quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Enternecimento... adormecimento.

E esta vontade, este desejo cravejado no mais cristalino do coração de cada um, de ser redimido, de ser salvo, de ser reconfortado.

Quando eu era mais novo - e isso não quer dizer muito mais novo - eu sentia algo, em alguns momentos, que chamava de "enternecimento", por falta de nome melhor. Enternecimento ele é; uma sensação de conforto, ternura, acolhimento, que me acometia de vez em quando nas situações mais inesperadas. Uma vez a minha vó, de visita aqui, me trouxe trouxinhas de doce-de-leite. Outras, depois de uma atividade física, sentindo o frescor do sangue. Outras, no colo de alguém amigo, recebendo cafunés.

Percebi, faz pouco tempo, que procuro por estes momentos, como se fossem cruciais para mim. Os momentos em que me enterneço.

E passamos a viver esperando por salvação - ou enternecimento - ou por amor.

As promessas são muito parecidas. O fogo inextinguível do amor, aquele que se encontra no olhar de dois apaixonados - e a promessa de que este fogo vive "dentro" de nós, jogado em um canto esquecido. A promessa do Cristo que diz que "você amará!": você não ama agora, você não vive neste Reino dos Céus, mas sim, você amará - mesmo sendo quem você é, agora. A aposta de salvar-se, de encontrar um acordo, uma harmonia com qualquer coisa maior que si mesmo; a tentativa de fazer este algo maior do que si mesmo.

Não é maravilhoso poder ouvir uma voz paternal que possa te dizer que tudo está bem... ou sentir o calor maternal que mostra que você nunca está longe de casa?

Mas e a vida, esta vida que nos traz nossos prazeres e dores diários, esta vida que pode acabar virando a espera da promessa? E se a promessa calha de não vir, o que há de errado?

É difícil viver sem sonhar, sem esperar. Dizem que despertar - despertar de viver a vida assim, sonhando consigo mesmo - é preciso. Viver não é preciso, se for sonhando. E agora?

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