terça-feira, 9 de outubro de 2007

Foto de família

Que milagre é poder ver as galáxias distantes como folhas a cair, ou pequenas faíscas de massa ígnea depois que a acha está a arder-se, terminada a sua chama. Aqui acaba-se nosso senso de proporção; dizemo-nos que vivemos em um pequeno sol no meio-caminho do centro à periferia da galáxia, e num planeta deste pequeno sol, e em um ponto deste planeta, já tão imenso, apesar de pequeno, e as árvores e gatos que nos cercam e este corpo que nos cerra - e onde é que estamos, afinal, onde estou eu, eu que o pergunto? A minha pele. Grande parte da poeira de casa é pele humana, que descama-se em particulazitas discretas como galáxias. Dizemos tudo isto, mas não temos a idéia - temos apenas as palavras.

Eis duas galáxias que colidem. Talvez acontecerá o mesmo com a "nossa", em breve, poucos bilhões de anos, no máximo. Estas duas aí continuarão na mesmissíssima posição, caro leitor, quanto tu morreres em poucas décadas, até mesmo quando os teus filhos e os netos deles procurarem pelo mesmo ponto; a foto será a mesma. Mudanças ínfimas. O tempo de vida na terra talvez seja da ordem de um suspiro, se é que o vazio cósmico suspira; não o posso confirmar, contudo, imagino-o como um suspiro, talvez. Fleeting moment passing by. Se vai-se repetir tudo, ou se tudo está repetindo-se infinitamente agora; se o tempo é redondo, quadrado ou da forma de uma bala melada, se não existe ou ainda não decidiu tempar-se... isto não importa para o fato que sei de um tempo, que sei de um gato e de uma árvore, e enfim. É um milagre que possamos ver duas galáxias batendo-se como trapos na máquina de lavar.

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