Completei 24 anos de vida, na semana passada, dia 17.
Ganhei poucos presentes. O que se sucede? Com o passar dos anos, as pessoas dão menos presentes? Sou eu e a minha talvez falsa modéstia em dizer que não precisa de nada, somente a "presença"? Ou é a falsa modéstia dos outros? A situação econômica?
E nem mesmo fui caprichoso em alguns pedidos... me perguntaram o que eu queria, eu respondi: "um abajur", pois preciso de um abajur para meu quarto. Talvez tenha sido somente para demonstrar a intenção de me dar um presente... talvez a própria intenção de me presentear, por si mesma, tenha sido o meu presente. Tempos estranhos, em que nos presenteamos com intenções.
Ainda estou esperando o meu exemplar de "O idiota". Existem outros itens, também, desde 15 reais até a seu rendimento anual. Ainda está em tempo; aproveite.
Mas eu descobri o que eu gostaria muito de me dar de presente. Sim, eu me dar de presente: este papo de presente entra em cena no aniversário, mas todo dia é dia de índio e de presente - uma flor, qualquer coisa. Eu me daria de presente a qualquer dia, este presente. Eu gostaria de ter, sempre do meu lado, um alguém ou algo que me criticasse, com argúcia, inteligência, ironia, finura e firmeza.
Não precisa ter um ar de intelectual e usar óculos de retângulo aro grosso, me olhar por cima e jogar sua torrente ácida; tampouco seria alguém com "experiência", um realista, uma pessoa mais dura e vivida que sabe do que a vida "é feita" e que me puxasse para baixo. Besteira. Nem um tampão, nem um tapado. Podia ser uma pessoa tão estúpida quanto eu; perdida nos mesmos rodeios, um tanto hesitante, um tanto entediada em muitos momentos.
Não, não estou falando de um amor, de um relacionamento. Não, gente, nada disso. Estou falando de um crítico, ou conselheiro, a palavra que melhor lhes descer.
Podia ser um amigo imaginário, uma alucinação, um diálogo interno comigo mesmo. Que diferença faz? Nenhuma, a não ser que se faça na rua e assuste os cavalos. Podia ser um homem jovem, ou uma mulher velha; idoso ou jovem, menos criança - uma criança assim pode me assustar. Um animal também não conviria muito: ia achar muito estranho um animal falante. Pelo menos no começo.
Alguém bem-pensante e bem-falante. Nada de circunlóquios ou preleções; nada de um mestre para me dizer o certo, ou um sacerdote para me contar do errado. Alguém que sabe que critica, mesmo enredado nas mesmas coisas que critica; alguém que sabe que toda firmeza pode ter algo de agressivo, mas somente por um momento; termina-se com um café, depois. Nada de carinhos ou abraços excessivos: eles tendem a atenuar demais os efeitos das palavras.
Eu queria uma outra palavra para atenuar as minhas arestas; uma outra palavra para me tirar um pouco fora daquilo que eu presto tanta atenção: a mim mesmo, à minha miséria e à minha salvação.
Eu queria me levar menos a sério. E isto, muitos devem saber, é facílimo de dizer - e tão complicado para vivenciar.
Este lugar - este lugar que eu delineei e poderia continuar a fazê-lo, embora de fato seja muito simples - é um lugar complicado. Poucas pessoas assumem este lugar. Em sua maioria, amigos, durante pouco tempo, quando não entram naquilo que amigos gostam muito de fazer: fantasiar conjuntamente.
Este lugar é um lugar: não é uma pessoa, ou um título. Como eu falei, pode ser uma alucinação, se for o caso. O problema das alucinações é que elas costumam ser bastante perturbadoras - e isto não tiro da minha experiência pessoal, que é muitíssimo pobre em alucinações.
Ganhei poucos presentes. O que se sucede? Com o passar dos anos, as pessoas dão menos presentes? Sou eu e a minha talvez falsa modéstia em dizer que não precisa de nada, somente a "presença"? Ou é a falsa modéstia dos outros? A situação econômica?
E nem mesmo fui caprichoso em alguns pedidos... me perguntaram o que eu queria, eu respondi: "um abajur", pois preciso de um abajur para meu quarto. Talvez tenha sido somente para demonstrar a intenção de me dar um presente... talvez a própria intenção de me presentear, por si mesma, tenha sido o meu presente. Tempos estranhos, em que nos presenteamos com intenções.
