sexta-feira, 18 de março de 2005

papel jornal

Tentar escrever os postes deste blogue em papel jornal para depois digitá-los nos computadores da graduação mostrou-se um plano falido.

A minha relação com o papel é absorvente, sem nenhum duplo-sentido: se me sento para escrever trivialidades bloguísticas, como as que escrevo aqui, sempre acabo indo muito mais do que penso ir. Saem textos de três páginas, frente e verso, que nenhuma pessoa normal gostaria de ler para se distrair, num começo de tarde quente, como a de hoje.

No último, por exemplo, cheguei à conclusão (nada original) de que Deus foi criado para o mundo mítico ser esvaziado, um espaço mental eveterno e seminfinito ser criado, e assim o abismo entre tudo e nada ser continuamente forrado com idéias, suas combinações, direções espaço-temporais de deslizamentos e cadeias serem invertidas e submetidas à vontade... enfim, palavras são palavras.

Lacan me semenlouqueceu, praticamente. Descobri e identifiquei três nós do desejo em mim mesmo; um deles tem a ver com o fato de que eu tenho a impressão vívida que tenho que achar a verdade filosófica. Imaginem a minha cabecinha, então, quando começo a pensar na pópó mómó, a pós-modernidade, no querido epíteto que meu amigo deu, em seu blogue.

Encontrei um pouco de ar fresco na fenomenologia, que nada explica, e bota o pensamento no lugar que merece.

Mas o que me pergunto é o porquê dos estruturalistas franceses teimarem em escrever criptograficamente. Será que a forma criptográfica é uma maneira mais direta de uma experiência metaintelectual? Será um koan com croissants? Será que eles tomavam anfetamina demais e não conseguiam parar de pensar, tentanto montar o discurso na mesma velocidade do pensamento? Será que eles simplesmente não sabiam escrever?

Dizem que Lacan, nos seus últimos anos de vida, final dos 70 e início dos 80, quase que não falava mais. Desenhava seus místicos grafos e nós, em padrões tão sinuosos e complexos quanto aos mais calidoscópicos tapetes persas. Dizem que em um deles, o Derradeirô, esconde-se a Resposta para o Universo, a Vida e Tudo o Mais.

Estou lendo também Mil platôs, do Deleuze e do Guatari. Muito divertido, e é somente isto que tenho a dizer.

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Encontrei no sebo o livro que esperei por uns bons três meses: Erica Jong, Medo de Voar. Maravilhoso. Recomendo a quem quiser a minha recomendação. Muito sexo, visto por uma mulher; psicanalistas comendo-se verbalmente, uma história complexa e gostosa, da qual não se ouve nem o mínimo, e sempre se volta pra um pouco mais do que já se passou.

Estou com vontade de ler mais erótica do ponto de vista feminino. Estive prestes a comprar a coletânea recém-lançada dos contos que Anaïs Nin escreveu por encomenda do Colecionador; antes, contudo, li ela dizendo que teve que "maquiar" o seu estilo feminino e escrever mais como um homem, já que o Colecionador não queria tanta poesia, e sim meteção chupação estas coisas todas.

Então eu não quis mais. Quando eu quiser ler erótica do ponto de vista feminino maquiado, daí sei onde vou.

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Masculino e feminino. Onde quer que eu olhe mais fundo, onde quer que eu sinta mais poeticamente, onde quer que eu pense mais agudamente, acabo sempre me defrontando com os Opostos. A solução pseudo-mística dialética, frouxamente adotada pelo projeto pópó mómó de MicroVivência Experimental-Existencial, não me convence. Não dá.
É muito mais sutil do que qualquer outra sutileza.
Muito mais vital do que parece ser.

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