segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
Will-ill
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Javé-é
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Kundera-era-era
Na verdade, eu duvido muito que tenha algum problema com o "pessoal do copirraite", este meu pequeno espaço virtual que meia dúzia de belos gatos pingados visitam, esperando pelo quê? ninguém sabe.
Mas este livro, que eu li de uma sentada de seis horas interrompida pela polenta com frango e quiabo - dos quais comi cuidadosamente só o quiabo, eita prato gostoso, Noss'Sora - me fez ter sonhos, sonhos que agitaram o copo da minha vida água com areia.
E que eu o li outra vez, alguém acredita? Mas o li com apenas 18 anos, e como parecem poucos os 18 anos... com 23 o leio de novo, e quedo-me hipnotizado. Neste ritmo, me dá cosquinha saber o que eu vou achar dos livros - e das músicas, e dos enfins - com o passar do tempo. Espero que o prognóstico para mim seja mais ou menos como o dos vinhos: refina com a idade. Afinal, eu também sou organoléptico.
Uso refina porque dizem "melhora". Mas melhora em que sentido? Pros apreciadores, somente. Enfim, quem me conhecer até este dia vai ter o prazer ou desprazer de poder saber - e quem sabe poder zombar da minha cara. Até lá, salve a juventude e as cosquinhas.
Mas então, este trecho, que eu fiz o grande favor de, quebrando as leis de copirraite, disponibilizar em uma bela página online, com o meu template inconfundível, é o seguinte imediato ao trecho que, quebrando as leis enfimenfimenfim, eu coloquei no meu post passado.
"....que nascera de seu sonho, que não era de lugar nenhum."
"Mas ela lhe diz, com amargura, que ele deve ficar onde se sente feliz, e faz aqueles gestos incoerentes que sempre o irritaram, que sempre achara desagradáveis. Segura suas mãos nervosas, apertando-as contra as dele para acalmá-la."
A questão das mãos, neste trecho, é tocante. O livro descreve, em várias cenas, como Tomas segura as pontas da mão de Tereza, sempre que esta as tem tremendo. As várias cenas fazem, então, um thread, um colar, compartilhando isto: os medos e as raivas de Tereza, as suas mãos tremendo. É um gesto poderoso.
A questão da cesta, remete à cesta em que veio Moisés, vista em outra parte. O tema do "es muss sein!" também não veio do nada.
E o trecho todo é mais tocante quando se acompanhou os dois até este momento. Sei que é desnecessário dizer, mas tomem-me então como o amigo bêbado que diz as coisas mais desnecessárias, sempre - as que todo mundo já sabe. As várias "amigas sexuais" de Tomas, de como Tereza sabia delas...
Então, paro por aqui antes que comece a passar o livro por inteiro.
Eu dedico este texto a todos os amantes de faunos.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
Andorinha-inha
Ele acordou no meio da noite e constatou, surpreso, que tinha tido sonhos eróticos. Só se lembrava com precisão do último deles: uma mulher gigante nadava nua numa piscina, era pelo menos cinco vezes maior do que ele e tinha a barriga coberta por grossos pêlos que iam das coxas ao umbigo. Olhava-a da borda da piscina e sentia-se muito excitado.
Como pode ficar excitado com o estômago doendo e com o corpo enfraquecido? Como podia ficar excitado ao olhar uma mulher que, se estivesse acordado, só lhe inspiraria repulsa?
Disse a si mesmo: existem duas rodas dentadas que giram em sentido inverso no mecanismo de relojoaria do cérebro. Numa estão as visões, na outra as reações do corpo. O dente sobre o qual está gravada a visão de uma mulher nua encaixa no dente oposto, sobre o qual está inscrito o imperativo da ereção. Quando a engrenagem se altera, por qualquer motivo, e o dente correspondente à excitação entre em contato com o dente sobre o qual está desenhada a imagem de uma andorinha em pleno vôo, nosso sexo se endurece à vista da andorinha.
Aliás, ele lera um estudo no qual um de seus colegas, especialista em sono, afirmava que um homem que sonha está sempre em ereção, seja qual for o sonho que tenha. A associação da ereção com uma mulher nua não era, portanto, mais do que um regulagem escolhida pelo Criador entre mil outras regulagens possíveis para ajustar o mecanismo de relojoaria na cabeça do homem.
O que existe de comum entre tudo isso e o amor? Nada. Basta que uma roda da engrenagem desvie uma fração de milímetro na cabeça de Tomas para que ele fique excitado só de ver uma andorinha, o que não muda em nada o seu amor por Tereza.
Se a excitação é um mecanismo que depende de uma capricho de nosso Criador, o amor, ao contrário, é aquilo que só pertence a nós, e pelo qual escapamos do Criador. O amor é nossa liberdade. O amor está para além da necessidade, para além do "es muss sein!" ["tem de ser!"].
Mas nem isso é a verdade inteira. Mesmo que o amor seja algo diferente do mecanismo de relojoaria da sexualidade imaginado pelo Criador para seu divertimento, ele é, ainda assim, ligado a esse mecanismo como uma doce mulher nua se balançando no pêndulo de um enorme relógio.
Tomas diz a si mesmo: associar o amor à sexualidade é uma das idéias mais bizarras do Criador.
Pensou ainda: a única maneira de salvar o amor da tolice da sexualidade seria acertar o relógio de maneira diferente em nossa cabeça, para que pudéssemos ficar excitados com a visão de uma andorinha.
