domingo, 11 de fevereiro de 2007

Lambuze-me

Atenção, todos vocês: descobri ontem que o alimento que se conserva por mais tempo é o mel. Foram encontrados potes, em sarcófagos egípcios, com um tanto de mel, ainda consumível - um tempo atrás. Provavelmente então o mel foi encaminhado à Sotheby's, e uma pessoa de l'argent enfeitou o seu pão nosso de cada dia da Polaîne com camadas douradas egípcias.

Ou ela fez como eu e o velho de Marquez, no "Memória de minhas putas tristes": fez um café forte e Bom, e adoçou-o com o mel - sem a "tapioca" do velho, necessariamente.

Eu tomo mel todo dia, desta forma, religiosamente prazerosa, meu paraíso profano. Será que o mel tem uma virtude conservativa, exatamente por se conservar tanto? Será que ele vai me fazer viver mais, ficar mais conservado, enquanto envelheço na soleira da minha casinha de madeira, sentado perto da grama salpicada de sereno, tomando café e observando o mundo desfilar à minha porta? Bem que eu podia viver numa época em que as coisas se davam desta forma: havia "forças" e afinidades entre as coisas, definidas por suas características. (Tenho em mente o livro do Eco, "A ilha do dia seguinte".) Hoje, o mel é apenas um adoçante, e quando muito tem suas propriedades anti-sépticas e anti-inflamatórias.

Mas ainda penso que daqui a pouco ele vai perder o posto de campeão na sua virtude conservativa. Nunca se sabe onde a indústria alimentícia terrestre do século XXI e além pode nos levar. Creio que não é preciso ir muito longe: não é característico dos contos e historietas pós-modernos o personagem principal, jovem urbano, encontrar uma bolacha, daquelas suas favoritas, debaixo da almofadona do sofá, e comê-la, para desespero de sua mãe fluminense, d. Alcina?

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