sábado, 31 de maio de 2008

Demonstração

Os sonhos neuromânticos retornam a assombrar a casa paterna.

Afinal, de que mais podemos falar uns aos outros, se não através de deliciosos aparelhos e aparatos? O sintetizador, invenção tipicamente ocidental e sécula víntica, toma o lugar da nossa produção textual-musical. Cultuamos o sintetizador; não em suas pequenas peças de plástico e madeira. Vemos o sintetizador, que sintetiza em si madeira e plástico: que digitaliza o som, que demonstra que o que antes era características de materiais concretos e visíveis - conchas, sapatos, cordas de crina de cavalo, pinos, sinetes, gatos pardos - agora pertence a um reino hipernatural, um reino gótico de ondas de alcance máximo, de arrepios eletrônicos no velho deus-demônio cartesiano.

Supernatural, de über não podemos mais, todos os über estão head-over-feet.

Quem teme os amantes da música eletrônica?

O divã freudiano na discoteca; sonhos onanistas com o pé da mesa, ou passos surdos na lama de uma rave chuvosa?

Ó, o pai que se torna mais surdo, mais mudo, mais múltiplo. Pequenos pais, pais a serem olhados na distância de um horizonte de eventos cada vez mais distante e somente-no-futuro; o nachträglich aponta não mais somente para antes, mas para o depois do antes.

Então... não cultuamos o sintetizador. Temos nos espelhos em que nos vemos um pequeno chamuscado para qual não temos nome, e não costumamos nos perguntar, na cálida frigidez da música e dos protocolos antiquados já na porta de entrada, que apesar disto sucedem-se em uma rapidez de epiléptico - temos nestes espelhos borrões verdes de ferrugem, maquiagens de espelhos; olha, os espelhos também estão maquiados.

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