quinta-feira, 10 de março de 2005

mística

Procurando por Alexander Scriabin, vou parar em um site sobre pianistas famosos.

Conheço o tal de Satie.

(Já tinha o visto muitas vezes antes, mexendo nas prateleiras de cds das lojas.)

Escuto a primeira Gnossienne, lent.

Que coisa linda. Parece a minha música, desde séculos. Tenho a víviva impressão de que ela é minha.

Ainda mais que o título, Gnossiennes, remete (segundo o encarte do cdzinho) ao palácio de Knossos, em Creta. Fiz a minha pesquisa usual online e descobri que, na mesma época em que Satie compunha as tais, as ruínas de Knossos estavam sendo postas à luz.

Estou estudando, ultimamente, muita mitologia grega. Junto com ela sempre vem a história, ainda mais quando se trata de Junito Brandão, um ótimo autor. Estou fascinado por duas coisas:

- Uma reprodução fotográfica da pítia de Delfos, de acordo com as representações de dois milênios atrás, numa matéria da Scientific American. Esta fala sobre a redescoberta (a hipótese é bem antiga) de que fontes termais no subsolo délfico provocavam a emissão de gases utilizados no transe oracular. Descobriram que o templo de Apolo fica bem acima de duas falhas tectônicas, e que a câmara oculta onde a pítia sentava-se sobre um tripé recebia estes gases todos (tais como etileno).
A fotografia, preto e branco, me admirou de tal forma, que estou para colocá-la em uma moldura.

- Os Mistérios de Elêusis que, contrariamente a tudo neste mundo, ainda continuam místicos. Não se sabe, até hoje, no que se constituía os Mistérios, que duraram assombrosos dois mil anos. Elêusis era uma cidadezinha perto do mar, a 20 quilômetros de Atenas. Todos os anos ocorriam as Eleusínias; há, sim, descrições de várias cerimônias "públicas", dos preparativos reservados aos iniciados, das várias etapas de purificação, de pular no mar com um leitão no colo, este tipo de coisa. Mas era proibido, a qualquer iniciado, falar sobre os mistérios que ocorriam no telestérion, a câmara profunda. A pena para isso era, dependendo da época, a morte.

Mistério, em grego antigo, é mustéerion,ou, uma "cerimônia religiosa secreta", pois os iniciados eram chamados de mústees,ou, derivado do verbo múoo, "fechar-se, fechar (especialmente os olhos e a boca". O adjetivo "místico" também vem daí, mustikós,ée,ón; tudo relacionado aos mistérios.

O meu interesse por Elêusis nasceu, como já era de se esperar, na minha pesquisa sobre fungos. Há uma teoria (The Road to Eleusis; Wasson, R. Gordon; Hofmann, Albert; Ruck, Carl A.P.; 1978), refutada e defendida apaixonadamente, que o kúkeon, uma bebida mítica grega, tomada em jejum pelos iniciados, continha substâncias psicoativas muito semelhantes ao ácido lisérgico (o que só demonstraria que os gregos não eram bobos nem nada).

Independente disto, os mistérios de Elêusis "reviviam" a história do rapto de Koré (Perséfone) por Hades, e do resgate dela por Démeter, sua mãe. É um mito muito profundo, que vou me abster de contar aqui, do qual existe uma narrativa muito bonita no hino homérico a Démeter, cuja melhor tradução pro português que encontrei se encontra nesta dissertação de mestrado.

Aproveitem, quem quiser.

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Redux é uma expressão latina que significa "retomado". Creio que vem de re- e duco, "conduzo"; reconduzo. A etimologia é minha. Se não existir, acabei de criar uma palavra!

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