domingo, 10 de dezembro de 2006

Thomas Merton no seu livro, Zen e as Aves de Rapina. Trecho interessante para a discussão do provável caráter escapista das práticas religiosas.
Em ambos os casos, os 'fatos' não são apenas impessoais e objetivos: são fatos de experiência pessoal. Tanto o budismo como o cristianismo se assemelham, ao utilizarem a trama ordinária do cotidiano da existência humana como material para transformação radical da consciência. uma vez que a existência humana ordinária, cotidiana, está cheia de confusão e sofrimento, é óbvio que serão utilizadas essas duas coisas para a transformação da nossa conscientização e nosso entender, passando para além de ambos a fim de atingir a 'sabedoria' no amor. Seria grave erro supor que o budismo e o cristianismo oferecem apenas explicações em relação ao sofrimento, ou, pior, justificações e mistificações construídas sobre este fato inelutável. Pelo contrário, ambos demonstram como o sofrimento permanece inexplicável, sobretudo para aquele que tenta explicá-lo a fim de evadir-se dele, ou que pensa que a própria explicação seja uma fuga. O sofrimento não é um 'problema' como, por exemplo, algo que pudéssemos controlar de fora. O sofrimento é considerado, tanto pelo cristianismo como pelo budismo, cada um a seu modo, como fazendo parte da nossa própria identidade-ego e de nossa existência empírica. E a única coisa a fazer em relação a isso, é mergulhar de cheio em plena contradição e confusão, de maneira a ser transformado pelo que o Zen denomina 'a Grande morte' e o cristianismo declara ser 'morte e ressurreição em Cristo'.

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