terça-feira, 30 de agosto de 2005

Desfeliz

Aproveitando o mal-estar e o pessimismo e o jejum, estes que são os momentos em que penso mais, escrevo mais e sou mais desfeliz.

Digo desfeliz pois neguinho mal fala "infeliz" dona Maria já pensa em uma nuvem de lágrima sobre os olhos, testas franzidas, o solo proprício para o arrastar soturno, lento, frio e quase erótico, se não matasse, da melaina kholé.

Não vou, não vou, não vou explicar o que é m.k. Quem lê já sabe, quem não lê, mande um mail com sua foto de corpo inteiro, nu ou seminu, artístico por favor. Brigado.

Desfeliz é simplesmente o não-estar feliz.

Olhem só, então, que coisa engraçada: eu tenho um diário, um journal, um caderninho, minhas anotações. Durante anos e anos ele tem se contentado com quase tudo: relatos de encontros sexuais polêmicos, especulações metafísicas sobre a cor do sapato de camurça de Deus, momentos poéticos, sessão descarrego, enfim. Menos para a pura experiência pura, pois a pura experiência pura é pura, como todos e todas já o sabem, enfim.

Recentemente, de duas semanas para cá, eu tenho anotado, ou pensado em anotar, nada mais nada menos que as minhas "neuroses". Isto é uma coisa muito esquisita pra mim. Não se trata de, enquanto me quedo a delirar na cama, sonhando com alturas alcançáveis, porém demasiado caras, fazer um bom retrato de mim mesmo, para depois me contentar com o que eu penso que sou. Não; na leitura de um jornal percebo, de forma opaca porém presente, uma forma especial do meu "desejo", uma base de preconceitos e de paixões de longa data, um sentir especial que é ambíguo e tão presente.

A minhas preferências, as minhas historinhas pessoais, muitos dos meus scripts.

Espontaneamente.

Um trabalho psicológico de primeira pessoa excelente, e espontâneo.

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Para fazer um bom café é essencial, além de uma boa água, não deixar a água ferver. Deve-se podar, instantaneamente, toda tentativa de ebulição da água. A primeira bolha é o sinal.

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Falando em bolhas, Luciano, sabe quantas bolhas existem em uma garrafa de champagne, ou espumante produzido pelo método Champenoise? 240 milhões, se não me falha a memória. Será? Foi um estudo realizado por um físico, tempo atrás.

Greve na Federal

A assembléia dos professores votou, esta tarde, pela greve do corpo docente. Logo antes, depois do almoço, os estudantes votaram por greve estudantil. Estava lá e vi os dois e, por mais que me sinta instado, por mim mesmo, a participar, confesso que não me sinto feliz com a possibilidade, e também com o que eu vi, apesar de ser só o começo.

Tenho uma visão política essencialmente pessimista, e não me sinto bem participando de corpos políticos grandes, como partidos ou comandos de greve, quaisquer que sejam. Verificar, mais uma vez, que existe um considerável "abismo" ideológico e afetivo entre duas gerações, estudantes e professores, me desanima. O que sobra em algums, falta nos outros, e poucos são os que conseguem fazer uma ponte usável entre os dois.

A situação parece um pouco mais favorável que nas greves anteriores, contudo. Há um posicionamento mais forte de ambos os lados.

Dormi muito mal esta noite apenas três horas, estou com prisão de ventre, muito cansado, ansiando pela minha omelete com queijo da janta. Há uma nuvem muito feia lá fora, e o tempo está maluco, com possibilidade de ventos entre 60-100 quilômetros por hora. Ontem de noite, num calor de 30 e poucos graus, liguei o ventilador e deixei a janela aberta, para somente ter de fechá-la com o chegar do frio da madrugada.

Imaginem então a quantas não anda o meu pessimismo?

sábado, 27 de agosto de 2005

Tem um monte de pequenos pensamentos, pequenas coisinhas, associações de idéias, sensações virgens que passam uma vez só, e não costumam voltar mais.

Tenho certeza que muitas delas iriam fantasticar a vida de muitos leitores.

