sábado, 20 de agosto de 2005

Incêndio no Mercado

Saindo da aula que eu não tive, sexta-feira de manhã. Acabado de ler uma matéria da CartaCapital sobre a bomba A de Hiroxima e Nagasaki. As mesmas histórias, os mesmos horrores relembrados quando fazem aniversário, para sensibilizar a memória de curto prazo das novas gerações.

Hiroxima é um horror tão grande que nunca pensei muito sobre o assunto e, quando penso, ou tento pensar, sinto os pensamentos escorrendo pelos ombros e indo embora. Guerra é guerra, e já se matou muito mais em uma ou tanta; o que pega é aquele mesmo papo, muito em voga nos anos 80, de que "pela primeira vez na história da raça humana podemos nos exterminar, aniquilar, desaparecer completamente por um produto de nossas mãos".

Carl Sagan, a cara dele. Ele dizia que essa é a nossa prova de maturidade: nossa espécie se dar conta disso. Depois, somente as estrelas.

Passei por trás do templo ecumênico, 8 e 40 da manhã. Olhei pro céu e, atrás dos pinheiros, atrás do morro da Serrinha, uma coluna de fumaça erguia-se. A lua cheia fica muito bonita atrás dos pinheiros, nas madrugadas de outono. A fumaça era branca, em cima, ficando mais cinza e mais estreita perto do chão, uns 700 metros totais de altura. Pensei que era uma queimada gigantesca no morro.

Só na hora do almoço fui descobrir que vi, de primeira mão, a fumaça do incêndio no Mercado Público. Minha irmã chorou; ela tem uma paixão por aquele prédio. Eu só lamentei a ignorância, mesmo. A fumaça preta era o resultado do incêndio de 68 lojinhas que vendiam entre roupas, vime e calçados baratos. Plástico e derivados de petróleo amontoados em um mezanino de mais de um século de idade. Parece que tudo começou numa lanchonete.

Na tevê, foi a cena mais manezinha que eu vi. Um cara de uns 50 e poucos anos, sotaque e camisa aberta de pescador, saudável e vermelho de sol, correndo pelas ruas, ajudando os bombeiros a trazer as pesadas mangueiras, que mal davam conta do recado. Prédios próximos foram percorridos em busca de mais mangueiras e extintores.

Ontem de madrugada passei pelo lado do mercado; ainda havia fumaça.

0 comentários: