terça-feira, 27 de junho de 2006

Uma fonte que, em vez de água, jorra mercúrio. Fundação Juan Miró, Barcelona.

Atualmente fechada em um compartimento de vidro, ela foi criada por Calder em tributo aos mineiros de mercúrio de Almaden. Muito tempo atrás ela era aberta, e bem em sua frente ficava o Guernica de Picasso.

Mercúrio, como sabemos, é tóxico; dizem que mergulhar o braço em mercúrio é uma experiência fantástica, devido a sua densidade, 13 vezes maior que a água (e consequentemente grande empuxo). Mas não tentem com mãos nuas, por favor.

domingo, 25 de junho de 2006

Para Vitor


Há doenças piores que as doenças

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de junho de 2006

"What the bleep" redux

Nesta quarta-feira passada aconteceu, no auditório do centro de Educação Física e Fisioterapia da UDESC, mais uma discussão/mesa-redonda sobre o filme "Quem somos nós", o mesmo que eu critiquei algumas semanas atrás, sem o ter assistido por completo.

Nesta ocasião o filme foi exibido, antes da discussão, e eu pude ter a oportunidade de assisti-lo por completo. Olha, ele é pior do que eu pensava. Qual o sentido de pior no qual me refiro aqui? Bem, juro pra vocês que estou tentando ser crítico somente com os aspectos científicos-filosóficos do filme, mas acontece que sou jovem, eventualmente fico irritado com ele como um todo.

Passei grande parte do filme chocado, literalmente, com certa manipulação de evidências - ou, pra deixar mais claro, com certa apresentação de má evidência. Isto seria manipulação do senso crítico dos espectadores, que ficam em uma situação complicada; nada é apresentado com o seu contraponto crítico, e não se pode sair no meio do filme pra verificar se os dados apresentados ali se encontram em algum lugar decente e foram escrutinizados decentemente. E isso deve ser feito, pois o filme se apresenta como uma discussão "científica" (ou pra que servem, então, aqueles intectuais/cientistas que nelem se apresentam?); se não o fosse, e se e somente se, tudo poderia ser colocado como metáforas, opiniões pessoais, divagações sobre a sina humana, uma maneira "poética" ou "diferente" de olhar as coisas.

No final das contas, portanto, eu terminei o filme me sentindo um idiota, pois nem mesmo eu conseguia mais pensar direito. Da metade em diante eu fui bombardeado com uma tal confusão de argumentos e falas que, daí em diante, me despreocupei em tentar entender (pois criticar é uma forma de entender) e simplesmente aguentava uma cena após outra. Quer dizer, uma coisa quase hipnótica.

Algum de vocês já passou por uma situação altamente incompreensível? Como, uma figura, "conversar com um esquizofrênico"? Foi mais ou menos assim, pra mim. No final, quando a mulher ficou "curada" de sua baixa-estima ou qualquer coisa que ela tivesse ou achasse que tivesse e se começa a falar de "Gahd" (a maneira como o atlante de 35.000 anos de idade... perdão, a maneira como a mulher loira que é "canal" para este guerreiro atlante fala "god") com cenas da beleza do mundo e uma música sintetizada com graves longos...

Eu já li, vi e escutei muitas obras como esta. O porquê desta, especialmente, ter me chamado tanto a atenção? Em primeiro lugar que dois amigos meus, de faculdade, os quais considero pessoas inteligentes e críticas, assistiram o filme e me indicaram fervorosamente, por ter colocado "questões novas". Tudo bem, disso eu realmente não posso duvidar. A questão é que um deles, por exemplo, é ardente nas suas críticas contra "terapias alternativas" e em livros de auto-ajuda - uma discussão valiosíssima. Mas e este filme, então? O que ele é?

Ah, relaxa, Luquinhas... é só um filme.
:D

De qualquer forma, eu pretendo escrever um texto claro e direto sobre algumas críticas, aquelas mais palpáveis. Aceito sugestões, se alguém tiver alguma, ou qualquer outra coisa pra mandar.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Ócio criativo

ingrishonline.wordpress.com

É, realmente não se tem mais nada a fazer.

domingo, 18 de junho de 2006

Antinôo

Fernando Pessoa escrevia em inglês, e, para meu grande prazer, ele escreveu uma poesia chamada "Antinous".