A velhinha de Taubaté morreu no dia 19 de agosto. Uma perda, sinceramente. Tava na hora também, né, 90 anos e tal; mas o que será do Lula agora? Do Lula e da meia-meia dúzia de presidentes cujo destino ele recusou, no seu discurso desta semana. Quase péssimo, por sinal.

Nagarjuna é um nome tão bonito, tão bonito, que eu queria me chamar de Nagarjuna. Quer dizer, queria colocar "Nagarjuna" na lista de nomes que eu queria ter, ao menos por um dia.

Comecei, novamente (já fiz várias vezes, ao longo da minha vida) a anotar sistematicamente os meus sonhos. Uma das coisas mais interessantes nos sonhos, além de uma certa reflexão metafísica que todo sonhador consciente deve se dar ao luxo, é que eles apresentam situações-problema nos quais se age da forma mais criativa possível. Isso é muito interessante.

Além, é claro, dos vários caras gostosos e inteligentes que povoam o meu mundo do sono.

Tem muita gente que sente dificuldade em dormir, em se entregar para a perda da consciência. Isto é algo que entendo, mas não entendo. Outros acham que dormir é uma perda de tempo, o que também entendo, mas não entendo. Enfim.

sábado, 20 de agosto de 2005

Incêndio no Mercado

Saindo da aula que eu não tive, sexta-feira de manhã. Acabado de ler uma matéria da CartaCapital sobre a bomba A de Hiroxima e Nagasaki. As mesmas histórias, os mesmos horrores relembrados quando fazem aniversário, para sensibilizar a memória de curto prazo das novas gerações.

Hiroxima é um horror tão grande que nunca pensei muito sobre o assunto e, quando penso, ou tento pensar, sinto os pensamentos escorrendo pelos ombros e indo embora. Guerra é guerra, e já se matou muito mais em uma ou tanta; o que pega é aquele mesmo papo, muito em voga nos anos 80, de que "pela primeira vez na história da raça humana podemos nos exterminar, aniquilar, desaparecer completamente por um produto de nossas mãos".

Carl Sagan, a cara dele. Ele dizia que essa é a nossa prova de maturidade: nossa espécie se dar conta disso. Depois, somente as estrelas.

Passei por trás do templo ecumênico, 8 e 40 da manhã. Olhei pro céu e, atrás dos pinheiros, atrás do morro da Serrinha, uma coluna de fumaça erguia-se. A lua cheia fica muito bonita atrás dos pinheiros, nas madrugadas de outono. A fumaça era branca, em cima, ficando mais cinza e mais estreita perto do chão, uns 700 metros totais de altura. Pensei que era uma queimada gigantesca no morro.

Só na hora do almoço fui descobrir que vi, de primeira mão, a fumaça do incêndio no Mercado Público. Minha irmã chorou; ela tem uma paixão por aquele prédio. Eu só lamentei a ignorância, mesmo. A fumaça preta era o resultado do incêndio de 68 lojinhas que vendiam entre roupas, vime e calçados baratos. Plástico e derivados de petróleo amontoados em um mezanino de mais de um século de idade. Parece que tudo começou numa lanchonete.

Na tevê, foi a cena mais manezinha que eu vi. Um cara de uns 50 e poucos anos, sotaque e camisa aberta de pescador, saudável e vermelho de sol, correndo pelas ruas, ajudando os bombeiros a trazer as pesadas mangueiras, que mal davam conta do recado. Prédios próximos foram percorridos em busca de mais mangueiras e extintores.

Ontem de madrugada passei pelo lado do mercado; ainda havia fumaça.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Psicodelia dia-a-dia, parte I

Estou levando a vida que papai e mamãe queriam que eu levasse desde os meus 17 anos: acordo cedo, pego o busão, vou pra faculdade e, olhem só, até chego a gostar de estar por lá!

Correlações, contudo: estou fumando bem mais de um cigarro, por mais light que seja, por dia.

