Diz o ditado popular, e com um pouco de razão: mãos (e pés) frios são, muitas vezes, uma forma de concentrar o calor na parte mais importante do corpo – vísceras e cérebro.
Durante um tempo cheguei a pensar que era um descendente dos reptilianos de Orion, afinal estou sempre com mãos e pés gelados; entrei, porém, em contato com eles através do meu rádio portátil de ondas longas – através um pequeno paradoxo temporal que envolve a criação do universo, que deixo para outra hora -, para matar a charada, e desconsiderei a hipótese depois de descobrir que geléia de framboesa é altamente tóxica para eles.
Quer dizer, não estou sempre com pés e mãos gelados; isso acontece somente no inverno, em climas frios, e naquele vento terrível que sopra do sul. Qualquer arzinho frio que sopra, e eu fico todo encarangado. As mãos ficam frias e lívidas, com alguns pontinhos arroxeados. Os pés parecem ser perfurados com facas. E posso até estar suando – pouco – debaixo das roupas: as extremidades continuam frias.
A minha tendência hipocondríaca é de começar a googlear a descobrir que existe uma doença, chamada doença de Raynaud, em que justamente isto acontece: a circulação de sangue para as extremidades diminui drasticamente, a partir de fatores como frio ou estresse (ou ansiedade), deixando os dedos brancos, depois azulados (por falta de oxigênio) e depois avermelhados novamente, quando o sangue volta. Coisas do sistema nervoso autônomo.
Olhando as fotos googlicas, porém, vejo que minhas mãos e pés não se parecem muito com aquilo, então me dou o benefício da duvida e fico com fenômenos de Raynaud eventuais – ou simplesmente uma mão fria com mais freqüência. O coração continua quente, e é isto que importa.
Ou não: um experimento que virou hype, recentemente, nos mostra que tendemos a ser mais generosos quando as nossas mãos estão quentes, e tendemos a ser mais generosos com outrem quando as mãos de fulano estão mais quentes. Todo mundo sente uma espécie de aversão, mesmo que leve, por um aperto de mão frio – e se for úmido e mole, temos a pior das impressões antes mesmo de conhecer a pessoa. Eu, pessoalmente, sempre fico receoso de apertar a mão de uma pessoa quando ela está muito fria – o que, como disse anteriormente, é bem freqüente nas temperaturas baixas. Foi mais de uma vez em que botei as mãos nos bolsos, ou segurei uma caneca de chá ou café, ou mesmo esfreguei rapidamente as mãos nas calças, ao saber que teria de apertar a mão de alguém. Afinal, a primeira impressão é a que fica.
Tem dias que desejaria cumprimentar as pessoas somente com um aceno, mesmo gostando de tocar um pouco nelas.
Segurar uma xícara de chá ou café é, no mínimo, uma solução irônica para resolver o problema das mãos frias. Por quê?
Abaixo vão umas diquinhas que coligi nos últimos tempos, e outras tantas que tento utilizar no cotidiano.
A primeira (e que meu Jejujinho me ajude) é evitar a cafeína – presente obviamente no café e em certos chás. A cafeína pode ser um bom broncodilatador, mas também é um bom vasoconstritor, como muitos estimulantes. Do mesmo modo, talvez tomar Viagra esquente as mãos; alguém descubra e me envie.
O mesmo vale para o cigarro: evite pelas mesmas razoes do café.
O velho chá de gengibre – e o gengibre mesmo, em suas várias formas – dá um calorão muito bom. Gingko biloba, aquele que aumenta o fluxo de sangue no cérebro e ajuda na memória, também pode ajudar. Cuidado com as interações com outros medicamentos.
Alimentação com boas quantidades de ômega 3 e fazer exercícios é bom, mas o engraçado é que exercício demais tende a fazer com que o sangue vá para os órgãos vitais, fora do tempo do exercício, do que exercício moderado.
Siga o conselho da mamãe e coma bem e com freqüência.
E o bom e velho vestuário. Como diz a Sonia, bote uma faixa de um tecido quentinho nos quadris que espanta qualquer friagem. Como o seu problema, amigo, não é no centro, mas nas pontas, apele para as luvas e meias. Se você é como eu e sente que a luva somente embala uma mão já fria, saiba que em algum lugar do mundo existem luvas hi-tech (fibras de prata e o quatrilho) que prometem reverter a entropia e trazer o calor de volta – mesmo que isso também envolva um certo paradoxo temporal e quebras das leis da física.
Mas você quer, na verdade, um consolo? Experimentos mostram que os ratinhos frios vivem mais que os ratinhos quentes. Isto, porém, fica para a próxima.