Antinôo foi o amado - eromenos - do imperador Adriano. Adriano era dado a estes estranhos costumes helenísticos. A morte de Antinôo, aos 20 anos, porém, coloca em turbilhão o imperador;

He weeps and knows that every future age
Is looking on him out of the to-be;
His love is on a universal stage;
A thousand unborn eyes weep with his misery.
Adriano foi um dos "cinco grandes" imperadores de Roma, e a sua história me fascina.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Calma que eu escrevo mais em breve.

Enquanto este dia não chega, porém, porque não escrever um comentário comentando algo do seu interesse? Vamos, vai ser divertido!!

terça-feira, 6 de junho de 2006

Zazen

Hoje (ontem, que eu escrevi isto ontem de noite) foi a primeira vez que eu fui em um zendo ("templo" zen budista, ou melhor, lugar de prática zen). Zazen de 40 minutos, uma pequena cerimônia entoada, uma pequena mommy preleção do monge (o Gensho, o mesmo da palestra) e chá de hortelã. Simples assim. O povo muito cordial, mas nada de esbanjamento de sorrisos. Assuntos triviais e piadinhas discutidos em meio "coisas sérias".

O povo? Gente "normal", olhe só. :) Uma pequena and pletora de interesses e vidas, aparentemente distintas, todos sentados sobre a almofada preta, voltados para a parede. Estranho silêncio o do zazen conjunto.

E eu, o principiante. É a primeira I vez que eu pratico zazen em conjunto. Tenho uma prática prévia, mas solitária. Senti que todo o meu conhecimento "teórico" budista valia não tanto que eu acho que ele vale, no fim das contas.

Acho que rolou um estranhamento meu. Vou ter de voltar pra conferir isso direito. :)

*****

Impressionantesíssimo, vendo agora, a meditação de ontem. Fiquei com uma dor horrenda nas costas, como eu fico de vez em quando, principalmente quando eu me sento mal, e eu falo are horrenda de ruim mesmo, constante, forte. Decidi-me simplesmente sentir a dor. Senti a dor. Ela dói. Imagino que se estivesse sozinho terminaria parando pelo meio; mas eu tinha um monge zen exatamente às minhas costas.

Então a dor começou a parar de ser dor. Era apenas uma sensação. Se duvidar, ela chegou a ficar prazeirosa durante um pequeno one tempo. Impressionante, isso. A dor é somente uma sensação. Afinal, quem é que dói? :)

domingo, 4 de junho de 2006

Tirei da Wikipedia:

De acordo com estudos que determinam a habilidade da mente subconsciente em absorver mensagens subliminares, a frase subliminar "Mommy and I are one" é considerada a mensagem subliminar mais efetiva para ajudar na auto-motivação.

(...)

De acordo com Silverman e Wienberger, esta frase funciona porque "há poderosos desejos inconscientes de um estado de unicidade com 'a mãe boa da infância remota' ... e a gratificação destes desejos pode aumentar a adaptação."

Que merda é esta que eles estavam pensando?

Comecei a ver o tal do "What the bleep do we know", sendo este bleep uma forma mais educada de "fuck", se não me engano. Soube do filme através de colegas da facul, que pareceram ficar impressionados o bastante com as questões que ele levanta. Li a sinopse e achei interessante. O filme, segundo o que li, traz vários pensadores e cientistas na "velha" questão de realidade e física quântica, etc. Parecia ser interessante, e nunca é demais ver se realmente a discussão é válida.

Acontece que o filme parece ser uma grande palhaçada. Vejam vocês que, antes mesmo de assisti-lo, naturalmente eu olhei pela net, procurando discussões e opiniões. Decepcionei-me ao saber que o filme é escorraçado por todos os pensadores mais céticos, e que ele é, no final das contas, panfletagem de um culto religioso que tem uma mulher que diz encarnar um ser de 35.000 anos chamado Ramtha.

Pois bem, eu não posso criticar muito o filme pessoalmente, pois comecei a vê-lo uns 15 minutos atrás e infelizmente não posso continuar a vê-lo. Ele começa com uma animação que envolve galáxias e neurônios e pequenas partículas e múltiplas realidades, com a voz de trocentas e sete pessoas (entre elas "Ramtha") fazendo perguntas filosóficas clássicas, e falando que a quântica pode dar a resposta final, e jogos de palavras com as palavras "real" e "irreal", enfim, um aperitivo. Deixo passar, evidentemente, é divertido ficar com água na boca. Começaram, então, a falar, e eu parei exatamente na hora em que um cara, sentado em uma confortável poltrona, fala o seguinte (tomei o cuidado de ser praticamente literal): "quando o sujeito vê um objeto, uma área do cérebro se acende (no exame de PETscan); quando ele imagina, a mesma área do cérebro se acende também. Então quem vê, o cérebro ou o olho? a realidade é aquela que vemos com os olhos ou aquela que vemos com o cérebro?"

