Depois do meu encontro espírita domingo passado, de madrugada
(eu dando a minha famosa caminhada - eu me perfumo e faço a barba para ir caminhar na BeiraMangue, vejam vocês - paro pra fumar um cigarro, o segundo do dia, e lá me vem um cara se alongar. Puxamos papo, papo clássico de abordagem ao Desconhecido Jovem da Madrugada - "qual o seu signo? você parece carente; dá de ver por você" - e não sei como o assunto descamba pra uma coisa mística espiritual o caralho de todas estas coisas aí a quatro - "eu que vim aqui te cantar saio elevado espiritualmente", diz ele)
segunda de manhã acordei às sete da manhã. E tem sido assim até hoje, sábado.
Falei pra minha mãe que eu realmente não me entendo mesmo.
Creio que esta semana fui levado até um dos extremos da minha visão de mundo - ou seja, de uma forma de hedonismo por mérito - e vi que, como visão de mundo, uma hora ela se esgota e só deixa o vazio, este que nem chega a ser cotidiano.
Tomei um dia para mim, para fazer justamente nada. Não falo de deixar de fazer as coisas que eu penso que deveria fazer, como ser cordato, gentil, inteligente e bonito, ainda por cima, mas sim de fazer nada mesmo - estritamente o necessário para não ficar inconsciente (aí tive de fazer o corte epistêmico).
Percebi então que a minha vida é um passar-tempo, por mais "honorífico" que possa parecer. A princípio fiquei um tanto quanto vazio, mas para quê isto? No momento, não me sabe nem bom ou nem mau.
Shortly thereafter, li "O estrangeiro", do Camus. Gostei do livro de saída, por ser pequeno. Li de duas sentadas (levantei para o café), e no final do livro estava sentindo tudo meio leve, enevoado. Puta livro bom. De tão bom, vou esquecê-lo e ler depois de três semanas. Peguei uma vontade de não tocá-lo mais.
E depois eu li "O processo", do Kafka. Outro livro bom que não quero tocar nem com a ponta das garras do Gato. História ao mesmo tempo tão irreal e tão real.
Vou tentar parar de ler, prometo. Só coisas leves, frugais, imberbes, como Júlia e Sabrina. Hoje corri, pela primeira vez em três semanas, e fiquei muito contente por não ter perdido o meu fôlego primário antigo. Final de semana passado fodi bastante. Fui o primeiro homem de alguém, o que me deixa sempre num misto de euforia, enternecimento e cuidado.
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