quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Primavera

Pequenas considerações, depois de dias e mais dias (de chuva; não é surpresa na primavera florianopolitana).

Primavera úmida. É um prazer sazonal rever os aromas fragrantes das flores, do mato árvores e terras vermelhas e escuras. Prazer diferente, não menos indiferente, senti-los quando mais uma onda polar sobe do altântico sul, e em seu primeiro dia, uma viscosidade fria subir as ruas e mangues e mares; desta vez, porém, é olorosa, e é verde. Parece que as plantas e a terra carregam tanta água dentro delas!

Em breve, porém, veremos as folhas queimadas do verão, o cheiro de cascas e essências enquanto as madeiras estalam em alguns dias mais secos.

Hoje já peguei sol, e estou rosadinho como um camarão ao bafo.

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A água para o café, como se sabe, não deve ser fervida. Aliás, café que não seja novo, dentro de meia hora vira um líquido preto de gosto horrível e de péssimas consequências para o seu organismo, seu João. Sim, senhor. Café recém-feito é um bálsamo; fora isso, uma merda.

Descoberta minha recente foi o café turco à moda de Danijel, (o marido croata, se não me engano, da Mariana), que é um parente próximo do café cabeludo. O cabeludo é um café emergencial, para os dias sem coador ou qualquer meia velha que preste. Uma colher de sopa de café moído para cada xícara grande de água (que, pito e repito, mineral); bote a água em uma panelinha para esquentar. Naquele ponto clássico, em que a primeiras bolhinhas ameaçam juntar-se e encher de bolhonas a sua água preciosa, jogue o café, misture e desligue. Deixe decantar o restolho por uns três minutos. Eis o café cabeludo.

A variação turca é, depois destes minutinhos, ligar o fogo novamente; quando começar a borbulhar nos cantos, do lado da espuma formada anteriormente, desligue, sirva e tome.

Dizem que os turcos fizeram panelinhas altas especiais para cozinhar o seu café, mas em teoria qualquer panelinha serve.

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A editora Via Lettera lança, depois de anos sem quaisquer edições, Watchmen, a história em quadrinhos (nome horroroso) "de" Alan Moore. Fui um guri que lia muitas hqs quando 13, 14 anos, para desgosto para o bolso dos meus pais (são carinhas, as meninas). De Watchmen li umas duas edições de doze, o que me convenceu de que era a melhor que poderia ler, ou mesmo existir. Recomendo para todos a história de um mundo onde os "super-heróis" realmente tiveram algum impacto, em vários sentidos. Ou até hoje você não se perguntou o porquê do Super-Homem acabar com a fome no mundo em menos de três semanas?

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E Fernandinho Beiramar aqui em Floripa, justamente na própria Beiramar, numa das vistas mais bonitas. Ólhólhó. Não creio que ele tenha "vista" alguma, mas, recebendo visita da namorada, comendo o bacalhau que ela trouxe, e jogando uma bolinha na sede da Polícia Federal, não veria razão para sair daqui tão cedo.

Dona Ideli negocia, na nossa capital federal; enquanto isso...

Os mau-intencionados já falam dos pedestres e dos cooperistas que fazem grupinhos na calçada, e dos motoristas que passam em primeira marcha, defronte à PF, esperando talvez ver a cara dele na janela? Como apreciador da Beiramar, ainda não fui testemunha; mas não me estranha a curiosidade popular.

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Comprei o Ulisses, do Joyce, na tradução nova da Bernardina, pela Objetiva. Foi um dia muito feliz, depois de meses de namoro silencioso.

Estou lendo, entre as várias coisas que estou lendo, um livrinho interessante, que não precisei namorar muito não: foi na hora. O julgamento de Sócrates, por I.F. Stone, um jornalista que não conhecia, defensor ferrenho, ao que parece, da liberdade de expressão popular. Nos últimos dez anos de vida, depois de aposentado, voltou-se aos estudos filosóficos que haviam lhe chamado a atenção na juventude; por fim, fez um relato "jornalístico", baseado em várias fontes da época, do famoso julgamento de Sócrates, 2400 anos atrás. Muito, muito, muito interessante: é excelente ver esta história contada por alguém que não seja um filósofo, especialmente socrático.

E sempre acabo voltando para Hannah Arendt.

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