Bem, tive de parar. Se o resto do filme seguir com esta baboseira, não dá. Em primeiro lugar que o filme segue então com o mesmo tipo de questionamento, de que a "realidade externa" não precisa ser anterior à "realidade interna", de que a RI pode mudar a RE, ou seja, no final das contas, que a mente cria a realidade. Dicotomia de primário, isto.

Segundo lugar que o experimento que ele provavelmente cita deve ser da Nancy Kanwisher, em que se encontraram similaridades grandes entre as duas atividades e sua ativação cerebral, mas não exatamente equivalência. Pelo que sei parece que há um consenso, nesta área do conhecimento, de que, por mais parecidos que sejam, por mais processamento em paralelo parecido que tenham, há diferença entre os dois, perceber um objeto real, e imaginá-lo.

Esta questão do imaginado e do sentido aparece, por exemplo, na questão da sinestesia (com S, não com C!!). Um experimento que foi feito com fMRI (imageamento funcional por ressonância magnética, um dos métodos mais eficazes de determinar a ativação de áreas cerebrais) determinou que a percepção sinestésica visual é processada, no córtex cerebral, da mesma forma que uma percepção visual comum, e diferente da imaginação visual. Quer dizer, os sinestetas não imaginam, não mentem, dizendo que vêem percepções visuais "irreais" (ou seja, que nós não vemos). Ela realmente existe. Mas ela é limitada e determinada, e mesmo assim há uma diferença marcante entre uma coisa "alucinada" e uma coisa "real", e esta diferença é mais pragmática que teórica. (Ora, as pessoas não vivem tendo alucinações o tempo inteiro?) Uma percepção visual "irreal" é um fato, e levanta sim questões sobre a realidade da realidade, embora não chegue a dizer então que o "mundo interno" pode modificar o "mundo externo".

Pois este tipo de discussão é fundamental, eu creio, quando se trata de ser o mais esclarecida possível. Se se for de tratar com o problema da epistemologia, da ontologia, enfim, não vai ser a mecânica quântica que vai responder. Aliás, alguém atualmente tem a pretensão de responder? ora, seriam tantas as áreas do conhecimento aptas a dar uma contribuição a isto, por mais ínfima que seja...

Pra compensar tudo isso, estou lendo um livro que a Carmen Moré me emprestou, um tal de "É real a realidade?", do Watzlawick. Leitura linda e recomendada, um livro bom de ler; a proposta dele é que o que chamamos de realidade é resultado da comunicação. Na verdade ele não chega a defender esta tese: o estilo do livro é mais "anedótico", coloquial. Muito interessante.

E saiu, pela Companhia de Bolso, o livro do Sagan, "O mundo assombrado pelos demônios". Vou fazer uma petição pública para que este livro se torne obrigatório nas primeiras fases de todas as faculdades :)

Vou parar esta discussão, agora.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Ontem eu fui a uma palestra sobre zazen, aqui mesmo na UFSC, com o monge Gensho, o cara que "mestreia" o Centro Zen-Budista aqui de Floripa.

Em termos "teóricos", nada de surpreendente. Mas é inspirador ver um praticante do darma, poder conversar com ele, ver as suas respostas às mais diferentes perguntas.

E perceber que passou da hora de conhecer a sangha daqui.

Uma historinha que encontrei na página deles:

"Minha mãe tem 92 anos, sofre de Alzheimer e, atualmente, confunde todas as coisas.

Na minha família, há o hábito ancestral de pedir a benção. Mesmo sendo monge budista eu conservo esse hábito. Todas as noites, meus filhos pedem a benção antes de dormir. Mesmo aqueles que já são adultos o fazem, até por telefone. Sempre respondo 'Deus o abençoe', como faziam meu pai, minha mãe e meus avós.


Por causa da doença, minha mãe hoje troca tudo: chama-me de papai, pede-me a benção. E eu a abençôo. Às vezes, consigo que ela me chame de filho e acerte em me abençoar.

Em todas as ocasiões, quedo-me comovido, pensando que mesmo doente, ela continua a me ensinar: todos agora são seus irmãos já mortos, que para ela estão vivos; a empregada pode ser sua mãe, a quem ela beija a mão e chama de querida; os filhos são seus pais e ela é mãe e avó de todos.

Exatamente como nós deveríamos ver os outros seres."

A historinha é dele mesmo.