Fui hospitalizado uma vez somente, creio. Talvez duas. Foi quando eu quebrei a minha perna, na metade da canela; tinha eu 13 anos. Fratura exposta: andava de bicicleta no meu bairro de infância, quando eu decido atravessar a rua, defronte à casa do meu pai. Vi um carro ao longe, indo para o aeroporto; talvez ele estivesse indo rápido demais, talvez eu tenha calculado mal. Ficou a primeira versão.
Era uma mulher, dentro do carro, que parou e me socorreu. De qualquer forma, o socorro era o menor problema, pois com a pancada pode-se ouvir lá de trás, onde o meu pai se encontrava com a minha irmã e a namorada dele.
O capô amassou e a minha cabeça bateu no vidro dianteiro, quebrando-o e deixando-o com linhas diversas, como uma teia de aranha. Eu voei aproximadamente quinze metros, indo parar do outro lado da rua.
É uma percepção engraçada: eu me lembro de coisas fragmentadas. Lembro de ver o carro vindo na minha direção, e de saber que ia ser atropelado - sem sentir medo, ou me lamentar. Lembro então de ver, tudo meio preto e branco, cinzento, pouca luminosidade e poucas cores, a minha vista indo do asfalto para o céu para os fios dos postes para o asfalto para o céu para os fios de postes - eu girei no ar umas duas vezes. Então estava no chão. Nenhum baque, nada disso. Simplesmente saí voando e pousei, sem sentir a batida ou o baque no chão. Foi como se eu tivesse levantando vôo e pousado de costas.
Mexi-me devagar. Nada parecia errado. Vi se tinha quebrado os dentes, ou se sentia alguma coisa na cabeça. Percebi que o meu relógio não tinha quebrado. Um tanto automático, sem pensamentos. Levantar-se. Era estranho. Mexi a perna direita: ela se movimentou. Mexi a perna esquerda: algo estava engraçado. Era como se ela não estivesse lá, como se fosse de borracha. Levantei a cabeça e vi o meu calcanhar fazendo um ângulo grave com o resto da canela. E foi então que eu gelei, e gritei alto, sem o saber.
Daí para frente, é só ver o meu pai e o pessoal todo vindo, com olhares assustados e vozes ansiosas. Até hoje tenho uma cicatriz que incomoda um pouco quando se passa a mão, e creio que uma perna ficou maior que outra.
Fiz operação e tive a minha primeira anestesia geral. Um verdadeiro sono sem sonhos.
No momento: não dói, não há medo, não há preocupação. Tudo isto vem depois - depois do quê, exatamente? Esta é uma pergunta muito interessante.
Era uma mulher, dentro do carro, que parou e me socorreu. De qualquer forma, o socorro era o menor problema, pois com a pancada pode-se ouvir lá de trás, onde o meu pai se encontrava com a minha irmã e a namorada dele.
O capô amassou e a minha cabeça bateu no vidro dianteiro, quebrando-o e deixando-o com linhas diversas, como uma teia de aranha. Eu voei aproximadamente quinze metros, indo parar do outro lado da rua.
É uma percepção engraçada: eu me lembro de coisas fragmentadas. Lembro de ver o carro vindo na minha direção, e de saber que ia ser atropelado - sem sentir medo, ou me lamentar. Lembro então de ver, tudo meio preto e branco, cinzento, pouca luminosidade e poucas cores, a minha vista indo do asfalto para o céu para os fios dos postes para o asfalto para o céu para os fios de postes - eu girei no ar umas duas vezes. Então estava no chão. Nenhum baque, nada disso. Simplesmente saí voando e pousei, sem sentir a batida ou o baque no chão. Foi como se eu tivesse levantando vôo e pousado de costas.
Mexi-me devagar. Nada parecia errado. Vi se tinha quebrado os dentes, ou se sentia alguma coisa na cabeça. Percebi que o meu relógio não tinha quebrado. Um tanto automático, sem pensamentos. Levantar-se. Era estranho. Mexi a perna direita: ela se movimentou. Mexi a perna esquerda: algo estava engraçado. Era como se ela não estivesse lá, como se fosse de borracha. Levantei a cabeça e vi o meu calcanhar fazendo um ângulo grave com o resto da canela. E foi então que eu gelei, e gritei alto, sem o saber.
Daí para frente, é só ver o meu pai e o pessoal todo vindo, com olhares assustados e vozes ansiosas. Até hoje tenho uma cicatriz que incomoda um pouco quando se passa a mão, e creio que uma perna ficou maior que outra.
Fiz operação e tive a minha primeira anestesia geral. Um verdadeiro sono sem sonhos.
No momento: não dói, não há medo, não há preocupação. Tudo isto vem depois - depois do quê, exatamente? Esta é uma pergunta muito interessante.
Eu sempre me lembro deste episódio. Sabem por quê? Eu morro de medo de ter dor.
Continua...
3 comentários:
Bela narrativa. Por algum motivo, fez-me ler do início ao fim. Abraços.
Uow... sua narrativa me deixou toda mole, literalmente... toda vez que penso em "sangue-fratura exposta" parece que vou desmaiar. Típica reação histérica... hahaha Mas pelo menos pude ter uma noção de como é passar por um acidente assim.Também tenho medo de sentir dor... fisicamente e emocionalmente. beijo pro meu amigo fofo que eu adoooro!
Quel
Cara,
Passei por uma situação parecida em maio.
Quebrei a perna jogando futebol e lendo a sua narrativa parecia que eu estava vivenciando a sua história, porque a sensação que tive foi muito parecida com a sua, principalmente quando você diz que a perna parecia de borracha, foi exatamente o que eu senti.
Postar um comentário