Ainda estou esperando o meu exemplar de "O idiota". Existem outros itens, também, desde 15 reais até a seu rendimento anual. Ainda está em tempo; aproveite.
Mas eu descobri o que eu gostaria muito de me dar de presente. Sim, eu me dar de presente: este papo de presente entra em cena no aniversário, mas todo dia é dia de índio e de presente - uma flor, qualquer coisa. Eu me daria de presente a qualquer dia, este presente. Eu gostaria de ter, sempre do meu lado, um alguém ou algo que me criticasse, com argúcia, inteligência, ironia, finura e firmeza.
Não precisa ter um ar de intelectual e usar óculos de retângulo aro grosso, me olhar por cima e jogar sua torrente ácida; tampouco seria alguém com "experiência", um realista, uma pessoa mais dura e vivida que sabe do que a vida "é feita" e que me puxasse para baixo. Besteira. Nem um tampão, nem um tapado. Podia ser uma pessoa tão estúpida quanto eu; perdida nos mesmos rodeios, um tanto hesitante, um tanto entediada em muitos momentos.
Não, não estou falando de um amor, de um relacionamento. Não, gente, nada disso. Estou falando de um crítico, ou conselheiro, a palavra que melhor lhes descer.
Podia ser um amigo imaginário, uma alucinação, um diálogo interno comigo mesmo. Que diferença faz? Nenhuma, a não ser que se faça na rua e assuste os cavalos. Podia ser um homem jovem, ou uma mulher velha; idoso ou jovem, menos criança - uma criança assim pode me assustar. Um animal também não conviria muito: ia achar muito estranho um animal falante. Pelo menos no começo.
Alguém bem-pensante e bem-falante. Nada de circunlóquios ou preleções; nada de um mestre para me dizer o certo, ou um sacerdote para me contar do errado. Alguém que sabe que critica, mesmo enredado nas mesmas coisas que critica; alguém que sabe que toda firmeza pode ter algo de agressivo, mas somente por um momento; termina-se com um café, depois. Nada de carinhos ou abraços excessivos: eles tendem a atenuar demais os efeitos das palavras.
Eu queria uma outra palavra para atenuar as minhas arestas; uma outra palavra para me tirar um pouco fora daquilo que eu presto tanta atenção: a mim mesmo, à minha miséria e à minha salvação.
Tirar fora não é, simplesmente, esquecer.
Eu queria me levar menos a sério. E isto, muitos devem saber, é facílimo de dizer - e tão complicado para vivenciar.
Este lugar - este lugar que eu delineei e poderia continuar a fazê-lo, embora de fato seja muito simples - é um lugar complicado. Poucas pessoas assumem este lugar. Em sua maioria, amigos, durante pouco tempo, quando não entram naquilo que amigos gostam muito de fazer: fantasiar conjuntamente.
Este lugar é um lugar: não é uma pessoa, ou um título. Como eu falei, pode ser uma alucinação, se for o caso. O problema das alucinações é que elas costumam ser bastante perturbadoras - e isto não tiro da minha experiência pessoal, que é muitíssimo pobre em alucinações.
3 comentários:
Em primeiríssimo lugar, feliz aniversário. Eu não sabia e estou envergonhado por isto.
Este texto está excelente, Luchésio. Excelente-ente, como você diria! Parabéns.
Escreva um livro, por favor. Sobre filosofia. Lembrando dos menos favorecidos na arte da compreensão!
Abraço forte!
Acho que passamos a vida tentando nos tornar esta "pessoa" para nós mesmos. Não confunda com a minha idéia de autonomia, da qual tanto discordamos, mas apenas de poder conversar consigo próprio de forma a suprir este papel que você tão bem descreve. Quem sabe seja possível tomar este papel para si e se rodear de pessoas que ajudem você a não se levar tão a sério sem nunca deixar de levar a sério aquilo que tanto é especial em você.
Feliz Aniversário, Lucas ;-)
Feliz aniversário! Também mnão sabia do seu aniversário, afinal, nunca perguntei.
Aniversários são interessantes. É um dia somente nosso. É o "Dia do Lucas" no ano. Mas acho que não podemos levar esse dia tão a sério, como eu geralmente levo. Mas é gostoso saber que as pessoas sentem carinho por você e demonstram isso na forma de presente. Como você disse, pode ser algo simples, mas desde que seja dado de coração. Que quem lhe dá o presente tenha pensado nos seus atos, nos seus gostos, com o intuito de agradá-lo.
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