Não tenho mais dúvidas, porém, entre voltar pro aikido ou começar yoga. A última opção venceu temporariamente, depois de uma aula gratuita em que tive visões. O fator determinante, na realidade, foi o meu joelho, que certamente seria massacrado nas tentativas cotidianas de shikko, o andar ajoelhado dos samurais. As visões que eu tive tiveram apenas um pequeno valor estético, e se eu fosse joalheiro eu criaria uma coleção com lindas ametistas violetas.

Estou lendo três livros, e todos eles relacionados à trajetória do LSD nos Estados Unidos: Millbrook, The Varieties of Psychedelic Experience e Storming Heaven (todos disponíveis online, para os interessados). Muito mais complexo do que eu imaginava, além de mais interessante e mais sofridamente idiota, como todas as boas atividades humanas, quando olhadas de perto. Depois que comecei a retomar a minha literatura psicodélica, comecei a ter mais visões, sonhos e delírios oníricos por metro quadrado desde 1999, o que reforça a minha teoria de que a psicodelia e "estados alterados de consciência" têm um fator cognitivo-social-histórico muito forte.

E por hoje é só, que mais de meia garrafa de chileno obnubila estas minhas mãos de concha!

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Voltei

Quem é que está a ler-me, hein, hein, hein?

Principal; depois de ter ficado vários dias sem escrever aqui. Em outros lugares, quase sempre escrevo, embora não mantenha um interesse corriqueiro em portas de banheiros e demais sítios democráticos.

Ora, o que tenho de bom para escrever? Notícias aos amigos? Espero que eles as escutem da minha boca, mesmo, a não ser aquele lá, distante. Um dos que me lê.

(Estou com saudades...)

Que, aliás, criou o seu próprio site de textos, obviamente inspirado por mim. Já não era sem tempo. Os interessados no site mandem um mail para mim, com foto de corpo inteiro, e currículo universitário. As fotos vão para o Painel, e os currículos vão para o meu currículo, no exercício salutar do CTRL+C e CTRL+V.

Depois de ter tido um febre arcadiana, com vontades de campos, pastagens e uma vida mais simples, saí de Buenos Aires com destino a Foz, e de Foz fui para São Lourenço d'Oeste (este apóstrofo é charmosíssimo), onde passei três deliciosos dias úmidos, comendo a comida da vó, e assistindo documentários na tevê a cabo.

Em Foz fui, sim, nas cataratas. Havia estado lá, anteriormente, por volta dos meus 2 ou 3 anos de idade, sei lá quanto. Até hoje tenho comigo uma foto em que estamos, eu e meu pai, defronte à uma bela queda d'água. Linda foto; eu era um bebê muito fofo e loiro, de chupeta azul clarinha.

As quedas são lindas, me senti perto de paradisiar, se não estivesse com pressa, temeroso de perder o ônibus. Sempre a pressa, sempre a pressa. Somente a sensação de sentir aquela névoa de água flotante, um spray gigantesco me molhando até a medula e o hipotálamo, contudo, valeu a longa fila de turistas, a espera e os 12 reais e noventa centavos da entrada.

Agora estou de volta em Floripa. Esta cidade é, realmente, muito pequena. Um bom lugar para se passar uma vida tranquila, em família. Depois de sair da Argentina querendo voltar, volto pra cá desejando ter conhecido mais Buenos Aires. Mas isso é uma outra história.

Mesmo sem ter pego uma balada forte, ou ter conhecido os famosos gatinhos portenhos?

Mesmo. Conheci os famosos gatos portenhos, como dois postes o atestam; pero...

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Vida cultural bombando: filmes, filmes e mais filmes. Deliciosos filmes. Eu e minha irmã.

Taxi Driver, Mujeres al borde de un ataque de nervios, Casablanca, Bagdah Café, Sin City; tudo em uma semana. Tem dois que não me lembro o nome. Tróia vale somente pelo visual, e nem mesmo isso. Harry Potter e o caralho à quatro cuspi no chão.

E peguei a trilogia do Godfather, até domingo. Quem quiser me acompanhar mande um mail para mim, com a foto de corpo inteiro e atributos fisícos, psíquicos e sociais em duas folhas A4.

Sabem quem está sentado no colo de Vito Corleone, na primeira cena do Godfather I? A primeira resposta correta ganha um alfajor relleno a maní.