sábado, 12 de fevereiro de 2005

Barriga

Todo quebrado do acidente de ontem: perna, pé, canela, braço, pescoço, tudo doendo.

O que eu mais gosto de me machucar, porém, é o cuidado das outras pessoas, hehe. O caso típico de "vou ficar dodói pra mamãe cuidar de mim".

E elas realmente cuidam. Mães são foda.

Uma das coisas que mais me agradam e me completam nesta vida é aquele (re)descobrir das coisas simples e boas. Isso acontecia de monte em cima do tatame; eu me contorcendo de dor, tentando tirar o meu pulso dobrado num ângulo de 127 graus pondo mais força nele, pra depois perceber que um movimento de lado, ou simplesmente parar de atacar, resolveria tudinho.
Quer dizer, eu teria fracassado no meu ataque.
Ou metido num rolo todo, tentando levar o meu parceiro pro chão, e suando e suando e suando, até que o Ápio chegava com um sorrisinho irônico, e mostrava como aquilo era absurdamente simples.

"Ah, então é só isso?" Sempre é só isso.

Voltei do almoço hoje, um feijão tropeiro do caralho, com banana couve torresmo & feijão, é claro. Sentei na cadeira-rede na varanda do quintal, e fiquei ouvindo os passos do jardineiro bonitinho indo pra lá e pra cá. E fui escorregando, escorregando, até decidir-me pela rede de verdade.
A rede era tudo de bom.

Desde um tempinho venho (re)descobrindo certas obviedades, principalmente obviedades na maneira em que eu, corpo, vivo num mundo que é corpo também.

Sempre tive um controle muito grande sobre o meu corpo como um todo. Teve uma época em que me disciplinei um monte, principalmente em relação à minha respiração; o básico do aikido, um poquinho de yoga, shirshasana todos os dias, diafragma aqui e lá, espaço entre as costelas, abdômem, e além. Cantava muito mais, e melhor, do que canto hoje; mais um tanto de técnica respiratória.
Some a isto tudo o fato que sou um respirador bucal até hoje; comecei a usar aparelho móvel, mas parei na metade do tratamento. Fiz a cirurgia de septo, que quase me matou de sangria. Escutei, durante anos, os prejuízos que a respiração bucal causa à postura, à saúde, à qualidade de vida...

Pois, senhoras e senhores, o que consegui em tudo isso? Ora pois, é fácil; consegui controle (quase) total sobre a minha respiração, e descobri assim que não adianta nada. Uma oxigenação melhor do cérebro ajuda... mas ajuda no quê?
O tiro de misericórdia foi quando eu percebi que a respiração, se não é espontânea, amortece os sentimentos e as vivências. Iguala tudo. E isto, realmente, eu não queria.

A respiração é primal. É básica. Tudo o que se faz ou pensa ou vive "reflete-se" na respiração, refletindo assim na postura, na fala, no comer, no viver, no amar... e vice-versa.

Eu lá, na frente da Gabriela, pensando na vida e no que eu faço dela, e ela fala:
"Lucas, volta a respirar."
"Eu não estava respirando, Gabi?"
"Não, não estava."

Até a semana passada em que comecei a sentir um ódio tremendo de uma certa pessoa... e encorajado a continuar aquilo (mesmo que eu, na realidade, teria abstraído aquilo tudo e guardado pra mais tarde), começam a vir ondas e mais ondas de uma respiração rápida e ofegante, e mais e mais e mais e mais e mais... até que tudo pára, e pronto. Acabou. Passou.

Foi neste carnaval, portanto, que resolvi assumir a minha barriga. Isto mesmo; assumir a barriga é o bicho.

(Eita poste confuso, este!)

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