por mim como uma coisa facilmente remediável. Não posso dizer como, exatamente. Talvez tenha vergonha de dizê-lo. As pessoas "de boa" não teriam estes problemas. Seriam desequilíbrios, ou qualquer coisa do tipo. Em termos "naturais", tais coisas eram exceções, exageros.
Talvez possa ser assim. Como saber?
Mas eu sabia que certas coisas não poderiam acontecer comigo. Era sempre coisas que aconteciam com os outros, e não aconteceriam comigo. Isso dá uma espécie de tranquilidade, não? Nada mais tranquilizador de que tomar esta posição imparcial, um tanto de fora, de onde se pode olhar e simplesmente constatar.
E ir correr na Beiramar.
Até que alguma coisa abalou esta certeza subjetiva, esta certa imortalidade do meu eu. E passei, como de praxe, para o lado contrário.
Um dos antigos estóicos dizia: eu sou humano e nada do que é humano me é estranho. Quando algo acontecer a mim, quando for preso, quando estiver sofrendo as dores de algo, não posso dizer que era uma surpresa.
Queria ser um estóico, ao menos por uns momentos.
Pois agora sinto este excesso de humanidade. Tudo o que acontece com os outros pode acontecer comigo. Algumas coisas acontecerão de certeza, outras são probabilidades. Mas, de modo potencial, tudo pode acontecer, e de certo modo tudo já aconteceu.
Depois do suicídio do meu amigo, recente, numa conversa com um amigo eu dizia não ter mais certeza de que "as coisas acabam com a morte". Deve ter soado uma declaração um tanto esotérica. Mas, de certo modo, parece-me um tanto assim. Todas as vidas humanas passam por aqui. Algo acaba.
Existe um assassino, um estuprador, um ladrão, em mim. Modo de dizer. Todas estas coisas estão em mim. Poderia ser. Não queria colocar um peso moral nisto, mas é terrificante perceber que talvez não dá mais pra distanciar-se tanto das coisas que olhamos e que nos arrepiam de pavor. As coisas que preferiríamos deixar do lado de fora de casa, e nos proteger com unhas e dentes.
Pois, de certo modo, eu talvez tivesse um pouco de razão: em termos naturais todas as paixões e loucuras e ideais sejam uma desnaturalidade. Um desequilíbrio. Mas afinal, onde é senão com a "morte", com a entropia, que um equilíbrio seria atingido?
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