domingo, 15 de março de 2009

No sul do Brazil

De certo modo, fui um brasileiro criado à moda antiga.

Não chego ao ponto, porém, de ter nascido em uma fazenda e ter adotado como município pátrio o mais próximo possível - a fazenda era no man's land - como meu pai.

Nasci em um hospital municipal muito bem preparado, três graus de latitude acima do trópico de capricórnio.

Também não trabalhei na roça, como meus avós, tampouco tive outra língua - italiano, alemão - como língua materna. Não tive metade dos meus irmãos menores morrendo de meningite ou influenza ou quetais, como meus bisavós.

Mas comi muita goiaba verduranga, e perdi a fome pro almoço comendo muita ameixa amarela e azedinhas, aqueles trevinhos de três folhas.

Ralei um terço do meu corpo em muros e árvores. Corria no meio da rua, no ar fresco da noite. Minhas primeiras leituras foram gibis. Aprendi a fazer bernunça com lixo no colégio, e vi boi com cabeça de mamão. Tive medo da caipora, e pesadelava com bichos escondidos no mato de casa. Dei nome para uma vaquinha, chorei a morte de um filhote de ganso que haviam me presenteado.

Mas não cheguei a cantar a ratoeira, tampouco saí de bateira para colher marisco.

E um dos primeiros livros que li foi "Reinações de Narizinho". Para contrabalançar, porém, um dos segundos - perco a noção ordinal - foi "O Guia do Mochileiro das Galáxias".

Reflexões inspiradas pela "descoberta" do çaite do Millôr, o maior pensador do Méier entre 29 de janeiro a 18 de agosto de 1997, e o de Rubem Alves.

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