Embalou-se com este doce pensamento. À beira do sono, no espaço encantado das visões confusas, de repente teve certeza de que acabara de achar a solução para todos os enigmas, a chave do mistério, uma nova utopia, o Paraíso: um mundo em que se tem uma ereção diante de uma andorinha, e em que podia amar Tereza sem ser importunado pela tolice agressiva da sexualidade.
Voltou a adormecer.
Milan Kundera, A insustentável leveza do ser. 5, #22.
Esta passagem é infinitamente mais rica e mais vívida dentro da história de Tomas e Tereza e Franz e Sabina que eu reli, em uma sentada de seis horas ininterruptas (minto, comi polenta no meio).
sábado, 13 de janeiro de 2007
Panadero-ero
[....]
Recuerdo la cocina de un convento en Bruselas, donde presencié, reverente, la misteriosa cópula de la levadura, la harina e el agua. Una monja sin hábito, con las espaldas de un cargador de muelles y las manos delicadas de una bailarina, preparaba el pan en moldes redondos y rectangulares, los cubría con un paño blanco mil veces lavado y vuelto a lavar, y los dejaba reposar junto a la ventana, sobre un mesón de madera medieval. Mientras ella trabajaba, en otro extremo de la cocina se producía el sencillo milagro cotidiano de la harina y la poesía, el contenido de los moldes cobraba vida y un proceso lento y sensual se desarrollaba bajo esas blancas servilletas que, como sábanas discretas, cubrían la desnudez de las hogazas. La masa cruda se hinchaba en suspiros secretos, se movía suavemente, palpitaba como cuerpo de mujer en la entrega del amor. El olor ácido de la masa en fermento se mezclaba con el aliento intenso y vigoroso de los panes recién horneados. Y yo, sentada sobre un banquillo de penitente, en un rincón oscuro de esa vasta habitación de piedra, inmersa en el calor y la fragancia de aquel misterioso proceso, lloraba sin saber por qué...
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007
Rebento-ento
Tudo isso ela me ensinava, quando sobre as questões de amor discorria, e uma vez ela me perguntou: - Que pensas, ó Sócrates, ser o motivo desse amor e desse desejo? Porventura não percebes como é estranho o comportamento de todos os animais quando desejam gerar, tanto dos que andam quanto dos que voam, adoecendo todos em sua disposição amorosa, primeiro no que concerne à união de um com o outro, depois no que diz respeito à criação do que nasceu? E como em vista disso estão prontos para lutar os mais fracos contra os mais fortes, E mesmo morrer, não só se torturando pela fome a fim de alimentá-los como tudo o mais fazendo? Ora, os homens, continuou ela, poder-se-ia pensar que é pelo raciocínio que eles agem assim; mas os animais, qual a causa desse seu comportamento amoroso? Podes dizer-me?
De novo eu lhe disse que não sabia; e ela me tornou: - Imaginas então algum dia te tornares temível nas questões do amor, se não refletires nesses fatos?
- Mas é por isso mesmo, Diotima - como há pouco eu te dizia - que vim a ti, porque reconheci que precisava de mestres. Dize-me então não só a causa disso, como de tudo o mais que concerne ao amor.
- Se de fato - continuou - crês que o amor é por natureza amor daquilo que muitas vezes admitimos, não fiques admirado. Pois aqui, segundo o mesmo argumento que lá, a natureza mortal procura, na medida do possível, ser sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, através da geração, porque sempre deixa um outro ser novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz que cada espécie animal vive e é a mesma - assim como de criança o homem se diz o mesmo até se tornar velho; este na verdade, apesar de jamais ter em si as mesmas coisas, diz-se todavia que é o mesmo, embora sempre se renovando e perdendo alguma coisa, nos cabelos, nas carnes, nos ossos, no sangue e em todo o corpo. E não é que é só no corpo, mas também na alma os modos, os costumes, as opiniões, desejos, prazeres, aflições, temores, cada um desses afetos jamais permanece o mesmo em cada um de nós, mas uns nascem, outros morrem. Mas ainda mais estranho do que isso é que até as ciências não é só que umas nascem e outras morrem para nós, e jamais somos os mesmos nas ciências, mas ainda cada uma delas sofre a mesma contingência. O que, com efeito, se chama exercitar é como se de nós estivesse saindo a ciência; esquecimento é escape de ciência, e o exercício, introduzindo uma nova lembrança em lugar da que está saindo, salva a ciência, de modo a parecer ela ser a mesma. É desse modo que tudo o que é mortal se conserva, E não pelo fato de absolutamente ser sempre o mesmo, como o que é divino, mas pelo fato de deixar o que parte e envelhece um outro ser novo, tal qual ele mesmo era. É por esse meio, ó Sócrates, que o mortal participa da imortalidade, no corpo como em tudo mais o imortal porém é de outro modo. Não te admires portanto de que o seu próprio rebento, todo ser por natureza o aprecie: é em virtude da imortalidade que a todo ser esse zelo e esse amor acompanham.
O banquete, Platão.
Renard-ard
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
E não é o melhor dos dias.
domingo, 7 de janeiro de 2007
Anamórfico
Encontrei este cara que faz estes desenhos incríveis na calçada.
Dêem uma checada: o efeito se chama "anamorfismo". Eu achei fantástico.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
A vida toda eu esperei por agora
Sentir o teu perfume assim tão de pertinho
Esse teu cheiro que existe só na flora
Naquelas flores que também contém espinhos
A vida toda eu esperei essa glória
Beijar mordendo esses teus lábios de fruta
Boca vermelha cor de amora cor da aurora
Dois cogumelos recheados com açúcar
Já vem de longe esse desejo perene
Suco de kiwi escorrendo lentamente
Não é de hoje que eu preciso conter-me
Chegou a hora vamos ver finalmente